Penálti 'à Paulinho’

OPINIÃO17.01.202305:30

Será que o Benfica, mesmo sem querer, teve de pagar alguma fatura por causa da balbúrdia da semana passada, a propósito do Marítimo-Sporting?

F OI com muita esperança que o país antibenfiquista viveu este período complexo para Roger Schmidt. Algum ganho recolheram os adversários no topo da classificação, embora insuficiente para alterar o rumo da história do campeonato. Os ventos até nem começaram a soprar de feição para o voo da águia, dada a derrota em Braga, mas, contas feitas, esta até conseguiu sair com a liderança consolidada, em função do empate do FC Porto na visita ao Casa Pia e da derrota do Sporting na viagem ao Funchal.

É verdade que depois viu reduzida a vantagem pontual para os segundo e terceiro classificados, por ter empatado no dérbi, mas também não é mentira se dissermos que, se tiver o mínimo de competência, poderá voltar a ampliá-la rapidamente porque dentro de duas jornadas o centro da barafunda vai transferir-se para Alvalade, com o Sporting a receber a visita do SC Braga e pouco depois a do FC Porto.

A única conclusão lógica a extrair é a de que o grande prejudicado foi o Sporting, devido a sentir-se limitado à discussão do quarto lugar com o Casa Pia. É claro que ainda há muito caminho pela frente, mas a prudência aconselhará a concentrar as energias que restam na consecução de outros objetivos, nomeadamente o título do terceiro lugar e com ele manter aberta a porta de acesso à Liga dos Campeões.

C AIU no esquecimento o  jeito especial de Taremi para entrar na área, de que falou Carlos Carvalhal, com piada, quando o iraniano começou a ser tema regular de conversas devido à sua inimitável capacidade para arrancar penáltis aos defesas adversários. O assunto estendeu-se no tempo, com os sábios da arbitragem a cansarem-nos com sucessivos exercícios de contorcionismo para não se comprometerem. Até que, como os zunzuns seriam já muitos, num jogo da Liga dos Campeões, na capital espanhola, recebeu ordem de expulsão na sequência de uma queda na área do Atlético Madrid, classificada como simulação para tentar iludir o árbitro e influenciar o resultado. 

Se foi ou não só ele sabe, mas desde então, que me recorde, não mais foi polo de controvérsias ou apontado como inventor de penáltis. Pelo contrário, mudou de atitude, estabilizou do ponto de vista profissional e evoluiu como praticante. Pode ser que eu esteja enganado, mas o próprio Taremi terá reconhecido não precisar de truques para ser o jogador que é e continuar a fazer a diferença. Basta-lhe o seu talento natural.

Paulinho é que parece querer imitá-lo, mas não possui os mesmos argumentos técnicos. Falta-lhe o virtuosismo do avançado iraniano. No dérbi da Luz, o segundo golo leonino nasceu de um penálti por ele fabricado, como pouca mestria, porém, apesar dos sábios proclamarem o contrário, focando-se na consequência sem se darem ao trabalho de irem ao alicerce da obra.

Para mim, e disso dei conta em A BOLA TV, logo a seguir ao jogo, o Sporting  garantiu o empate com um penálti à Paulinho, e vi esta ideia confirmada quando cheguei a casa, já madrugada dentro, ao ouvir na CNN, Abel Xavier, muito sensato nos comentários que faz, dizer que «Paulinho foi muito inteligente a ganhar a posição». Assim mesmo.

É uma das frases/códigos habitualmente utilizados no futebol para transmitirem que as coisas não são como parecem ser.

No dia seguinte, ontem, portanto,  através de A BOLA, consolidei as minhas convicções ao ler os trabalhos dos jornalistas Nuno Raposo («[Paulinho] soube trabalhar para a equipa e sobretudo ser mais matreiro do que o central encarnado no lance que valeu  o segundo golo leonino») e Luís Mateus («(…) enquanto o 1-2 nasce do choque entre a inexperiência de António Silva e a astúcia de Paulinho»).

N A opinião abalizada de  Duarte Gomes, «Paulinho antecipou-se a António Silva, sofrendo toque (sublinho o toque) no pé esquerdo e coxa direita», mas não foi ao berço do problema, nem avaliou, sequer, se Paulinho queria jogar a bola ou ficar-se tão-somente pelo que fez. No entanto, teve o cuidado de referir que «apesar do aparato da queda, a verdade é que os contactos foram suficientes para carregar o avançado».  

Como é que se consegue ter essa certeza? Pela experiência de anos de atividade? Talvez, mas as cenas imediatas que puderam ser observadas naquele espaço cénico do relvado da Luz foram de aparente aceitação e serenidade em relação à primeira decisão de Artur Soares Dias, por isso o jogo prosseguiu até à chamada do VAR, o que nos conduz para outras dúvidas.

Não pelo VAR ter alertado o árbitro, está lá para isso, em princípio, mas pela estranha demora na observação das imagens e pela prolongada conversa com a Cidade do Futebol. Só por um simples toque?, pergunto. E se houve toque foi provocado pela inexperiência do defesa ou pela matreirice do avançado? Ou será que o Benfica, mesmo sem querer, teve de pagar alguma fatura por causa da balbúrdia da semana passada, a propósito do Marítimo-Sporting? Ou houve mais qualquer coisa reservada ao conhecimento dos deuses?

Seria interessante saber o que lá se disse, mas para isso é preciso acabar de vez com a lei da rolha na arbitragem.