Pedro (primeiro)

Mesmo com o Rúben Amorim, o Sporting não teria sido o que foi sem o Pedro Gonçalves

O Sporting tornou-se campeão por ter o treinador que teve (e nisso não se pode menosprezar o mérito de Frederico Varandas e de Hugo Viana na aposta em Rúben Amorim), tornou-se campeão por ter sido sempre equipa a procurar que a estrela da equipa fosse a própria equipa - mas também se tornou campeão porque nessa equipa que foi ela própria a estrela nunca deixou de andar, no seu resplandecer, a estrela do campeonato, o Pedro Gonçalves…
Thoreau disse-o na sua beleza:
— Um coração grande enche-se com pouco.
Pode ser assim na vida, raramente é assim no futebol. Nos estádios só quem se dá ao jogo com coração grande a encher-se com muito é que ganha (ou pelo menos não perde o que podia ganhar) e se esse foi sempre traço marcante do Sporting de Amorim foi também traço que em Pedro Gonçalves nunca deixou de se ver (enleante): todo o seu jogo foi (jornada após jornada) um jogo de coração grande a encher-se com muito - jogo em que ele evitava que a equipa se apequenasse ou se quebrasse,  jogo em que ele evitava que a equipa se perdesse, refém de desânimos ou  penumbras.  Mas não,  não foi só por isso que Pedro Gonçalves foi o que foi (para mim): a estrela do Sporting (apesar do Coates - que esse foi mais a sua alma), a estrela do campeonato (na perfeita metáfora do Sporting campeão). Foi-o pelos golos que marcou à desfiada (e em importância crucial). Foi-o por aquilo que ele jogou (muito para lá do que os seus pés em flor ou os seus pés em fogo iam soltando). Foi-o porque sempre que (se) via a ameaça de que o jogo da equipa se estava a transformar numa ponte de corda suspensa sobre um abismo prestes a esfarelar-se, ele pegava no seu ardor, misturava-o com o seu génio, e transformava a ponte de corda numa ponte de aço a desembocar num sorriso a alagar-se - ou,  então, aparecia (furtivo e letal) a atirar a bola para o fundo das redes e em cada vez que ela lá chegava era uma chave para o paraíso que ele dava à equipa.