Paradoxo de Teseu

OPINIÃO31.05.201904:01

André Villas Boas (futuro presidente?)

Depois de um período sabático, interrompido por algumas aventuras automobilísticas, eis que André Villas Boas regressa ao futebol, tendo já sido oficializada a sua contratação como novo treinador do Marselha. Que tenha muito boa sorte! Começo a desconfiar que só voltará ao FC Porto para ser presidente.

Mário Silva (futuro de presente)

Os dragões sub-19, que esta época já tinham conquistado a UEFA Youth League, arrecadaram agora o 23.º título do clube neste escalão. Luís Nascimento, técnico das águias, reconheceu que «o FC Porto é um campeão com mérito». Já o presidente portista declarou após a conquista do título: «Há aqui matéria prima para ser aproveitada.» Há, pois há. Mas pergunto: por quem? Seja como for, uma coisa deveria desde já ficar muito clara: mesmo que o treinador principal não o peça, a Administração deveria impor a integração no plantel dos seguintes atletas: Mbaye ou Diogo Costa, Tomás Esteves, Fábio Silva, Romário Baró, Diogo Queirós e Oleg.

Sérgio Conceição (e o passado recente)

Tanto quanto me recordo, em duas épocas completas, apenas três jogadores que passaram pela equipa B foram chamados à formação principal: André Pereira, Bruno Costa e Diogo Leite. O primeiro não tem, em definitivo, qualidade suficiente para jogar numa equipa de topo. E preferi-lo a Gonçalo Paciência é uma escolha injustificável. O segundo praticamente só jogou com o Liverpool, dando a estranha sensação de ser visto, por razões que a razão não alcança, quase como um amuleto. O terceiro foi chamado enquanto não chegou Éder Militão, mas creio que a opção inicial por ele se deveu exclusivamente ao facto de ser esquerdino, ao invés de Diogo Queirós, que o tempo provará ser mais consistente. Em qualquer caso, uma coisa parece certa: Sérgio Conceição é um treinador competente mas não é propriamente um formador.

Por outro lado, subsiste também uma situação nunca devidamente explicada, a qual se reporta ao sucedido com José Sá e Sérgio Oliveira. Custa-me a perceber, ou melhor, não percebo mesmo, como é que dois atletas deste gabarito possam passar de titulares a cedidos. Porque das duas uma: i) ou foram bem afastados, e nesse caso a sua eleição para o conjunto principal foi um erro recorrente; ii) ou mereceram a titularidade, e então não deveriam ter sido afastados.

E ainda haveremos de falar sobre a política de reforços. Para já basta sublinhar um facto. Este: em dois anos só um único reforço se impôs na primeira equipa - Éder Militão.

Folha, João Henriques e Ivo Vieira (ou uma lista crescente)

De Bruno Lage já quase tudo foi dito. Mas não se poderia omitir, sem grave injustiça, a estreia absoluta de Folha e primeira época integral de João Henriques e Ivo Vieira. E a tradição continua: num país de bons treinadores, todos os anos se aditam novos nomes à galeria dos bons técnicos.

De cabeça perdida

Li, esfreguei os olhos e voltei a ler: «O FC Porto está interessado em assegurar João Afonso, central de 29 anos que termina contrato com o V. Guimarães.» Mais incrível ainda: alegadamente para a equipa B e com contrato de longa duração! E depois ainda se admiram por nem um só - um só! -  jogador dos B ter tido lugar na equipa ideal da Liga 2!

Contra a destruição maciça

O FC Porto publicou nas redes sociais dois vídeos a despedir-se de Nélson Filipe e Telmo Pinto, jogadores que estão de saída da equipa de hóquei em patins dos dragões, a qual acaba de reconquistar o campeonato nacional. Mais parece que também Hélder Nunes vai para o Barcelona… Enfim, é desagradável deixar destruir uma equipa vencedora, mas é hóquei.

Já quanto ao futebol, as mais recentes notícias - que, infelizmente, os factos vêm confirmando - sobre o desmantelamento da equipa portista não podem ser encaradas sem a maior das preocupações. Não só pelo valor dos atletas que abandonam o Dragão mas também, e sobretudo, pela circunstância de uma equipa não ser o resultado da mera soma das suas partes integrantes. As mudanças são, assim, inevitáveis. Mas não podem, em caso nenhum, afectar a identidade da equipa. No fundo, trata-se de voltar a uma discussão já com dois milénios e que chegou até nós pela pena de Plutarco (46 - 120 d.C.), historiador, biógrafo e filósofo grego. Trata-se do chamado paradoxo de Teseu, o mítico rei fundador de Atenas, o qual pode ser sumariado como se segue: o navio em que Teseu e a juventude de Atenas retornaram de Creta tinha trinta remos e foi conservado pelos atenienses até o tempo de Demetrio de Falero. As suas tábuas originais foram entretanto sendo substituídas por novas madeiras mais resistentes, de modo que o navio se tornou um exemplo permanente para a discussão entre filósofos sobre mudança e identidade. Com tantas reformas, o navio era ainda o mesmo? Sustentavam uns que ele permanecia original, ao passo que outros defendiam exactamente o contrário. Certo é que quando Teseu voltou para casa o navio que atracou no porto não tinha mais nenhuma peça daquele que um dia havia saído dali. Ainda assim a tripulação não duvidava que se tratava da mesma embarcação. Quer dizer: se um conjunto tiver todas as suas partes integrantes substituídas continuará ainda a ser o mesmo?

(Em tempo: ainda não tenho notícias do Jamor sobre quem e como conquistou a Taça. Assim que souber, direi alguma coisa, logo se verá o quê).