Para onde vamos, vamos todos!...

OPINIÃO31.07.202107:05

Vitorino Antunes percebeu e sentiu esta sintonia e partiu deixando saudades; João Mário não percebeu ou não quis perceber que o colectivo está acima do individual

A despedida de Vitorino Antunes e a partida de João Mário são dois exemplos de que, no futebol, se está construindo um novo Sporting com um projecto definido e rumo certo.
Na verdade, enquanto Antunes, que passou uma época no Sporting, se despediu com lágrimas nos olhos de todos companheiros e adeptos, com palavras que revelam humildade e sentido de gratidão, que aliás não deixamos de registar com emoção e gratidão por quem nos serviu, vimos, por outro lado, uma saída arrogante e pouco transparente, de alguém que foi formado no Sporting Clube de Portugal, mas que não deixou qualquer sentimento especial, para além da indiferença. Com efeito, bons jogadores há muitos como João Mário; mas bons jogadores com carácter e fieis a um projecto já são bastante menos!...
João Mário foi apenas um acidente de percurso, uma peça que não se enquadrou numa equipa sem vedetas, nem vedetismo, que colocou acima de tudo o clube e uma cultura de vitória, fruto da mentalização do seu líder de que a guerra se ganha vencendo batalha a batalha! João Mário partiu: boa viagem. Antunes deixou-nos com tristeza, mas orgulhoso, e os sportinguistas desejam-lhe felicidades no seu novo/velho clube.
O Paços de Ferreira recebe um homem e um jogador; o Benfica recebe um jogador para dar classe à equipa, coisa que, segundo Jorge Jesus, faltaria à equipa não obstante os milhões investidos!
Quando ambos voltarem a Alvalade sentirão certamente os sentimentos dos sócios e adeptos do Sporting. É fácil ser jogador titular; é muito difícil estar no banco dos suplentes e lutar pela vitória com o mesmo empenho daqueles que estão lá dentro. É a diferença entre o jeito com que se nasce e o carácter que se possui ou conquista!
Lembro-me bem de um homem que, infelizmente, não se encontra vivo, e que mais me ensinou sobre os meandros do futebol: o treinador António Morais. Quando ele veio para o Sporting eu era o vice-presidente com a responsabilidade do Departamento de Futebol. E, logo numa das primeiras conversas que tivemos, eu disse-lhe que não gostava nada de ir para o banco pois não apreciava o futebol observado daquele local: só via pernas! Como ele sabia da minha frontalidade, respondeu-me de igual forma, chamando-me a atenção de que a minha presença no banco nada tinha a ver com os meus gostos, mas com a responsabilidade das minhas funções dentro do grupo e nas minhas relações com o exterior. E acrescentou que para se conhecer bem o grupo de trabalho e o ambiente que se vive é indispensável estar no banco, observando os jogadores suplentes, no seu comportamento e reações!
Como ele tinha razão! Ganhei tais conhecimentos sobre a personalidade de alguns jogadores que, mesmo não assistindo às palestras antes dos jogos, quando os via sair da sala onde ela acabava de ser proferida, eu fazia a equipa que ia jogar!...
 

Antunes deixou o Sporting e vai rumar ao Paços de Ferreira. A despedida de Alvalade foi emocionante


Anos mais tarde, voltei a estar no banco e novamente constatei como é importante estar no banco ou, pelo menos, perto da equipa. Foi novamente uma grande e enriquecedora experiência que muito me serviu para, na época passada, nem precisar de estar no banco para perceber o que se estava e está a construir: um tempo novo que pode merecer ajustamentos, mas nunca desvios.
Na verdade, sem público nos estádios, o foco das televisões para além do jogo, e, às vezes, com mais importância que este, virou-se para os bancos por boas e más razões.
Não sei se todos viram o que eu vi através da televisão. Na falta de público, os adeptos estavam no banco, transmitindo o que todos sentíamos em nossas casas; a maneira como saudavam os golos, designadamente aqueles dos últimos segundos, era uma expressiva demonstração do sentimento que nos unia.
Vitorino Antunes percebeu e sentiu esta sintonia e partiu deixando saudades; João Mário não percebeu ou não quis perceber que o colectivo está acima do individual, e que ninguém é insubstituível. Rúben Amorim, de uma forma simples, mas forte, explicou que o Sporting perdeu jogadores, dos melhores do mundo, e não acabou por isso, nem acaba, antes pelo contrário.
Só corre esses ricos quando se desvia dos princípios e valores que nortearam a sua fundação e desenvolvimento nestes mais de cem anos de vida. Ninguém é símbolo de nada; símbolo é apenas o leão!
Sem razões para euforias, mas com fortes motivos de confiança num projecto colectivo, recomeça hoje o jogo a jogo! O de hoje significa uma taça, ou melhor, uma supertaça. Na próxima sexta-feira recomeça o jogo a jogo de trinta e quatro com vista a outro objetivo, sem esquecer a Taça de Portugal e a Taça da Liga e, sobretudo, a Liga dos Campeões.
 Será uma época muito mais exigente e difícil. Mas este grupo de trabalho liderado por Rúben Amorim merece toda a nossa confiança, pela simples razão de que tem um projecto e um rumo de que se não desvia!
Não vamos para onde um foi por opção individual. Como colectivo do Sporting Clube de Portugal, para onde vai este vamos todos!