País funciona
Na detenção de Bruno de Carvalho vi um país a funcionar. Os jornalistas usaram direitos para cumprir deveres, filmando, interrogando, divulgando. Foram criticados, como habitualmente, e é nessa crítica que centro este texto, dividindo-o em três reações que pude com agrado constatar.
Primeiro, o advogado José Preto falou menos que nas ocasiões nas quais isso lhe dava jeito. Convenhamos, é uma estratégia a que tem todo o direito.
Segundo, a irmã, Alexandra Carvalho, demonstrou enfado, sim, mas com uma educação a salientar; e mesmo uma ou outra reação mais intempestiva veio, afinal, de alguém que não estava detida nem a trabalhar, estava a visitar na prisão alguém de quem seguramente gosta. Por isso me parece aceitável entender, nela, indisponibilidade para conversa.
Terceiro, a reação dos apoiantes do ex-presidente do Sporting, que chegaram a forçar um cordão para atravancar o acesso dos jornalistas a quem saía do tribunal. Ridículos. Ridículos só nisso, compreenda-se, não na manifestação com eco nacional permanente de uma opinião que, em quase todos os casos assim mo pareceu, era assumidamente incondicional, ideia que, seja em que sentido for, me parece sempre mal construída e infantil. Mesmo assim tiveram direito a partilhá-la! No que foram, então, ridículos, foi só nesse ataque aos jornalistas, na tal forma como tentaram prejudicar-lhes o exercício. Hoje, como anda o mundo, em muitos países talvez aqueles apoiantes nem pudessem estar ali, talvez a polícia os tivesse afastado; mas se tal tivesse acontecido seriam os jornalistas a perguntar imediatamente aos polícias porquê. A não ser que os repórteres, pois claro, já não estivessem por lá também, pois nesse caso ninguém o saberia.
É no choque evidente, deliberado, dos nossos direitos que Portugal funciona.