Outra versão do clássico

OPINIÃO16.09.202114:12

Sporting foi superior ao FC Porto em Alvalade mas foi muitíssimo inferior na jornada europeia. Finanças contam, mas a cultura de clube também

C LÁSSICO, em Alvalade, 5.ª jornada da Liga: o Sporting recebe o FC Porto. O resultado final é um empate a uma bola mas os leões conseguem ser superiores na maior parte do jogo em vários parâmetros: na posse, no controlo do espaço, nas oportunidades; primeira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões: o Sporting é cilindrado em casa pelo Ajax e o FC Porto equivale-se ao Atlético Madrid na capital espanhola, ficando muito perto da vitória. O que explica a diferença de comportamentos? Além dos adversários, naturalmente, é a consistência de cada equipa/clube. E isso não se conquista de um ano para o outro. Os dragões demonstraram, mais uma vez, o famoso ADN Champions, uma espécie de aura que acompanha o percurso dos azuis e brancos, independentemente do valor individual dos elementos em campo. O maior mérito que se pode dar a Sérgio Conceição é o de conseguir apresentar, ano atrás de ano, uma equipa competitiva com jogadores abnegados, é certo, mas muito longe do talento de um Deco ou de um James Rodríguez - e face ao estado deficitário das contas da SAD, não é crível que cheguem ao Dragão produtos premium de outras eras.
O que o FC Porto tem a mais na Champions (história, experiência) tem o Sporting a menos. Sob o apertado controlo do fair play financeiro e com apenas uma contratação (Vaná), o primeiro ano de Sérgio Conceição no FC Porto foi um sucesso, também na UEFA; já o batismo de Rúben Amorim e da maioria dos jogadores leoninos na principal competição de clubes da Europa foi um filme de terror. É (ou será) Rúben Amorim pior treinador que Conceição? Não, claro que não. Mas está num contexto diferente. E não causará estranheza se os encómios vierem a dar lugar às críticas. Porque, é bom dizê-lo, este Sporting vai passar por enormes dificuldades neste grupo. O Ajax tem talento e estofo europeu  e o Dortmund continua a ser um rolo compressor - resta o Besiktas, com quem provavelmente os leões terão de lutar pelo terceiro lugar.
Não acredito ser cedo demais para o prognóstico, por um motivo simples: ao campeão nacional falta quantidade na qualidade. É em jogos desta envergadura que se nota a falta de um líder como Coates ou a classe de Pedro Gonçalves, além da perda de vertigem e pulmão na ala esquerda após a saída de Nuno Mendes - Rúben Vinagre está longe, para já, de criar tais desequilíbrios e Matheus Reis evidencia defeitos que se tornam flagrantes à medida que sobe a exigência competitiva.
Foi uma escolha de Frederico Varandas motivada pelos problemas financeiros que vêm de trás. O prejuízo de €33 milhões plasmado no último relatório e contas anual faz adivinhar a necessidade de continuar a vender no futuro próximo e comprar pouco (na maioria dos casos, barato, à exceção de um ou outro Paulinho), o que obrigará o treinador a manter uma equipa ganhadora mesmo com menos recursos, comparativamente à concorrência (interna e externa). Amorim provou na época passada que consegue erguer a equipa após um desaire europeu (LASK Linz), mas fê-lo sempre dentro de portas. O maior desafio é aquele que se coloca às grandes equipas: saber cair.