Outra final inglesa?
Liverpool sofreu mas já aguarda rival para Paris. Se for o City, é a terceira final inglesa em quatro anos (!). Se for o Real, passa a ser a final mais disputada: três vezes
TRÊS é a conta que esta Champions fez. Com a qualificação do Liverpool para a final, ontem, em Villarreal (3-2), num jogo que chegou a estar muito tremido, o duelo do Stade de France a 28 de maio terá sempre a ver com o número três. Se o adversário for o Manchester City, teremos a terceira final totalmente inglesa nos últimos quatro anos, depois do Liverpool-Tottenham de 2019 e do Chelsea-City de 2021.
Caso contrário, teremos uma terceira final entre Liverpool e Real Madrid (depois de 1981 e 2018), o que acontece pela primeira vez na história da competição (há oito finais repetidas). Mais. Se o Madrid ultrapassar hoje o City, a final de Paris terá no banco os dois treinadores mais vezes finalistas na Champions: Carlo Ancelotti (cinco), e Jurgen Klopp (quatro). Voltando ao jogo de ontem em Villarreal. Liverpool ausente e desinspirado numa grande primeira parte do submarino amarelo, justamente premiada com dois golos; depois, um Liverpool avassalador numa grande reação marcada pelas exibições de Luis Díaz (rendeu Jota ao intervalo) e de Alexander Arnold, que teve artes de se redimir da péssima primeira parte. O Liverpool chega à sua décima final com seis vitórias fora sobre adversários latinos (FC Porto, Atletico Madrid, Milan, Inter, Benfica e Villarreal), numa época fantástica (43 vitórias e 139 golos em 57 jogos!) que ainda pode produzir um poker inédito para o maior clube inglês.
O duelo de hoje no Bernabéu promete. Há uma semana, em Manchester (4-3) as duas equipas rivalizaram em erros defensivos primários e ofereceram-nos um fartote de golos raríssimo numa meia-final da Champions. Foi muito bonito mas, ao mesmo tempo, um pouco preocupante. Um campeão europeu não pode defender assim tão mal. Estranhei sobretudo a permeabilidade do City, já que no Madrid essa lacuna faz quase parte da identidade da equipa. Julgo que o City é mais equipa e apresenta um futebol mais elaborado e sofisticado. Vejo-os marcar tranquilamente dois ou mais golos no Bernabéu, já que esta defesa merengue não inspira confiança nenhuma (saudades de Pepe e Ramos, não é verdade hinchada?). Mas também vejo o Madrid, com a sua inigualável aura europeia, desmontar a defesa do City graças à classe dos tetracampeões europeus Karim Benzema e Luka Modric, dois executantes fabulosos (Guardiola não tem nada que se pareça com eles), e da velocidade e repentismo dos brasileiros Vinícius e Rodrygo.
O City parte na frente. A presença na final há de decidir-se por aquilo que as equipas conseguirem fazer no relvado, obviamente; porque no resto - história, currículo, aura - não há comparação possível. O Madrid é o maior clube europeu e o dominador absoluto da Champions, com 13 títulos, 16 finais e 31 meias finais. Nesta competição o City, ao lado do Real, faz figura de pigmeu. Não tem títulos, não tem história nem peso e (como o primo Paris SG) ainda não conseguiu passar do estatuto de eterno candidato apesar dos mais de 1500 milhões de euros investidos na última década pelo emirado árabe Abu Dhabi. O mais perto que os jogadores do City estiveram da famosa orelhuda foi há um ano no Estádio do Dragão, quando observaram os atletas do Chelsea a erguer o troféu.
É verdade que não há mal que dure sempre e isso também vale para Pep Guardiola, que anda a tentar ganhar a Champions desde o bis com o Barcelona em 2011. Como é verdade que não há nada tão certo e duradouro como a relação de amor do Madrid com a taça dos clubes campeões europeus: enamorados desde 1955.
PS - Aos 37 anos, Cristiano Ronaldo chega aos 30 golos (24 pelo United, 6 pela Seleção Nacional) pela 13.ª época consecutiva. É um feito notável de um jogador absolutamente extraordinário: a sua inesgotável veia goleadora (vai com 813 golos and counting) é um capítulo único na História do futebol. Nunca haverá outro como ele.
Depois do 2-0 em Inglaterra, o Liverpool celebrou ontem vitória por 3-2 em Villarreal
A FESTA DO FC PORTO
...SERÁ muito provavelmente feita no estádio da Luz, dada a diferença atual entre as duas equipas (que a diferença de 14 pontos expressa impiedosamente) e o desanimador histórico benfiquista no novo Estádio da Luz frente ao rival nortenho. Em 18 clássicos, apenas 4 triunfos do Benfica, contra 7 vitórias portistas e 7 empates (em golos: 16-19). Para agravar o cenário, o Benfica soma oito clássicos e mais de três anos sem conseguir ganhar ao FCP (última vitória: 2-1 no Dragão a 3 março 2019, com Bruno Lage no banco e golos de Félix e Rafa; desde então, seis derrotas e dois empates). Seria, portanto, uma surpresa se o FC Porto não conseguisse no sábado o ponto que lhe falta para festejar o título.
Não que o Benfica não tenha jogadores para fazer um brilharete. Tem, como atesta o recente triunfo em Alvalade. A questão é que o FCP não pode correr o risco de chegar à última jornada com questão pendente. E aí entra a questão da mentalidade, da determinação, do estofo competitivo. Capítulos onde o FC Porto tem demonstrado ser muito superior ao Benfica. No entanto, nada está escrito. Pode ser que os adeptos encarnados consigam festejar algo na despedida caseira de uma época falhada: uma vitória sobre o FCP ao fim de tanto tempo.
A MARCA DE AMORIM
OSPORTING conseguiu o segundo objetivo mais importante da época, a qualificação automática para a Champions, o que acontece pela segunda época consecutiva. A goleada ao Gil Vicente valeu um encaixe milionário de cerca de 35 milhões e mais um recorde ao 51.º jogo da campanha: é a primeira vez na história que uma equipa do Sporting chega às 37 vitórias numa época (percentagem de êxito de 72,54), tendo Rúben Amorim suplantado o anterior máximo de Jorge Jesus, que conseguiu 36 vitórias em 51 jogos (72,54%) em 2015/2016.
Jogo após jogo, Rúben Amorim reforça a sua marca num clube que estava desportiva e financeiramente em cacos quando foi apresentado a 5 março de 2020. Poucas vezes na história do futebol português a simples contratação de um treinador terá alterado tanto, em tão pouco tempo, a fisionomia de um clube e a correlação de forças existente à altura. O all in de Frederico Varandas deu mesmo jackpot (ruído de moedas a tilintar).