Os nós da química
1 A primeira vez que vi jogar Ricardo Quaresma foi em agosto de 2000, tinha ele 16 anos e foi num torneio da ilha de Jersey, a meio do Canal da Mancha, com Sporting B, Benfica B, Blackburn Rovers e uma seleção local constituída por senhores cheios de boa vontade mas cujo talento para o futebol estagnou quando tinham cinco anos. Quaresma jogou a extremo esquerdo e o lateral direito adversário, além de ter o dobro da idade, verifica-se que tinha uma relação profícua com o prato. No meio duma bancada repleta de ingleses - Jersey é território britânico - a quem o almoço tinha corrido visivelmente bem em termos líquidos, vi Quaresma tocar pela primeira vez na bola; enfrentar o inglês de frente, dar três reviengas e deixar o homem de gatas no chão. O inglês, na sua generosidade futebolística, levantou-se, abordou novamente o menino, mas este não teve dó e deu-lhe um nó que o deixou outra vez no chão. No alto da arrogância dos seus 16 anos, Quaresma saiu do lance com aquele seu meio sorriso triunfal, perante o gáudio das bancadas face ao talento esfusiante do menino. Passaram-se 20 anos e juro que desde o confronto cibernético entre o rei das trivelas e o líder do Chega que esta jogada não me sai da cabeça.
2 Frederico Varandas disse na entrevista à SIC que, perante a crise que está aí à porta, vai tentar desatar o nó do Sporting recorrendo cada vez mais à formação. Quase todo o discurso do presidente dos leões fez sentido mas parece sempre faltar ali qualquer coisa. Muitos atores, no percurso que fazem até conseguir papéis em filmes ou séries de renome, uma das últimas etapas passa por um teste de química entre os principais protagonistas para se verificar se são empáticos - podem ser ambos muito bom tecnicamente mas a coisa não funcionar. Parece-me que Varandas ainda não passou no teste de química com os adeptos leoninos...