Os jogos do fim do Mundo e eu
Como estão pelos cabelos com o fim do Mundo e eu, com pena minha, nada de bom tenho para vos contar sobre o fim do Mundo - à partida é um assunto desanimador, convenhamos - vou antes escrever-vos sobre a minha relação com esse fim do Mundo.
Aprecio o fim do Mundo, adianto. Apesar dos meus quase 40 anos sou um daqueles adultos que jogam em consolas, com predileção por jogos pós-apocalípticos. É assim desde a adolescência. O fim do Mundo atrai-me o imaginário.
A grande responsável é a série Fallout, na qual passei centenas de horas enfiado numa armadura robótica viajando por uma América aniquilada pela energia atómica, procurando sobreviver numa wasteland que me absorveu de forma inesquecível - para quem não conhece o estilo, é como ler um grande livro: fica aquela sensação de viagem, de que se foi ali e fez aquilo.
Podia referir outros títulos do género, claro, como Metro, baseado na obra do russo Dmitry Glukhovsky, que imaginou uma melancolia apaixonante: uma Rússia destruída, com pequenos focos civilizacionais nas ruínas e túneis do metro. Ou elogiar o The Last of Us, no qual procurei curas para uma sociedade perdida, enquanto resolvia problemas quase literários e, ao mesmo tempo, combatia criaturas canibalescas infetadas pela mutação de um fungo. Ou o Death Stranding, do japonês Hideo Kojima: um mundo consumido por aliens no qual fui um entregador de encomendas, preservando hábitos e objetos em parte esquecidos pela humanidade restante.
E depois de tantos anos a jogar a coisas destas, nada me treinou para o agora. Porque o agora não é o fim do Mundo, é por isso. Vamos resistir primeiro, ganhar depois. Fiquem em casa.