Os bons ‘feelings’ de Bruno Lage
Terá Bruno Lage arriscado demasiado em Istambul? Talvez. Aliás, terão sido poucos os benfiquistas que não torceram, duplamente, o nariz nos dias que antecederam o jogo com o Galatasaray. Primeiro quando perceberam que Grimaldo, Pizzi e Jonas - curiosamente ou não (porque pode até servir para perceber um pouco melhor como mudou o Benfica e, também, o estado de espírito dos adeptos encarnados, nos últimos tempos) até mais pelos dois primeiros… - ficariam em Lisboa por preferir o treinador gerir a sua condição física para as batalhas que se avizinham; depois quando, conhecido o onze, voltaram a ouvir falar de Corchia (que até quinta-feira passada parecia não servir, sequer, para um jogo da Taça de Portugal contra uma equipa do Campeonato de Portugal) ou perceberam que a conversa da formação é, com Bruno Lage, muito mais do que uma fábula: Florentino a titular, prova mais evidente de que o novo treinador não aposta nos miúdos apenas por necessidade (Ferro entrou após lesão de Jardel) ou porque são tão talentosos que se torna difícil perceber como outros não o tinham visto antes (João Félix, pois claro). Se a isso juntarmos a titularidade de Yuri Ribeiro, Salvio, Gedson e Cervi - menos surpreendentes face aos nomes que tinham ficado fora da convocatória - a resposta é evidente: demasiado ou não, arriscou muito Bruno Lage, é um facto. Ou, pelo menos, arriscou mais do que seria esperado por quem está de fora e tem, goste-se ou não, direito a opinião sobre estas questões do futebol em todos somos experts.
A verdade, contudo, é que ninguém sabe mais de uma equipa do que aqueles que com ela trabalham. Por muito que, por vezes, se torne difícil admiti-lo. Bruno Lage, e a sua equipa, teriam por certo em seu poder dados que os aconselharam a dar descanso a Pizzi ou a Grimaldo. E conhecerão melhor do que ninguém, de certeza, aquilo que valem Corchia ou Yuri Ribeiro, por muito que para quem foi vendo os poucos jogos em que tiveram oportunidade de se mostrar lhe custe a admitir haver ali valor algum. Ou o que pode fazer, por exemplo, um jogador como Florentino, que a maioria de nós tinha podido observar apenas em contexto competitivo bem menos exigente - na equipa B ou nuns minutos de uma partida fácil frente ao Nacional. Há, por isso, uma possibilidade que talvez nos tenha passado despercebida: que Bruno Lage tenha estudado ao pormenor este Galatasaray - ficámos a saber, no excelente trabalho do Rui Miguel Melo sobre o percurso do treinador do Benfica que A BOLA ontem publicou, que era essa uma das suas funções quando com Carlos Carvalhal trabalhou em Inglaterra - e, juntando-lhe o conhecimento cada vez mais profundo do plantel que tem em mãos, tenha percebido que aquele onze, que seguramente não nasceu de geração espontânea, chegaria para trazer para Lisboa resultado suficiente para permitir à equipa discutir a passagem aos oitavos da Liga Europa.
Essa é, aliás, a única hipótese que faz sentido, por duas razões. Primeiro, porque nunca Bruno Lage colocou no seu discurso um tom menos ambicioso. Pelo contrário, fugiu ao chavão, tantas e tantas vezes repetido por outros treinadores cá do burgo, de que o importante é o campeonato e garantiu uma equipa (e já sabia, de certeza, que seria aquela a equipa…) preparada para ganhar em Istambul. Segundo, porque me parece inconcebível que um treinador de um clube com o historial europeu do Benfica pudesse desprezar de forma tão evidente uma competição como a Liga Europa escolhendo um onze que não lhe desse garantias de relativo sucesso.
Arriscou Bruno Lage? Claro que sim. Mais do que seria expectável, isso é certo. Demasiado? O resultado diz que não. Não só conseguiu a primeira vitória do Benfica em solo turco, abrindo as portas da passagem aos oitavos de final, como ganhou, em jogadores que pareciam até agora proscritos, mais opções para o que falta jogar esta época. Detalhe que não deve, nem pode, ser desprezado. E embora nada disto faça de Bruno Lage um génio - tem ainda muito para ganhar para atingir esse estatuto -, diz muito sobre as suas ideias, até agora perfeitamente alinhadas com aquele que parece ser o projeto de Vieira. E com muitas (algumas históricas) vitórias à mistura. O que só pode ser um excelente sinal.
EM maré baixa está Marcel Keizer. Depois de um início entusiasmante, o holandês parece incapaz de retirar a equipa de uma espiral negativa que ameaça deixá-la fora das decisões em fase demasiado prematura da época. É difícil, até, encontrar uma explicação plausível para o que se passa no Sporting. Sendo verdade que ninguém esperaria milagres depois do que aconteceu no final da época passada e no início desta, é hora de alguém em Alvalade olhar para o futuro e deixar de usar o passado, mesmo que recente, como desculpa para o insucesso. O caminho é para a frente. Convém, por isso, que Varandas e a sua equipa percebam, primeiro, que rumo querem dar ao leão. Ou se o Sporting está, de facto, em condições de lutar de igual para igual com os seus rivais. E, depois, assumi-lo. Seja Keizer ou não a solução. Não convém é exigir-lhe mais e, logo a seguir, tirar-lhe Nani, um dos poucos jogadores acima da média no plantel, para poupar quatro milhões em ano e meio…