O valor do artista depois de morto
Quando o artista morre valoriza e essa será a mais dramática circunstância de uma carreira de sucesso. Há tantos casos de músicos, escritores ou pintores cuja obra progride postumamente, como Bach, Kafka ou Van Gogh, que toda a gente conhece o tema. Ademais há outros que, mesmo falecidos, deixaram fundações que fazem deles mais ricos do que eram em vivos, como Michael Jackson; e outros morrem e não sabemos quanto valem, pelo menos em libras ou euros, como Emiliano Sala. Foi-se aos 28 anos numa viagem de avião de França para Gales, caído no mar, e entre as homenagens ecoa, ofensivamente alto, a discussão sobre o dinheiro que o Cardiff deve pagar ao Nantes.
Os franceses enviaram apressadamente uma fatura e o Cardiff diz que pagará se tiver de ser. Pelo meio anda a questão do seguro para a família, que seria acionado se o jogador se lesionasse mas que não se sabe se a compensará em caso fatal. Os clubes, portanto, que deveriam manter o recato na discussão tornaram-na pública com declarações de interesses. Quanto vale, afinal, Sala depois de morto? Valerá mais porque está evidentemente mais caro quando se compara o custo com o rendimento e com a valorização? Ou valerá mais, sim, mas antes porque se tornou numa oportunidade de pagar e pronto, pagar porque sim, porque se gosta de alguma coisa e se quer ficar com ela, um quadro numa parede, uma edição rara numa estante, uma camisola retirada que custou a ninharia de 17 milhões de euros quando, no final de contas, se sabe que se fez a coisa certa? Primeiro, acho que o Nantes nem deveria ter pedido o dinheiro; segundo, acho que o Cardiff deveria ter feito logo o pagamento. Mas enfim, o melhor mesmo nestas coisas dos artistas - e o mesmo vale para os que não o são - é valer-se tudo enquanto vivo.