O triunfo da Academia

OPINIÃO24.03.202105:05

Quem poderia imaginar que a espetacular campanha do Sporting teria como base a matéria prima de Alcochete? Leão corre atrás de um feito histórico

E a Academia do Sporting volta a reinar no ano em que o Sporting corre atrás de um feito histórico: ser campeão nacional com uma equipa maioritariamente  formada por jogadores formados em Alcochete. No último sábado, com o V. Guimarães, o Sporting foi a jogo com seis futebolistas da casa no onze titular - Gonçalo Inácio (19 anos), Nuno Mendes (18), Daniel Bragança (21), João Palhinha (25), João Mário (28) e Tiago Tomás (18). Já de si seria notável: mais de metade da equipa com o carimbo da Academia. Só que no banco ainda havia mais seis canteranos: Luís Maximiano (22 anos), Eduardo Quaresma (19), Joelson Fernandes (18), Flavio Nazinho (17), Dário Essugo (16) e Jovane Cabral (22), dos quais foram utilizados Jovane e Dário Essugo. Este último viria a proporcionar o episódio mais marcante do jogo e, seguramente, uma das imagens mais marcantes da temporada.
Num país com verdadeira cultura desportiva, a imagem do menino Dário Essugo lavado em lágrimas, a ser acarinhado pelos (pouco mais velhos) companheiros de equipa no final do jogo, teria feito manchete em todos os jornais desportivos e não só. Foi mais que compreensível, a emoção de Dário. Poucos dias depois de assinar o primeiro contrato como profissional, ele fora (surpreendentemente) convocado por Rúben Amorim… e, como se não bastasse, acabara de se tornar o jogador mais novo de sempre (!) a jogar pela equipa principal do clube que formou Cristiano Ronaldo, Luís Figo, Paulo Futre, Ricardo Quaresma e Luís Carlos ‘Nani’, entre tantos outros. Ainda para mais, Dário entrou para o lugar do seu ídolo, João Mário, com o resultado em aberto (1-0) e a responsabilidade… de não deixar ficar mal o treinador, cuja aposta, muito arriscada (o Sporting ganhava pela margem mínima e João Mário é só o médio mais experiente da equipa…), podia ter causado danos aos três - à equipa, a ele, ao jogador. Bastava o Vitória ter marcado nos seis minutos finais…
Não só não causou qualquer dano - o corpulento menino deu conta do recado e ainda fez um passe de golo para o regressado Paulinho - como permitiu a Rúben Amorim voltar a brilhar numa das melhores conferências de Imprensa desta época. Falando para fora e para dentro naquele jeito simples e cativante que é sua imagem de marca, o treinador do Sporting justificou a aposta com mais uma poderosa declaração de confiança dirigida a TODO o plantel, lançando, en passant, a ponte para todos os jovens talentosos à procura de um lugar ao sol: «É aqui. Comigo», foi o que ele quis dizer; e disse-o com a autoridade de quem não hesita em lançar um miúdo de 16 anos para o lugar de um campeão europeu na reta final de um jogo com o resultado em aberto.
Ninguém pode garantir, a dez jornadas do fim, se o Sporting (única equipa ainda invicta nas principais ligas europeias) vai conseguir ser campeão. A campanha tem sido absolutamente notável tendo em conta o histórico recente, as expectativas iniciais e o valor que era atribuído ao plantel em comparação com o dos rivais FC Porto, Benfica e até Braga. O que já é um dado garantido, aconteça o que acontecer, é o regresso triunfal de Alcochete, a única academia no mundo que formou dois Bolas de Ouro (Figo e Cristiano). Com doze - doze! - produtos da casa escalados para o jogo com o V. Guimarães e uma série de jovens lobos a assumirem papel primordial na presente campanha pela mão de Rúben Amorim (Gonçalo Inácio, Nuno Mendes, Palhinha, Matheus Nunes, Tiago Tomás…), Alcochete deixa uma marca fortíssima nesta época. Seja ou não o Sporting campeão.  
Tenho a certeza de que há pelo menos um presidente que olha para esta empreitada com um misto de admiração, incómodo e melancolia. Chama-se Luís Filipe Vieira, o homem que fez construir o Seixal.

CRISTIANO volta a jogar hoje no estádio da Juventus, com a camisola da Seleção. Felizmente para ele, desta vez terá a companhia de colegas comprometidos, focados, dispostos a ajudá-lo naquilo em que ele é letal: concretizar oportunidades de golo. Espero que um deles seja André Silva, que tem feito uma época sensacional na Bundesliga e forma, com CR7 e Bruno Fernandes, o nosso trio de emigrantes mais produtivos. A derrota do último domingo com o Benevento mostrou, se ainda havia dúvidas, que esta Juventus de Pirlo é a pior equipa onde Ronaldo jogou. Falo do jogo pastoso, falho de brilho e continuidade implementado por Pirlo. Falo da evidente falta de entusiasmo com que alguns futebolistas juventinos têm abordado jogos considerados menores. E falo, sobretudo, da insuportável mediania que muitos dos colegas de CR7 emprestam às (pobres) exibições da Juventus, uma equipa cada vez mais confusa, descaracterizada, presa de movimentos… numa palavra, sem identidade. Quem viu as atuações de Arthur, Rabiot, Danilo e Bernardeschi contra o Benevento sabe do que estou a falar.
Mais logo, frente ao Azerbaijão de Gianni Di Biasio, espero que Fernando Santos reedite a dupla ofensiva que faz mais sentido: André Silva em  tandém com Cristiano. Pelo que se tem visto, André vive em Frankfurt a época de afirmação definitiva no futebol de topo, depois das passagens cinzentas por Milão e Sevilha: a qualidade das suas movimentações na manobra ofensiva do Eintracht e a quantidade de golos que tem feito na Bundesliga (21!, com várias obras de arte pelo meio, calcanhar incluído…) não podem ser ignoradas, tal como não pode ser ignorado o bom entendimento revelado com CR7 no biénio em que jogaram juntos na equipa nacional. Corpulento, tecnicamente muito dotado, oportunista, André está finalmente a conseguir o que distingue os avançados com potencial dos avançados verdadeiramente de topo: consistência, continuidade, golos! Parece que André deixou de ser uma promessa permanentemente adiada, como tantos outros. Ele pesa, ele influi, ele marca, ele decide. Não num jogo isolado ou quando o rei faz anos: fá-lo constantemente. É com isto que se constroem as carreiras de sucesso. E André vai nesse caminho.