O trabalho (ingrato) dos treinadores

OPINIÃO19.10.202005:34

A primeira jornada depois do fecho do mercado confirmou que Roma e Pavia não se fizeram num dia e os treinadores precisam de tempo para afinar as máquinas. O problema é que, à maior parte deles é pedido tudo para ontem, e acabam a queimar etapas, na ânsia de sobreviverem à pressa e à pressão, o que dá, inevitavelmente, mau resultado. Vejam-se os casos de Sporting e FC Porto, que protagonizaram o primeiro clássico da época, com uma primeira parte razoavelmente bem jogada e uma segunda metade de pouca qualidade futebolística. Haverá quem arrisque qual será a equipa base de leões e dragões daqui a um par de meses? Provavelmente, nesta fase, nem Sérgio Conceição e Rúben Amorim têm ideias fechadas quanto ao conjunto que lhes permitirá um melhor rendimento. No caso dos campeões nacionais, viram-se alguns peixes fora de água, sem a mínima noção de onde tinham aterrado. Quem é, ao dia de hoje, o jogador mais decisivo do FC Porto? Pepe, sem dúvida, pelo que joga, pela voz de comando e, sobretudo, pelo enquadramento que dá a quem precisa de aprender qual a cultura do clube.    


Já no Sporting, a primeira impressão aporta sentimentos mistos. Por um lado, percebe-se que há uma ideia de jogo, e um esboço de organização. Por outro, porém, assalta-nos a dúvida pertinente quanto à adequação do 3x4x3 ao plantel que está à disposição de Rúben Amorim. Vendo jogador a jogador, não seria preferível apostar numa defesa a quatro, com dois laterais a ofensivos como Pedro Porro e Nuno Mendes a darem a profundidade necessária, um seis moderno, como Palhinha, e mais à frente um ponta de lança de raiz, Sporar, a beneficiar do excelente municiamento que haveria de chegar-lhe de talentos como João Mário, Tabata ou Pedro Gonçalves, quiçá com o apoio de Vietto ou Jovane?    

Já no Benfica parece que continua por resolver a questão do duplo pivot. Gabriel, o melhor dos oitos do plantel benfiquista, faz mal de seis, comete demasiados erros posicionais e corre riscos comprometedores. Com Weigl nas costas, porém, melhora de imediato, assim como melhora também a segurança dos centrais, amiúde apoiados pelo alemão.

Em suma, a procissão ainda vai no adro e há que dar tempo ao tempo. Porque, como diz a canção, «quem tem pressa come cru.»