O Sporting, o futuro e os investidores
A pouco e pouco, como quem não quer a coisa, o Sporting está a tratar de arrumar a casa, criando condições mínimas para uma participação competitiva na Liga de 2018/2019. Este cenário, que em condições normais não seria sequer notícia, pareceria impensável há algumas semanas. Hoje, com a continuação em Alvalade de Bruno Fernandes e Bas Dost, a que se soma o regresso de Nani e a expectativa de mais uma ou outra aquisição que dê solidez à equipa de José Peseiro, o cenário apresenta-se mais desanuviado, e quiçá mais próximo do otimismo militante que faz parte do ADN de Sousa Cintra. Um dia a história fará justiça ao bem que os leões que se chegaram à frente na fase mais crítica do clube fizeram ao Sporting.
Para já, aqui e ali, começa a levantar-se o véu sobre a realidade com que a Comissão de Gestão e a SAD se depararam quando chegaram a Alvalade. A auditoria forense em curso tratará de pôr tudo em pratos limpos, mas aquilo que se vai sabendo mostra à saciedade os perigos que os clubes correm quando se entregam a derivas aventureiristas. E esta lição, vivida com contornos diferentes pelo Benfica de Vale e Azevedo, deve permanecer no espírito dos sócios e adeptos de todos os clubes. Especialmente nestes tempos em que se aproxima, em grande velocidade, a entrada de investidores privados nos grandes emblemas nacionais. Sejamos absolutamente claros: haverá um momento em que isso se tornará inevitável e irreversível. E provavelmente benéfico.
Desde que haja, em primeiro lugar, um escrutínio prévio e aprofundado aos investidores. Não podem ser incógnitos, escondidos atrás de testas de ferro, ou perdidos num emaranhado de offshores (e isto é válido também para a comunicação social, e de que maneira...). Depois, é preciso que sejam garantidos os direitos do clube fundador (vide Belenenses), sob pena de haver um divórcio de tal forma traumatizante que desague numa SAD sem adeptos, o que é contra-natura em qualquer atividade desportiva. E, neste particular, o Estado deve intervir, através de legislação adequada, suficientemente pensada e maturada, de forma a evitar os sobressaltos que hoje se vivem, por exemplo, no eixo Restelo-Jamor. Mas em matéria de desporto, de facto, o facto é que não temos Estado, nem bom nem mau. Não existe.