O sonho

OPINIÃO03.09.202107:00

E se os três «grandes» viessem, ao mesmo tempo, a ser presididos por antigos jogadores?

ALGUNS dos melhores jogadores portugueses da atualidade juntaram-se ao nosso cinco vezes Bola de Ouro para um jogo, no Algarve, de qualificação para o próximo Campeonato do Mundo. Que me perdoem os profissionais da Seleção, mas chegou a parecer um jogo a feijões, tão pobre foi a inspiração da equipa na maioria do tempo, tão lento foi o futebol jogado, tão morna foi a ação atacante, tão pouco entusiasmante acabou por ser o espetáculo até ao minuto 88, quando, por fim, apareceu o melhor cabeceador do mundo para definitivamente se auto proclamar, também, como o melhor goleador de sempre com a camisola de uma seleção.
Cristiano Ronaldo tem, na verdade, vários traços que o distinguem como melhor futebolista do mundo. Pode não ser o melhor do mundo a marcar grandes penalidades, por exemplo, sendo certo, ainda assim, que é um dos melhores, e bem sabemos como todos os melhores falham, como falhou o nosso Cristiano (sim, é nosso, e ele não leva a mal que o tratemos assim…), agora, com os simpáticos e vibrantes irlandeses, numa grande penalidade não convertida que, temos de o admitir, ajudou a colocar em risco a vitória no jogo.
O que parece não haver dúvidas, porém, é sobre o lugar de Cristiano entre os cabeceadores do futebol mundial: é, seguramente, o número um. Conhecem melhor?!
E, mais uma vez, o provou, naqueles instantes finais do cinzento jogo da noite algarvia, com dois geniais golpes de cabeça, repondo, por um lado, a justiça no marcador - porque só houve, apesar de tudo, uma equipa a atacar, sobretudo na segunda parte -, e, por outro, o lugar que Cristiano amplamente merece como melhor goleador da história das seleções, agora com a sensacional performance de 111 golos, superando definitivamente o iraniano Ali Daei, que conseguiu 109 golos em 149 jogos, e merecer suficiente destaque internacional ao ponto de ter jogado, na década de 90 do século passado, na Liga alemã, e até (por uma época) no poderoso Bayern de Munique.
O que Cristiano voltou, pois, a fazer, ao assinar dois magníficos golos de cabeça e ser de novo decisivo para mais uma vitória portuguesa, foi uma resposta clara, creio, aos que ainda parecem duvidar da sua capacidade de continuar a competir ao mais alto nível. Sem Cristiano e sem a sua portentosa qualidade para definir um jogo de futebol - dele se pode legitimamente esperar sempre qualquer coisa… -Portugal estaria a esta hora seguramente a lamentar uma derrota que poderia colocar a seleção das quinas em inconvenientes lençóis na luta com a Sérvia pelo primeiro lugar do grupo de qualificação para o peculiar Mundial, que no final do próximo ano se vai jogar no Catar.

CRISTIANO RONALDO é, talvez, o único a quem o contexto diz, realmente, pouco. Pode até estar a jogar no quintal da sua casa que o fará sempre com o foco no máximo. Podem as coisas não lhe saírem sempre bem, e não saem, mas o foco nunca diminui. E isso não é para todos. Há jogadores, mesmo craques, que dependerão sempre muito dos contextos, e julgo que são alguns os exemplos na nossa Seleção, como voltou a ver-se neste confronto com os irlandeses. Com este tipo de adversário, forte fisicamente, forte defensivamente e forte competitivamente, jogar, por exemplo, no Algarve cria um bom contexto? Julgo que não. Não sendo fácil explicar - no futebol, nem tudo se explica de forma racional - julgo que não será difícil compreender. Percebo a velha ideia da descentralização; mas um grande estádio (e 20 ou 30 mil pessoas) será sempre melhor para defrontar determinado tipo de adversários. Como este. Simples detalhe? Talvez sim. Mas quantos simples detalhes resolvem, tantas vezes, tão difíceis equações?!

PS: O regresso de Cristiano Ronaldo ao Manchester United tem tudo para ser mágico. Merecem-no a grandeza, o orgulho e a história do Manchester United, e merece-o, sem dúvida, Cristiano Ronaldo, o português que escreve uma das mais lendárias histórias de toda a história do futebol! Acreditem; sempre julguei que, mais tarde ou mais cedo, isso aconteceria. Pode ainda acabar no Sporting? Sim, pode. Mas se não voltasse a Old Trafford, não seria a mesma coisa!

ESTE Benfica de Rui Costa vai cumprindo tudo o que desejava e vai cumprindo o que prometeu. Conseguiu com significativo êxito o empréstimo obrigacionista; a equipa de futebol chegou à fase de grupos da Liga dos Campeões; fechou com relativo sucesso o chamado mercado de transferências, e só lhe falta garantir bom arranque da época desportiva das restantes modalidades porque na equipa de futebol não podia pedir melhor.
Do ponto de vista político, está honrada a palavra dada pelo atual presidente, com a marcação de eleições, como tanto desejavam alegados opositores, e a maioria dos analistas e comentadores desportivos.
Rui Costa faz parte de uma direção eleita e, por isso, legitimamente em funções, e não precisava, como se sabe, de antecipar qualquer novo ato eleitoral. Está a fazê-lo por compreender (e bem) e momento crítico que o clube passou a viver com o afastamento do anterior presidente, e, por isso, cumpre a prometida ideia de escrutinar a vontade dos sócios à luz da nova realidade.
Como Rui Costa cumpre o prometido, e como ninguém se atreve a contestar a decisão, pois contesta-se a data escolhida. Se marcasse para o final do ano, era porque seria tarde; marcando para o início de outubro, é porque é demasiado cedo. Preso por ter cão e preso por não ter.
Dá jeito a Rui Costa que as eleições sejam o mais cedo possível? Admito que sim, se considerarmos o lado desportivo do cenário, porque quanto mais cedo elas acontecerem menor o risco de eventuais maus resultados desportivos poderem influenciar o espírito dos sócios.
A verdade, porém, e mesmo sem se saber ainda se Rui Costa se candidatará, é que existe uma outra realidade objetiva: até final do ano, apenas em dois fins de semana não existem competição de clubes - o fim de semana de 9 e 10 de outubro, e o de 13 e 14 de novembro, em ambos os casos datas para compromissos da Seleção Nacional.
Para não deixar arrastar a coisa, como aliás pareceram reclamar todos os que se fizeram ouvir logo após a demissão de Luís Filipe Vieira, a direção de Rui Costa optou pelo primeiro desses fins de semana, escolhendo (corretamente, parece-me) o sábado, dia 9 de outubro, para permitir maior afluência de sócios, e com a serenidade indispensável pela ausência de qualquer competição envolvendo a principal equipa de futebol. Não determinam, aliás, os estatutos do Benfica, pelo calendário normal, que se realizem as eleições normalmente em outubro?
Creio, por outro lado, que Rui Costa será naturalmente candidato, e creio também que os sócios do Benfica vão acabar por reconduzi-lo como presidente, apareçam mais ou menos candidatos, e seja maior ou menor a diferença final de votos.
Falta saber se a bola vai continuar a entrar? Claro que sim, e a bola entrar ou não entrar fará sempre alguma diferença no que diz respeito a eleições, podem ter a certeza, e muitos ainda de lembrarão de Fernando Martins, o presidente que mesmo tendo completado a extraordinária obra que foi o fecho do Terceiro Anel do antigo estádio, e conduzindo então um clube praticamente sem dívidas, não foi capaz, em 1987, de ganhar as eleições a João Santos, que ninguém sabia muito bem quem era, na semana em que a equipa  de futebol simplesme nte...  empatou na Luz com o Desportivo de Chaves!
Parece-me, no entanto, que desta vez os sócios do Benfica poderão encontrar na eleição de Rui Costa forma de reconhecerem tudo o que Rui Costa sempre representou para o clube, mais a personalidade, caráter e paixão benfiquista que sempre mostrou nos anos de ligação à Luz, e não creio, com toda a franqueza, que cole realmente a ideia de Rui Costa ser a continuidade de um certo passado, e muito menos a ideia de que Rui Costa teria de saber tudo o que de alegadamente errado pudesse passar-se no clube, ou melhor, na SAD (se é que alguma coisa de errado ou ilegal  realmente se passaria), porque em nenhuma organização do mundo se pode esperar que todas as pessoas saibam rigorosamente tudo o que se passa.
Não se trata de passar uma esponja por eventuais responsabilidades de Rui Costa em alegadas práticas ou decisões menos corretas na gestão desportivas ou financeira; trata-se de saber se Rui Costa merece ou não a oportunidade de mostrar o seu modelo de liderança, a sua forma de agir, as práticas que pretende seguir, os comportamentos e as ideias que defende para o Benfica e para o futebol português. É isso que os benfiquistas vão decidir. E creio (mera opinião) que vão decidir a favor de Rui Costa.
No dia (mesmo num mundo imaginário) em que for possível ver o Benfica presidido por Rui Costa, o FC Porto liderado por um Vítor Baía e o Sporting por um Cristiano Ronaldo, por exemplo, não poderia o futebol português começar, finalmente, a pensar na tão desejada mudança de mentalidades?
Talvez seja apenas um sonho, sim. Mas não seria bonito?!...