O senhor Képler Laveran
OS brasileiros são um povo criativo. No futebol e na antroponímia. Ou seja, na arte de dar nomes a bebés. Um dos mais famosos é Um Dois Três de Oliveira Quatro. Outro: Éter Sulfúrico Amazonino Rios. Também existem extravagâncias na versão feminina: Pália Pélia Pólia Púlia dos Guimarães Peixoto. A 26 de fevereiro de 1983, em Maceió, um casal de brasileiros teve um filho e deu-lhe um nome invulgar: Képler Laveran de Lima Ferreira. O pai do bebé, seu Anael Ferreira, quis prestar homenagem a dois cientistas: Johannes Kepler (1571-1630) e Charles Louis Alphonse Laveran (1845-1922).
ANOS mais tarde, o pai de Képler, vendo o jeito do filho para jogar futebol, começou a chamá-lo de Pepe, em homenagem ao extremo-esquerdo do Santos e mais tarde, em 1987/1988, treinador do Boavista. Képler (ou Pepe) começou a jogar no Corinthians Alagoano e, aos 18 anos, assinou pelo Marítimo. Era o primeiro passo de grande história de amor entre Pepe (ou Képler) e Portugal. Quase duas décadas depois, já naturalizado, apresenta currículo invejável: três ligas portuguesas, duas Taças de Portugal, duas Supertaças Cândido de Oliveira, uma Taça Intercontinental, três ligas espanholas, duas Taças de Espanha, duas Supertaças de Espanha, três Ligas dos Campeões, uma Supertaça Europeia e dois Mundiais de Clubes. Além, claro, de um Europeu e de uma Liga das Nações.
AGORA, a caminho dos 38 anos, Képler (ou Pepe) pode ser considerado o melhor defesa-central da história do futebol português. Para trás, ficaram nomes como Germano, Vicente, Humberto Coelho, Fernando Couto, Jorge Costa ou Ricardo Carvalho. A Seleção Nacional, campeã da Europa em 2016, deve muito desse título a Éder (o mais famoso golo do futebol português) e Ronaldo (dois golos no empate com a Hungria), a Rui Patrício (penálti defendido com a Polónia e defesa a desvio de cabeça de Griezmann) e Nani (golos à Islândia, Hungria e Gales), a João Moutinho (passe para o golo de Éder) e Ricardo Quaresma (golo de cabeça à Croácia), a Renato Sanches (bomba à Polónia) e William Carvalho (grande final), bem como a Bruno Alves, José Fonte, Ricardo Carvalho, Raphael Guerreiro, João Mário, Cédric, Adrien, Vieirinha, Danilo, André Gomes, Eliseu, Rafa, até a Eduardo e Anthony Lopes (nunca jogaram). Mas deve muito a Pepe (ou Kléper) pela forma como liderou a defesa no Europeu. E quem o viu em Paris a disputar sprints (sem os perder) com Mbappé e em Alvalade (a jogar como um miúdo de 18 anos), não pode ter dúvidas: ele está aí para lavar e durar. E ainda bem.