O que (não) diz Pinto da Costa
O assunto Francisco Conceição (e o que se seguiu) não ‘morre’ só porque Pinto da Costa quer. O jogo com o Mónaco mostrou-o bem
P INTO DA COSTA tem o dom da palavra e adora mostrá-lo. Por outras palavras, Pinto da Costa gosta de falar. Ou melhor: Pinto da Costa gosta muito de falar, especialmente quando ganha. E não é de hoje, é sempre assim. Se quando o FC Porto não é campeão se limita a dar uma entrevista ao Porto Canal, quando, como na época que acabou, o FC Porto ganha quase tudo o que tem para ganhar Pinto da Costa fala em quase tudo o que é lado. Aos jornalistas, em visitas a casas do clube, em eventos onde apareça e exista alguém com um microfone, um gravador ou, até, com um bloco e uma caneta na mão. E fala, claro, sempre muito bem. Quando ganha está - como estão todos os presidentes de todos os clubes que ganham - como peixe na água, fazendo uso daquela que tem sido, ao longo de 40 anos, a característica mais conhecida do seu discurso, a ironia (mais ou menos fina) com que bate nos seus rivais ou em quem, no seu entender, não é amigo do FC Porto ou, pura e simplesmente, da sua presidência. Nada de novo. É, repito, assim há 40 anos.
A coisa pia, contudo, mais fino quando, mesmo com o clube a ganhar quase tudo, Pinto da Costa tem de falar de assuntos que não lhe agradam. Aí, hoje como há 40 anos, ou o presidente do FC Porto aparece menos, ou aparece e não fala, ou fala só daquilo que lhe interessa. Tem sido assim sobre o processo de doping que envolve a W52/FC Porto, equipa que não é do FC Porto mas que carrega no seu nome o nome do FC Porto, e sobre a qual Pinto da Costa não disse, ainda, uma palavra. E foi assim, recentemente, com o processo da saída de Francisco Conceição - tanto no que diz respeito ao facto de o FC Porto ter permitido a saída de um dos seus mais promissores jogadores por apenas €5 milhões de euros, como sobre a forma como Fernando Madureira reagiu nas redes sociais, atacando, de forma evidente, o pai do jogador, que é, também, o treinador do FC Porto.
Esse assunto está encerrado, disparou Pinto da Costa quando questionado sobre o tema. É, também, assim há 40 anos: quando o assunto não lhe interessa, atira Pinto da Costa que o assunto está encerrado como se, só por ser ele a dizê-lo, o assunto ficasse, efetivamente, encerrado. Talvez há uns anos ficasse. O problema é que os tempos são hoje diferentes. E os assuntos não se encerram só porque Pinto da Costa entende que ele deve estar encerrado. Se dúvidas houvesse sobre quão fechado está o assunto, basta olhar para o jogo de apresentação do FC Porto frente ao Mónaco. E não, não estou sequer a falar do pormenor de ao contrário do que é habitual os jogadores e os treinadores não terem, anteontem, sido chamados individualmente ao relvado (haverá, decerto, uma explicação e não estou seguro que tenha necessariamente a ver com o assunto, embora não descarte essa possibilidade...), estou a falar do pormaior de Sérgio Conceição ter ignorado olimpicamente a bancada onde estavam os Super Dragões, que são, afinal, liderados por quem o ofendeu há uns dias. Por acaso? Não, claro que não. Apenas a prova de que, ao contrário do que disse ou deseja Pinto da Costa, o assunto não está nada encerrado. Nem perto disso estará.
C LUBES, Federação, ciclistas e empresa que organiza a Volta a Portugal assinaram um convénio que dizia, preto no branco, que equipa que visse ciclistas ou dirigentes envolvidos em processos-crime por motivos de doping ficariam impossibilitados de participar na principal prova do calendário nacional. Percebe-se agora que, afinal, se não for suspensa pela UCI, à W52/FC Porto basta contratar ciclistas suficientes para perfazer o mínimo de cinco corredores para poder participar na Volta a Portugal. Ou seja, o convénio assinado vale menos que zero. É só um papel. Pior só o papelão que alguns fizeram esta semana...