O que dizem os olhos de Girão

OPINIÃO15.07.201901:51

PORTUGAL volta a ser, enfim, campeão do mundo de hóquei em patins. A Seleção Nacional brilhantemente orientada por Renato Garrido conseguiu matar um borrego com 16 anos e volta esta tarde a casa em glória, deixando para trás das costas um sem-número de regressos tristonhos de cada vez que o título caía para outro país qualquer - quase sempre a Espanha. Hoje tudo será diferente. E seria bom que os portugueses (todos...) reconhecessem o enorme feito que esta equipa conseguiu em Barcelona e lhe desse a receção que merece. Pessoalmente tenho de confessar um orgulho muito especial nestes jogadores, porque tive oportunidade de acompanhar muitos deles enquanto davam os primeiros passos na Seleção, quando em 2013 fui enviado por A BOLA para acompanhar o Campeonato do Mundo em Angola.
Por estes dias tenho-me lembrado, além da estreia de muitos destes jogadores que são, agora, campeões do mundo, de uma conversa com Luís Sénica sobre Ângelo Girão. «Quando olho para a máscara e lhe vejo os olhos bem abertos... sei que não vai passar bola nenhuma», contava-me, na capital angolana, o então selecionador, hoje presidente da Federação de Patinagem de Portugal. Ontem, ao vibrar com a estrondosa exibição do guarda-redes do Sporting, só pensava em como estariam os olhos de Girão. Porque não passou, mesmo, nada. A conquista deste Mundial é de todos os jogadores, é verdade, mas tem muito daquele que é, hoje, o melhor guarda-redes do hóquei mundial.
Muitos parabéns, portanto, a todos os que, dalguma forma, contribuíram para mais esta página de ouro do desporto português. Aos jogadores, a Renato Garrido e à sua equipa técnica, a Luís Sénica e a todos os que, ao longo dos anos, acreditaram num projeto com mais de seis anos e mantiveram a crença mesmo após alguns insucessos. Valeu a pena.

JORGE JESUS está a viver no Flamengo uma estreia que só pode surpreender quem não conhece o trabalho daquele que é um dos melhores treinadores portugueses da atualidade. Depois de ter sobrevivido, e saído por cima, de uma sempre complicada deslocação a Curitiba, ontem, no primeiro jogo a contar para o Brasileirão, no imponente Maracanã, mostrou a todos ao que vai. Goleada à moda antiga, por números que há muito os adeptos do clube carioca não viam. Não chegará, é certo, para calar todos os que tanto criticaram a sua contratação mas é, sem dúvida, o começo. E se é verdade que Jesus percebeu desde muito cedo que não teria vida fácil no Brasil, onde alguns pensam que nenhum estrangeiro tem capacidade para ensinar o que quer que seja aos brasileiros, também é certo que não é exatamente a esses que Jesus tem de conquistar. Precisa, apenas, de ter a torcida do seu lado. Ontem, num estádio lotado, deu o primeiro passo nesse sentido. E, ganhe ou não muitos títulos, é certo que no fim, quando abandonar o Flamengo e o país, Jorge Jesus deixará saudades. Como deixou em todos os clubes por onde passou.

Oque se passou anteontem em Coimbra é para lá de deplorável. Não está em causa de que clube foram os adeptos agredidos nem que clube apoiam os agressores. O que está de facto em causa é que já nem num jogo particular, que devia ser de festa, se pode estar descansado. Ver as imagens de pais com crianças a chorar ao colo devia ser suficiente para que todos pensássemos, de uma vez por todas, se é isto que queremos para o futebol português. E devia ser, também, suficiente para fazer corar de vergonha todos os que, sem descanso nem pudor, nos estão a levar para um buraco de onde, se não tivermos cuidado, um dia não conseguiremos sair. Há alguém de facto disposto a meter mão nisto?