O poder da força e a força da autoridade

OPINIÃO26.07.201904:00

O que se passa

Alguém pode fazer o favor de me explicar o que se passa na Casa do Dragão? Não está tudo louco, pois não?

Habemus homo! (-10 +10)

Questionado sobre o passado e a evolução da espécie, postulou André Villas Boas: «Há 10 anos todos pensavam que a formação devia jogar como o treinador principal quer. Hoje estou totalmente contra essa ideia. A formação pertence ao clube. O clube tem de ter uma visão e dar tempo e espaço aos jovens para evoluir. Um projeto bom na formação demora 10 anos a dar frutos.»

Interpelado sobre o seu próprio futuro («Onde se imagina daqui a 10 anos?»), antecipou André Villas Boas: «Não sei, quero continuar no futebol, mas não como treinador. Tenho ideias e penso muito no meu clube, o FC Porto. Sou adepto desde o primeiro dia e tenho ambições. Dirigente? Talvez.»

E pronto, assim se confirma o que eu apenas intuía: ainda não sei quando, mas já sei que AVB vai ser presidente do meu clube. Fico muito satisfeito por tal suceder.

Nota 10 para Pizzi

Num mundo sobrepovoado de egos e superegos totalmente fora de controlo, é bonito, quase comovente até, descobrir palavras raras e, ao mesmo tempo, tão sãs. Aconteceu então que a camisola 10 das águias pertencia a Jonas. Uma vez consumada a sua retirada, o craque brasileiro confessou que gostava de ver Pizzi suceder-lhe como novo dono da 10. Ao que Pizzi contestou de forma lapidar: «Vou manter a 21. A 10 é para os mágicos como o Jonas.» Que bem dito! Nota máxima. Parabéns!

Fábios para todos os gostos

Fábios há muitos! Mas há mesmo? Bem, de momento há três que convocam, por diferentes motivos, a nossa atenção: o Silva, o Vieira e o Coentrão.

O primeiro é um puro e precoce talento. Ademais goleador. Iniciou o estágio com a primeira equipa sem ter sequer completado os 17 anos!  E não parece um epifenómeno por explicar ou um estouro luminoso como um foguete. O tempo o dirá.

A viver a melhor época da carreira, outro Fábio, Vieira de apelido e apenas um pouco mais velho do que o Silva, tem já uma década de FC Porto. E como é este Fábio visto pelo próprio? Assim, só pela rama: «Sou bastante inteligente, tanto a nível de passe curto como longo, sou forte no remate e na finalização e a isolar os jogadores para a baliza. Tenho é de melhorar a nível defensivo, sei que posso ser mais agressivo e mais consistente», diz este fã de Messi que espera «um dia chegar ao nível dele.» Talvez pudesse começar então por melhorar, antes de tudo o mais, os níveis de humildade e realismo. É que ousar a tentativa de um paralelo com Messi só faz com que ninguém o possa levar a sério. O que talvez não seja a coisa mais adequada para a carreira de quem se considera não apenas esperto mas «bastante inteligente». 

Mas se estes dois Fábios são ainda promessas, já o terceiro personifica a prova de uma certeza absoluta: não serve para o FCP! Raramente se terá conseguido passar do pesadelo (manchetes com anúncio de 2 anos no Dragão) ao tranquilo despertar (reportou o próprio durante a noite que não recebeu direta ou indiretamente nenhuma proposta dos dragões (…) apenas teve contactos de agentes sobre um alegado interesse portista). Óptima notícia!

O respeito

Os romanos sabiam distinguir com muita agudeza o poder da força (potestas) da força da autoridade (auctoritas). Quem tem poder pode impor a força. Mas não há força maior do que aquela cujo comando é aceite não por obediência mas por respeito. E quem verdadeiramente sabe exercer o poder também não ignora que para se ser respeitado tem de se dar ao respeito. O qual pode implicar o reconhecimento de um erro próprio. Com o consequente pedido de desculpas. Por isso, de tão raras, registei estas palavras de Silas, treinador do Belenenses, num jogo da fase terminal da última época: «O Dálcio queria entrar e ajudar, mas com menos um tive receio de fazer a substituição mais cedo, com medo que alguém me pedisse para sair e nos faltasse a substituição. Gosto muito do Dálcio e sinto-me na obrigação de lhe pedir desculpas.» Acrescente-se ainda que tais palavras foram proferidas já depois de o técnico ter falado, olhos nos olhos, com o jogador. Foi isto uma prova de fraqueza? Para os inseguros de si próprios, e que por isso exibem tiques pesporrentes e prepotentes, certamente que sim. Mas outros há que não ignoram duas coisas: i) mau feitio não significa carácter forte; ii) um bom temperamento não garante nenhuma vitória, mas um mau temperamento provoca sempre muitas perdas.