O Poder!
O impacto do desporto e, em particular, do futebol é tão grande que exige, sempre, muita sensatez
NÃO me atrevo, evidentemente, a questionar a honorabilidade do pensamento e a legitimidade das decisões do demissionário presidente da Mesa da Assembleia Geral do Benfica, o antigo ministro Rui Pereira, personalidade profundamente respeitada no mundo do Direito, académico e até político.
A demissão de uma figura como Rui Pereira (que já anteriormente acompanhara Filipe Viera como membro do Conselho Fiscal do clube e também como presidente da AG da SAD) nunca poderia deixar de ter impacto na vida do Benfica, já de si tão agitada pelo contexto em que se tem visto envolvido o presidente, mas também pelos resultados desportivos e considerável aumento do ruído de uma certa oposição, que permanece, pelos vistos, cheia de vontade de continuar a desgastar e minar, sobretudo, a credibilidade de Vieira e da sua liderança, numa luta pelo poder que parecia (mas só parecia) resolvida com as eleições de outubro passado, e prometida, de novo, apenas para 2024.
Pelos vistos não será assim, e parece que continuam alguns a procurar condições para uma espécie de «golpe de estado», que, por exemplo, no Sporting, o presidente da Mesa da Assembleia Geral, Rogério Alves, foi capaz de ir evitando, com sucesso e muito menos turbulência, com os evidentes benefícios para a estabilidade da Direção de Frederico Varandas e de um trabalho que veio a dar extraordinários e surpreendentes frutos desportivos.
Entendeu de modo diferente o presidente da Mesa da Assembleia Geral das águias, e a demissão de Rui Pereira veio, pois, inevitavelmente, agravar o clima de alguma instabilidade, absolutamente prejudicial num clube que pede exatamente o contrário, não apenas num momento em que procura lançar novo empréstimo obrigacionista, como também reajustar a estratégia desportiva, muito em particular no futebol, para fazer frente a uma nova e exigente época (que começa já na próxima semana) e a renovados, exigentes e indispensáveis objetivos, para superar e fazer esquecer uma época absolutamente frustrante como a que acabou de ser vivida, com um histórico campeonato todo ele jogado sem público e em plena pandemia mundial.
Será sempre, em todo o caso, evidentemente legítimo o entendimento tido pelo demissionário presidente da MAG do clube da Luz, que decidiu afastar-se, assim o afirmou em carta escrita, por considerar não contar, e cito, «com o necessário apoio dos corpos sociais, em particular do Presidente e da Direção (…)»
DEVE o presidente de qualquer Mesa de Assembleia Geral ser, naturalmente, o garante dos direitos dos associados e do respeito pelos estatutos, no caso, de qualquer instituição desportiva, mas parece-me que lhe compete olhar igualmente pela estabilidade e pelos superiores interesses das respetivas instituições, de acordo com o momento e as circunstâncias, além, ainda, do indispensável cumprimento do normal dever de lealdade e solidariedade, que se impõe, aliás, a todos os membros de quaisquer órgãos sociais eleitos.
Considerará o antigo ministro da Administração Interna (naturalmente candidato a satisfazer eventual ambição política numa próxima renovação governamental…) ter cumprido todas as suas obrigações, apesar da discórdia com os órgãos sociais parecer ter sido não pela realização da AG extraordinária requerida pelo conjunto de sócios (estatutariamente exigíveis), mas pelo momento (início de julho) escolhido.
À primeira divergência, entendeu Rui Pereira abandonar o barco e é o Benfica que perde. Não me parece, porém, com toda a franqueza, e à distância, que a maré associativa estivesse perigosamente em causa, mas só Rui Pereira saberá que peso lhe impôs a consciência.
Por vezes, corre-se o risco de ver a legitimidade com que se bate com a porta não corresponder à sensatez que impõe o desempenho de um cargo como o de presidente da Mesa da Assembleia Geral de um clube com a dimensão do Benfica, e no clima desportivamente desfavorável que ele vive.
Talvez Rui Pereira tenha decidido demitir-se, quem sabe, por mais razões que a razão ainda desconheça. Se assim for, é bem possível que em breve se compreenda melhor por que o fez.
COM todo o respeito pelas devidas diferenças e distinta dimensão e proporcionalidade das figuras e matéria em causa, podemos, com alguma ousadia, sim, mas também indispensável ligeireza olhar para a escolha de Rui Pedro Braz para diretor-geral do futebol do Benfica como novo resultado da força da televisão e poder da imagem na moderna (e cada vez mais desequilibrada) sociedade em que vivemos.
Marcelo Rebelo de Sousa deixou o comentário político na televisão para se tornar Presidente da República; Rui Pedro Braz deixa o comentário desportivo na televisão para se tornar diretor-geral do futebol das águias. Nenhum mal nisso.
No caso do Benfica, mais do que questionar-se a experiência, ou falta dela, é preciso dar tempo ao tempo para se perceber a vocação, adaptação e sensibilidade, se vai o tempo ser amigo de Braz e se o seu trabalho acrescentará realmente valor ao futebol encarnado.
Marcelo Rebelo de Sousa tornou-se claramente o político preferido dos portugueses; conseguirá Braz tornar-se o diretor preferido dos benfiquistas?
Mais uma vez com o devido respeito pela dimensão e importância das coisas, será sempre mais fácil o sucesso político de um Presidente da República do que o sucesso desportivo de um diretor no futebol.
Ao contrário do Presidente, um dirigente do futebol depende de a bola entrar ou não entrar. E isso não depende diretamente dele. Se não ganha, o dirigente perde popularidade; e quanto mais popularidade perder, mais cairá em desgraça.
O Presidente não, o Presidente não depende da bola, depende apenas dele próprio, e quase lhe basta ser simpático e afetuoso para garantir popularidade.
Ao Presidente Marcelo, por outro lado, nunca mais se atirará à cara ter saído do comentário televisivo para Belém.
Mas precisa Rui Pedro Braz de não se fiar nisso e de estar preparado, porque dele não se dirá o mesmo.
Tão certo como dois mais dois serem quatro!
POR mais bem intencionado ou propositadamente engraçado que tenha sido, um irrefletido, talvez espontâneo e muito insensato gesto de Cristiano Ronaldo, para não lhe chamar outra coisa, talvez não tenha virado ainda sério conflito comercial e diplomático pela provável força de alguns lobbies e porque talvez a emenda acabasse por ser bem pior do que o soneto, mas, pelos vistos, já virou moda, e se alguém não tiver sentido de responsabilidade não sei, sinceramente, onde vai parar.
Tem Cristiano Ronaldo todo o direito de gostar mais de água do que de qualquer outra bebida. Faz bem. Eu também gosto muito de água e a água só faz bem. Ao contrário de outras bebidas.
Mas Cristiano Ronaldo também gosta de ganhar o dinheiro que ganha. E sabe perfeitamente que só ganha o dinheiro que ganha porque há marcas que pagam o que pagam pelo espetáculo que Ronaldo dá para que Ronaldo possa ganhar o dinheiro que ganha.
E sabe mais: sabe que sendo uma das maiores figuras mundiais deve defender as marcas que, no fundo, fazem com que Ronaldo (e todos os outros) ganhe o dinheiro que ganha.
Tudo o que Cristiano Ronaldo faz tem um impacto brutal. E esse insensato gesto também não fugiu à regra. Ronaldo tem todo o direito de manifestar preferências, ideias, convicções. Mas deve escolher os momentos e os lugares. E o lugar certo não é seguramente (ele o compreenderá com facilidade, acredito) uma grande competição de futebol que só se realiza porque as grandes multinacionais e as televisões a pagam e a pagam principescamente para que todos os Cristianos Ronaldos ganhem no futebol o que ganham e vivam luxuosamente como vivem.
Num mundo movido a água, isso seria, certamente, impensável, e sabe CR7 que o futebol dos ricos (não o futebol, mas o futebol dos ricos, de que ele faz parte) é um produto do capitalismo moderno e do mundo global, feito pelas marcas que, porventura, CR7 não gosta mas que o ajudam a ser a figura que é.
Para a marca que CR7 resolveu desprezar talvez fosse, na verdade, bem pior (e o prejuízo incalculável) abrir conflito com a personalidade mundial mais seguida no impressionante universo das redes sociais como é o craque português.
Mas isso não deve impedir que alguém diga a Cristiano Ronaldo para não se armar em engraçadinho (ele, e agora, também Paul Pogba, e até o jovem, em alta, que é o italiano Manuel Locatelli) e continue, isso sim, focado no que faz maravilhosamente há tantos anos, que é apaixonar-nos pela sua inigualável estrela, pelo seu intenso brilho e talento e pela sua impressionante capacidade.
Que fazem dele o melhor!