O nosso regresso

OPINIÃO01.08.202107:00

Este Sporting de Frederico Varandas e de Rúben Amorim confirmou ontem que pode lutar por outros títulos nesta época

O Sporting conquistou a sua nona Supertaça e foi uma vitória justa. Foi um jogo com bons momentos e com três bonitos golos. Mas, permitam-me, foi o jogo do regresso dos adeptos. Vimos jovens a sorrir, homens e mulheres com paixão e com máscaras, o prazer do regresso às bancadas, a alegria da conquista e a dor da e na derrota. Mas este Sporting  de Frederico Varandas e de Rúben Amorim confirmou ontem que pode lutar por outros títulos nesta época desportiva. Foi , por excelência, o regresso dos adeptos. O nosso regresso! 

Hoje arranca um novo período de desconfinamento. E como vimos ontem em Aveiro, na Supertaça Cândido de Oliveira, a essência do futebol regressou, na percentagem permitida, aos estádios de futebol. Foi o nosso regresso! Como ocorrerá hoje nos sete jogos da segunda fase da Taça da Liga que irão determinar, após o apuramento do Paços de Ferreira , os oito clubes que irão marcar presença na fase de grupos desta resistente  competição da Liga Portugal. Mas os cerca de dez mil espectadore(a)s que estiveram  ontem em Aveiro - em contraponto aos zero que estiveram na sexta-feira em Paços de Ferreira - marcam um novo tempo no desporto português após estes largos meses  de restrições e limitações, de estados de emergência e de calamidade, de pandemia e, agora, de caminho para uma endemia, de testes e de certificados, de angústia e de sofrimento. Agora aí estamos nós, os (as) adeptos. Sabendo dos cuidados que temos de ter, as condições a que estamos sujeitos e do distanciamento que temos de cumprir. E um estádio, ou um complexo desportivo, com a nossa presença, e a nossa paixão, transmite um novo alento, uma renovada confiança, uma diferente empatia, a necessária comunhão entre a bancada que a sente, e vibra, e o relvado que pressente, e se motiva. Nestes dias relia as Memórias de Adriano, uma autobiografia sobre a vida e a morte do imperador romano Adriano. E nela, com a excelência da sua autora, Marguerite Yourcenar, estão as viagens à volta do Império, a intriga palaciana e até a confissão da falta de sono, algo que a tantos e tantas atingiu durante estes largos meses: «A minha ampulheta provou-me que dormi apenas uma hora!» Da ampulheta de ontem aos relógios digitais de hoje temos de ter presente que o tempo é impercetível, que é imaterial e que não o podemos nem ver, nem escutar, nem tocar. E o tempo quantidade - que o era antes do Covid-19 - passou a ser o tempo qualidade, o tempo que tem de ser do outro, o tempo que é o relógio da Amizade que não se esquece. E é este tempo, agora claramente diferente, que temos de desfrutar. Com o regresso aos eventos e aos espetáculos, com o regresso ao pavilhão e aos estádios. Como foi ontem em Aveiro e será hoje na Amadora e em Famalicão, em Faro e na Covilhã, em Arouca e no Bessa. E também ali no complexo do Casa Pia. E no final da próxima semana em muitos, lindos e coloridos estádios com o arranque dos principais jogos do nosso futebol. E já a partir da próxima quarta-feira com milhares a assistirem às primeiras etapas da 82.ª edição da Volta a Portugal em bicicleta! E lá estarei  com o Pedro e o Paulo, entre tantos outros, na etapa da Torre, para ver, com o pelotão, Amaro Antunes, Gustavo Veloso, Joni Brandão... e Adrian Bustamante!     

Público voltou ontem a celebrar nas bancadas. É o regresso de alguma normalidade

Vamos entrar na última semana dos Jogos de Tóquio. E neste domingo, porventura antes de me lerem, já estaremos a sorrir com os resultados das nossas atletas no triplo salto e no peso e com o resultado da nossa equipa de andebol. O que sabemos é que já nos emocionámos com o bronze, bronze bem dourado, de Jorge Fonseca e poderíamos refletir acerca de uma construção/criação jurídicas, que sei que chegou a ter uma séria ponderação nos finais da primeira década deste século (!), para viabilizar, em razão de circunstâncias extraordinárias, a sua desejada e repetida admissão a uma força de segurança! Mas o que fica destes Jogos desertos, sem público, e até ao momento, é a confirmação de que as potências do mundo são as potências dos Jogos! Se olharmos para o ranking das medalhas a República Popular da China, os EUA e a Rússia, aqui mesmo que apenas com a designação do seu Comité Olímpico e sem bandeira e hino (!), e o País-cidade sede, o Japão, estão na liderança do conjunto as medalhas. E no mealheiro  do ouro, prata e bronze lá estão a Austrália e a França, a Itália e a Grã- Bretanha, a Coreia do Sul e os Países Baixos, o Canadá e a Alemanha. Aqui registo uma das surpresas pela negativa, o que não deixará de estar presente, pressinto, na renhida campanha eleitoral que vai dominar as atenções da Europa e do Mundo, tendo em conta o fim da era Ângela Merkel! E só uma nota geopolítica: Hong Kong tem, aqui, plena autonomia desportiva e tem três medalhas: um de ouro e duas de prata. Como São Marino também tem uma de bronze e as Bermudas uma de ouro! Singularidades do movimento olímpico. E é útil recordarmos que a então URSS só é reconhecida no concerto das nações desportivas 35 após a Revolução de 1917… e nos Jogos Olímpicos de Helsínquia de 1952! E que só em 1979 (!) ocorre o reconhecimento do Comité Olímpico da República Popular da China  e que a primeira participação de atletas representativos do governo de Pequim teve lugar, apenas, em 1984 nos Jogos Olímpicos de Los Angeles! É o registo do tempo e da História! 

Neemias Queta tornou-se o primeiro português a chegar à NBA e será jogador dos Sacramento Kings. Merece palavras de sinceras felicidades e de muita sorte. Mas a sua dedicação e o seu empenho, o seu talento e o seu profissionalismo, a sua profunda ligação a Portugal e às suas fortes raízes levam-nos, para além da época em que esteve, com brilho, no Benfica, a referenciar os oito anos que cresceu no Barreirense, este clube de formação de excelência, agora liderado no feminino, e com acrescida competência, pela Dra. Maria João Figueiredo, que merece público e justo reconhecimento. Mas, também, permite-nos  evidenciar um dos clubes de formação de referência de Portugal. No basquetebol e em outras modalidades que enriqueceram  e muito o desporto de Portugal.  Boa sorte Neemias Queta! E lá vou regressar, com a sabedoria do Professor Carlos e a sagacidade do Filipe, a ver, em direto, e com ampulheta de sono, a NBA!!!  

Na próxima quarta-feira o Benfica  de Rui Costa e de Jorge Jesus, mas acima de tudo e sempre o Benfica de todos os benfiquistas, tem os primeiros noventa minutos determinantes, diria que  decisivos, para o seu futuro próximo, em Moscovo. Acredito que vamos trazer da capital da imensa Rússia um resultado que alimente, bem reforçada, a esperança de ambicionarmos a necessária, desportiva e financeira, participação na fase de grupos da Liga dos Campeões. Mas para já a primeira etapa decorrerá em Moscovo! Bom jogo!