O nosso futebol está obsoleto
HÁ quem considere uma ofensa à história e ao desporto um projeto como o da Red Bull com alguns clubes de futebol. Que o RB Leipzig é uma produção artificial fruto do lado mais selvagem do capitalismo. Até pode ser, mas ao menos é uma relação comercial às claras, enquadrado numa regulação apertada e o estádio está sempre cheio.
Vejamos a Premier League: nenhuma das SAD dos 20 clubes participantes pertence aos sócios, mas a investidores, e não vemos manifestações de desagrado dos sócios ou adeptos por poderem assistir ao vivo ao melhor campeonato do mundo. Os adeptos do Arsenal habituaram-se a ter como dono do clube o mesmo que detém os supermercados Walmart, os do Chelsea a verem o russo Roman Abramovich a tomar decisões e os adeptos do Leicester veneram a família tailandesa Srivaddhanaprabha, que detém os foxes, campeões em 2016. E porquê esta aprovação geral? A razão principal: segurança. Desde 2004 que a Premier League criou um conjunto de regras para quem quiser comprar um clube. Tudo é escrutinado (inclusive o passado no país de origem) e a Football Association tem o poder de proibir ou retirar a propriedade a um determinado investidor se este tiver problemas com a justiça ou suspeitas de atividades ilícitas. Se alguém quiser comprar o Reading é a FA que tem de dar autorização (e não uma AG aos gritos) porque tem meios para isso e ganhou essa autoridade via estatal (os governos em Inglaterra encaram o futebol como uma atividade económica).
É urgente uma mudança em Portugal. O modelo de gestão dos clubes está obsoleto, o campeonato é desequilibrado, gera poucas receitas, a qualidade de jogo é fraca e as bancadas estão despidas. Temos bons jogadores e treinadores mas falta-nos bons decisores. Também na política.