O melhor momento do novo Sporting
Frederico Varandas vai - devagarinho mais vai - levando a água ao seu moinho. Sete meses depois de ter pegado num Sporting em farrapos, profundamente ferido por cinco anos de uma governação errática que (pode custar a muitos ouvir ou ler, mas tem de ser dito e escrito) colocou, ela sim, em causa o futuro do clube, o presidente leonino começa, enfim, a mostrar argumentos suficientes para que os sócios - os que nele votaram e os que não - comecem a olhar para o futuro leonino com um pouco mais de otimismo, sentimento que, tendo em conta aquilo que se viveu em Alvalade no último ano, não deve ser menosprezado.
É um facto que tem Varandas (e a equipa que o acompanha) ainda um longo caminho a percorrer até que possa sentir-se totalmente confortável numa cadeira que recebeu cheia de picos. A nível financeiro, já se sabe, a situação do Sporting era, e continua a ser, delicada. Porque preferiram Frederico Varandas e a equipa que o acompanha começar por esconder a dramática condição dos cofres de Alvalade é algo que ultrapassa a minha compreensão, até porque deram, com essa estratégia, uma arma de arremesso aos que continuam a ver em Bruno de Carvalho o messias e que dessa contradição se aproveitaram para a criação de mais uma teoria da conspiração quando a SAD foi obrigada a assumir aquilo que todos os que olhavam de forma lúcida para o Sporting já sabiam: não havia dinheiro, sequer, para cumprir as obrigações imediatas.
Foi a solução encontrada por Varandas a melhor para o futuro a longo prazo? É provável que não. Mas é, convenhamos, difícil encontrar a solução perfeita, ou até uma que disso se aproxime, quando se está com a corda na garganta. O negócio com o fundo Apollo deve ser visto, portanto, como a solução possível. Serviu, pelo menos, para aliviar um bocadinho o aperto e permitiu, para já, que o Sporting tenha conseguido, a fazer fé nas últimas notícias, pagar as dívidas que ameaçavam - parece brincadeira, mas é verdade… - até a participação do clube nas provas da UEFA na próxima temporada. «Enquanto a corda vem e vai, um tipo alivia as costas», costuma dizer o povo. É um bocadinho assim que se vive, por agora, em Alvalade em matéria de finanças. O que era preciso resolver foi resolvido como se pôde. E ganhou-se, talvez, tempo para perceber como resolver, lá mais para a frente, os problemas criados por esta solução. É complicada a vida quando não há dinheiro…
Há, depois, a outra parte, porventura a mais importante de todas no que ao futuro de qualquer presidente diz respeito: os resultados desportivos. Não há quem resista muito tempo no poder se não ganhar. Em especial se não ganhar no futebol profissional - que isso do ecletismo é muito bonito mas celebrar os títulos de hóquei em patins, andebol, voleibol, futsal, basquetebol ou atletismo, todos no mesmo ano, não se compara, para o comum adepto, à alegria de festejar um, mesmo que único, título de campeão nacional no futebol profissional sénior. É assim, atenção, no Sporting e em qualquer outro dos grandes. Não será ainda esta época que em Alvalade se voltará a celebrar esse título, é um dado adquirido. Provavelmente não será sequer nos próximos anos, tendo em conta que as diferenças para FC Porto e Benfica tendem a acentuar-se à medida que os dois rivais se banqueteiam com os milhões da Champions, deixando para o Sporting as migalhas da Liga Europa - e se é verdade que o dinheiro não ganha títulos… todos sabemos que ajuda bastante. Mas para já, em pouco mais de seis meses, Frederico Varandas tem já, no futebol profissional, uma Taça da Liga. E está na final da Taça de Portugal. Se a ganhar (ou até disso pode nem precisar, se os dragões forem campeões) pode até, imagine-se, discutir a Supertaça lá para o início de agosto. Pode não acontecer, mas tinha até piada que Varandas conseguisse, em menos de um ano, ganhar exatamente os mesmos troféus que Bruno de Carvalho conquistou em cinco. Acabaria com o mito de que para se ganhar tem de se falar muitas vezes e, de preferência, muito alto, mesmo que seja para dizer disparates. Frederico Varandas começou titubeante, estando calado quando devia ter falado e falando quando deveria ter estado calado. Parece, pelos últimos sinais, ter entrado no rumo certo. Assim o ajude quem tem, nesse campo, a função de o orientar…
Parte do segredo para o otimismo que voltou nos últimos dias a Alvalade chama-se, claro, Bruno Fernandes. E pensar que havia há uns meses (e continua a haver, pelo que se vai lendo nas redes sociais…) quem exigisse a cabeça de Sousa Cintra por fazer regressar o médio ou quem criticasse o jogador por ter rescindido contrato, apelidando-o de «traidor». O que dirão agora? Preferiam que Bruno Fernandes não tivesse voltado ao Sporting? Não vibraram com o golo que permitiu ao leão chegar ao Jamor, deixando ainda por cima pelo caminho o Benfica? Que lhes sirva de lição.