O mal-amado
Cada dia do julgamento do ataque a Alcochete é uma vergastada no lombo dum leão que continua ferido. As palavras do secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, quando disse que compreende a insatisfação de Frederico Varandas para com alguns dos adeptos do clube mas que isso é um assunto do foro interno do clube são uma chibatada na sociedade portuguesa. A esta pérola do pensamento político ainda juntou que «a mensagem, muitas vezes difundida, que há inação do Estado, não ajuda». João Paulo Rebelo disse isto, que é mau. Pior é ainda não ter havido notícia de que, no mínimo, levou um puxão de orelhas do chefe do Governo. A perspetiva do péssimo é que tal não aconteceu porque os políticos continuam a pensar que os problemas do futebol têm de continuar a ser resolvidos pelo futebol.
Estamos a 20 de dezembro de 2019, ainda tenho esperança que um dia destes os governantes portugueses percebam que o problema das claques e os delas adjacentes não são do futebol. Em Inglaterra compreenderam-no no final da década de 80 do século passado. Não se passou muito tempo. Só 30 anos. Mas esta é, apenas, uma pequena parte do problema. Talvez o maior seja continuarem convencidos de que o Desporto tem de continuar como um apêndice mal-amado do Ministério da Educação. Peço desculpa mas não. O Desporto, por força das suas inúmeras vertentes, tem de ter um ministério próprio. Na componente profissional porque é uma indústria e pode ter peso importantíssimo na economia; na lúdica porque não tem de estar associada à juventude - é bom que se comece a praticar em tenra idade, mas fundamental para a saúde pública é que se continue em idade adulta. Faz bem a tudo e mais alguma coisa. E o mais alguma coisa até pode ser na visão mais economicista porque a prática de desporto tira muita gente dos médicos e, por consequência, evita ainda gastos no Serviço Nacional de Saúde. Se não for por todas as outras coisas, ao menos que seja por esta.