O Liverpool-City e a... ressaca
Nada como a Premier para arrancar-nos do marasmo que atravessa, não raras vezes, o futebol indígena. Há sempre um Famalicão-Moreirense que de vez em quando quebra a rotina, mas a eletricidade de um Liverpool-City é hoje única no mundo. Cristiano deixou el clásico mais pobre, baixando inclusive os níveis de rivalidade, com Messi agora a reinar sozinho, o River-Boca é uma batalha em que o talento sofre para vir à tona e o Bayern-Dortmund depende da coesão da Gelbe Wand em cada temporada, sobretudo desde que Klopp rumou a Anfield.
Já todos adoram a Premier, há uma imensidão de gente que venera Guardiola e é impossível não achar pelo menos piada ao maestro que plantou e fez florir o gegenpressing nos reds. Juntos, os dois plantéis valem bem mais de dois mil milhões de euros e mesmo sendo de esperar embates de qualidade, ainda ficamos sem fôlego ao ver um campeão europeu e o eterno candidato a não quererem negociar espaço durante 90 minutos, ainda saltamos da cadeira com o tiraço de Fabinho, os cabeceamentos de Salah e Mané ou o passe a rasgar com a canhota de Arnold. Ainda achamos, a dez minutos do fim, que o tiro delicioso de Bernardo pode valer nova recuperação impensável, de tão british que seria.
Depois, a ressaca. Vamos de um espetáculo que vale todos os bilhetes para jogos que mais parecem de solteiros contra casados. Enquanto alguns paladinos justificam a falta de qualidade com maior equilíbrio, quando se observa um claro nivelamento por baixo e não se encontra igualdade nem na distribuição das receitas televisivas, a Liga continua a gritar por mais talento. Nos jogadores, mas ainda nos técnicos, nos dirigentes e nos árbitros. Dificilmente teremos entre nós um Liverpool-City, mas a distância para uma Inglaterra em brexit (e para as outras maiores ligas) é e será cada vez maior.