O lago na cabeça
Quando, por 2001, Jurgen Klopp se tornou treinador do Mainz 05, desconcertante foi o que primeiro fez: pegou no plantel e levou-a para estágio num lago na Suécia, pondo-a a viver, por lá, em cabanas sem eletricidade (e não só). O que parecia ser apenas extravagância, explicou-o assim:
- Se passarmos noites a dormir sobre raízes de árvores, a fazer fogueiras para nos aquecermos, a ir pescar o peixe para comermos, depois de o cozinharmos, tudo isso fazendo, ajudando-nos uns aos outros, como uma equipa - não haverá quem mais nos meta medo.
Essa sua criatividade poética tornou-se a metáfora perfeita do treinador que Klopp queria ser (e não mais deixou de ser). Ao sortilégio de alma, juntou-se outra linha de espírito: a que também tem metáfora numa frase solta antes dum jogo com o Arsenal, já no Liverpool:
- Wenger gosta de jogar, de ter a posse da bola. É como se a sua equipa fosse uma orquestra, às vezes com música silenciosa. Eu não, eu gosto mais de heavy metal…
No seu brado está tudo o que Klopp sente e o Liverpool é, está tudo o que Klopp quer do seu jogo e o Liverpool tira do seu jogo: que a bola não seja nunca utilizada como extravagância inútil, mas mais: que nunca a equipa deixe de a usar (ao ritmo do heavy metal), por entre a vertigem e a tabelinha, o frenesim e a triangulação, a volúpia e o fogacho.
Foi o que o Liverpool mostrou no Dragão, deixando-me a sensação de que se não é, de momento, a Melhor Equipa do Mundo - é a Melhor Equipa do Mundo a Jogar ao Ataque (e não apenas graças ao Salah, ao Firmino e ao Mané…) e, por isso, aconteceu o que aconteceu ao FC Porto. Mas porque Klopp também é como é de coração, não deixou de, apesar da mentira do 4-1, correr a abraçar jogadores portistas, largando-lhes em clamor:
- Gosto de equipas que se esforçam assim. Por isso adoro este FC Porto!
PS: Foi esse espírito (o do lago e o outro) que faltou ao Benfica (e a Bruno Lage, a Sérgio Conceição não) em Frankfurt.