«O futebol é um sítio que torna as pessoas felizes», Papa Francisco
'Sentido de pertença' é o espaço de opinião quinzenal de André Coelho Lima, jurista, empresário e associado do Vitória SC
1Recebemos o Benfica e não fomos capazes; como tantas vezes tem sucedido. O Benfica em Guimarães é uma espécie de malapata, mas desta vez, apesar de tudo — sobretudo apesar do resultado anormalmente desproporcionado —, o que aconteceu foi diferente. O Vitória teve a iniciativa do jogo, o Vitória chamou a si as despesas do jogo ofensivo, o Vitória teve de longe as melhores oportunidades do jogo e, no entanto, acabou derrotado de modo copioso face ao que sucedeu em campo. Claro que esta narrativa serve de fraco consolo, odeio vitórias morais e elas soam até a ridículo quando explicativas de um resultado como o que acabou por acontecer. Mas guardo como satisfação a postura que o Vitória apresentou, ignorando a luta pelo título, concentrando-se apenas na sua luta por um lugar europeu, e querendo vencer, ainda que viesse a perder. Se há umas semanas critiquei a postura do Vitória em casa frente ao Santa Clara — jogo que vencemos — agora só posso elogiar a postura da equipa e o alinhamento tático de Luís Freire. Perdemos, mas fizemos tudo para vencer.
Na análise ao jogo não pode ser ignorado o falhanço absolutamente inacreditável de Telmo Arcanjo, logo no 1.º minuto. Como não podem ser ignoradas as defesas do outro mundo de Anatoliy Trubin a um cabeceamento de Filipe Relvas e a um remate de Jesus Ramírez. Três golos feitos. Que teriam mudado a face da partida. Mas também aí se faz a diferença. Onde tivemos oportunidades claras para marcar, como a de Telmo Arcanjo, resolvemos ser displicentes; o Benfica, nas suas oportunidades, não o foi. Onde foi preciso aparecer um guarda-redes para fazer a diferença, ele apareceu. E são estes detalhes que definem os que vencem e os que perdem. No resto, na ambição de vencer, na postura e produção ofensiva, em tudo o resto, o Vitória fez o que devia ter feito. Mas o Benfica fez o bastante para sair mais feliz de um jogo em que, surpreendentemente (face às suas responsabilidades), foi o dominado.
2Os eventos que tiveram lugar este fim de semana na Porto International Cup são do mais primitivo e intolerável que pode acontecer em futebol. Agressões a jogadores no âmbito de um torneio amigável, agressões a jovens da equipa suíça do Meyrin FC levadas a cabo — segundo as notícias e as imagens — por familiares de jogadores da equipa portuguesa do SC Cruz, que além do que as imagens puderam documentar, foram ao ponto de dois jovens do Meyrin FC necessitarem de assistência médica devido a várias lesões e ferimentos, e conduziram mesmo ao abandono da equipa espanhola do Orillamar, é algo que não pode limitar-se a uma nota de rodapé.
Se uma situação desta natureza — agressões a jovens estrangeiros e abandono por outra equipa estrangeira sob o argumento de que «viemos aqui para jogar futebol, não para andar à pancada com ninguém» — não leva as mais altas autoridades do futebol a intervir, não sei para que servem afinal. Onde está a Federação Portuguesa de Futebol?
Há maior desprestígio para a imagem do futebol português e da nossa sociedade do que uma situação desta natureza? A Federação só intervém quando joga a Seleção e deixa o resto das modalidades andar à sua sorte? O torneio em causa lá prossegue indiferente ao ocorrido. Num país civilizado, o presidente da FPF já teria vindo a público condenar os eventos e anunciar medidas duras e inequívocas relativas à participação de familiares em encontros de futebol juvenil. Se chegámos à conclusão que as pessoas não são capazes de assistir civilizadamente aos jogos dos seus filhos e funcionam como um fator de deseducação, pois medidas têm de ser tomadas. O que não podemos é continuar a assistir impávidos a situações desta gravidade e assobiar para o lado como se não fosse nada connosco.
3Deixou-nos o Papa Francisco. Alguém que, com o seu exemplo de vida, procurou ensinar uma forma de estar que se encontra nos antípodas da postura a que me referi no ponto anterior. O chefe da Igreja Católica era um homem comum, «gente como a gente» e, também por isso, adorava futebol.
Na Argentina, Jorge Bergoglio não era adepto de um dos grandes, mas do San Lorenzo de Almagro, que não se compara com Boca Juniors e River Plate, apesar de ter vencido a Taça dos Libertadores em 2014. «Pode-se perseguir um sonho sem ter de ser forçosamente campeão», disse Jorge Bergoglio numa das muitas frases que nos inspiram, a nós, aos raros adeptos portugueses que fogem ao destino nacional de termos de torcer por um dos três chamados grandes, por vezes acompanhada da comiseração achincalhante de deixar sobrar uma simpatia pelo clube da terra.
O Papa Francisco considerava que «o futebol é um sítio que torna as pessoas felizes». No que tem toda a razão! E é precisamente por isso que atitudes que envergonham o desporto e o país, têm de ser banidas para deixar do futebol aquilo que dele queremos retirar: competição sã e felicidade.
Excelente trabalho, parabéns!!! Força Vitória!