O futebol a quem joga e treina
Todos queremos que volte, nem que seja por a ausência ilustrar o tempo de anormalidade. Enquanto o futebol persistir enclausurado, temos consciência de que não está tudo bem e continuamos numa roleta russa com receio de calhar-nos a única bala da câmara. Há, obviamente, pressão para que regresse e não apenas pelo prazer que dá. É que o muito dinheiro que movimenta torna os dirigentes, e não os adeptos, nervosos.
Os países com maior número de mortes organizam quatro das cinco principais ligas: Itália, mais de 15 mil; Espanha, mais de 12 mil; França, acima de sete mil; e Inglaterra, para lá de quatro mil. Escapa a Alemanha, que apesar de ser o quarto país em casos, apresenta taxa de letalidade baixa. Não há ainda certezas de que o pico tenha passado, e França e Inglaterra parecem estar a disparar em infetados.
Percebo em parte o retomar condicionado dos treinos na sempre racionalista Alemanha - que por evitarem certos comportamentos em campo reduzem risco -, mas não as ameaças do presidente da UEFA, Ceferin. A Bélgica tinha conseguido o mais difícil, o consenso, a Holanda parecia seguir no mesmo caminho e ao ser o organismo a querer forçar o regresso deixa mais evidente que os jogadores é que deveriam estar no topo da pirâmide e não na base. Forçar o regresso, mesmo à porta fechada, nada tem a ver com a natureza de espetáculo do jogo e evitará apenas que o negócio bata no fundo. Com custos.
Portugal, que levou a sério a pandemia, parece disposto a acatar as ordens da UEFA, porque também sabe que são raros os consensos no seu futebol. Mas enquanto o ex-advogado e tecnocrata Ceferin impõe prazos dos quais se arrepende, talvez fosse inteligente ouvir jogadores e ex-jogadores como Casillas. Ou treinadores, como Villas-Boas. Vozes bem mais avisadas.