O campeão de volta
Sporting e SC Braga retomam em Aveiro o duelo da época passada, ganho pelos leões. Amorim e Carvalhal têm tudo para nos oferecer uma grande final
VOLTA o campeão numa final que opõe as equipas melhor sucedidas da época passada. Lembre-se. O Sporting ganhou campeonato e Taça da Liga (na final com o Braga) e o Braga ganhou a Taça de Portugal. Ou seja, os três títulos foram repartidos por Rúben Amorim e Carlos Carvalhal, sobrando a Supertaça, que é um troféu, para Sérgio Conceição. É este mesmo troféu que está em jogo no sábado, em Aveiro, num jogo com muitos motivos de interesse, a começar pelo facto de haver muito Braga nesta equipa do Sporting (Rúben Amorim, Esgaio, Palhinha e Paulinho). Há vários pontos em comum entre os dois finalistas, a começar pelo perfil dos treinadores. São ambos excelentes comunicadores, líderes com personalidade vincada e ideias claras e definidas; não se acanham perante questões delicadas e mostram abertura de espírito perante a competição e os rivais; são, de certa forma, porta-vozes dos respetivos clubes para as questões que mais interessam aos adeptos, substituindo-se, se calhar com vantagem, aos departamentos de comunicação. Do ponto de vista do consumidor, com Amorim e Carvalhal diante do microfone tudo soa fácil e cristalino. Percebe-se o que querem, para onde vão e como querem chegar lá.
Depois, temos as semelhanças futebolísticas. Tratam-se de duas equipas feitas, com blocos sólidos e rotinados que não sofreram baixas por aí além (para já: João Mário nos leões, Esgaio nos guerreiros), o que garante desde logo uma certa continuidade. Ambos privilegiam a posse de bola e o futebol impositivo (no sentido de que fazem por dominar o adversário e o jogo) em detrimento de uma atitude mais cautelosa, de contenção/especulação. E depois têm ambos executantes de grande qualidade em todos os setores e para todos os gostos. Se o campeão nacional apresenta uma mão cheia de futebolistas com lugar em qualquer equipa nacional - falo de Pedro Gonçalves, Paulinho, Palhinha, Coates, Nuno Mendes (para não mencionar o lesionado Porro e Matheus Nunes…) -, o Braga responde com Al Musrati, Ricardo Horta, Fransérgio, Galeno, Abel Ruiz… ou seja, há condições de sobra para termos uma final entusiasmante, que mais não será que um prolongamento dos três jogos da época passada, todos maioritariamente dominados pelo Braga (mais posse, mais remates, mais oportunidades…), mas todos ganhos pelo Sporting a zero (Liga: 2-0 em Alvalade e 1-0 em Braga; Taça da Liga: 1-0 na final de Leiria).
A história e a estatística não decidem jogos, mas dão-nos padrões interessantes de analisar. Assim, o pior adversário do Braga em finais é indiscutivelmente o Sporting. Os leões ganharam todas as (quatro) que discutiram com os minhotos: Taça de Portugal em 1982 (4-0) e Supertaça no mesmo ano (7-3 em duas mãos); Taça de Portugal em 2015 (2-2; 3-1, gp); Taça da Liga em 2021 (1-0). Ou seja, 100% de aproveitamento. Lembre-se, a propósito, que os últimos títulos do Braga foram ganhos em finais com grandes (FC Porto, três vezes; e Benfica), mas por alguma razão a coisa não tem funcionado com os leões, senhores de larguíssima vantagem no histórico de confrontos com os minhotos: 94 vitórias e 35 derrotas em 152 jogos - a final de Aveiro será o n.º 153. O fascínio do futebol é que os números, os padrões e as tendências valem o que valem assim que soa o apito inicial.
Zero vírgula zero.
A DÉCIMA DE SALVADOR
POUCO mais de dez anos sobre a primeira final alcançada como presidente do Braga (Liga Europa, Dublin, 18 de maio de 2011, contra o FC Porto), António Salvador, 50 anos, chega à décima final (segunda na Supertaça) do seu longo consulado, iniciado a 24 de fevereiro de 2003 e ratificado a 21 de maio passado com 85,4% dos votos expressos pelos sócios. Se pensarmos que o Braga, em 100 anos de existência, disputou 15 finais, percebe-se melhor a importância da era Salvador na história do clube. Responsável por cinco dos sete títulos inscritos no palmarés dos guerreiros, Salvador é o presidente que pegou num Braga em crise profunda e transformou o clube no indiscutível quarto grande (em resultados e património), colocando-o num patamar muito acima daquele onde se quedaram os tradicionais rivais históricos (Vitória de Guimarães, Boavista, Belenenses, Vitória Setúbal, Académica…). Vencedor da Taça de Portugal em 2016 e 2021, da Taça da Liga em 2013 e 2020 e da Taça Intertoto em 2008, Salvador ainda não ganhou a Supertaça (foi goleado pelo Benfica, 0-3, na única a que assistiu como presidente) nem o campeonato. Mas há sempre uma primeira vez para tudo (mesmo que todas as finais com o Sporting tenham acabado em derrota).
Leões e bracarenses reencontram-se numa final. Na da Taça da Liga ganhou o Sporting
VARANDAS APONTA AO PLENO
FREDERICO VARANDAS eleito presidente do Sporting a 9 de setembro de 2018, completa o pleno de títulos domésticos no futebol se o SCP ganhar a Supertaça em Aveiro. Seria mais um feito num ano desportivo absolutamente notável para o clube lisboeta, tantas as conquistas e momentos de glória em diversas modalidades. O futebol do Sporting ganhou as duas taças nacionais na época de estreia de Varandas (2018/2019), ambas em finais com o FC Porto, ambas no desempate por penáltis, ambas com Marcel Keizer a dirigir. Seguiu-se uma temporada em branco (2019/2020) e depois (2020/2021) nova dupla conquista, com uma segunda Taça da Liga a anteceder a conquista do primeiro campeonato em 19 anos. Como se pode ver no quadro em anexo, desde que Varandas é presidente o Sporting é o clube melhor sucedido em termos domésticos (quatro títulos), à frente do FC Porto (dois títulos e duas Supertaças), Benfica (um título e uma Supertaça) e SC Braga (dois títulos, mas nenhum campeonato).