Negociatas

OPINIÃO06.08.202107:00

Este tipo de renovação automática nem sempre é válida e deve ser analisada caso a caso

UM dia após a chegada de Kaio Jorge a Turim para acertar as condições laborais com a Juventus, temos que recordar as declarações  do presidente do Santos, clube de proveniência do jogador brasileiro que chegou a ser alvo de proposta do Benfica. Para melhor enquadramento, o atleta encontrava-se no último ano de contrato e o clube de Vila Belmiro tentava obter o maior retorno financeiro possível face à quase inevitável saída a custo zero. O Conselho Deliberativo reuniu de emergência para debater o processo com base na informação providenciada pelo seu presidente e nas poucas propostas que surgiram. É daqui que resulta aquilo que foi declarado por Andres Rueda, o presidente do clube, quando anunciou que haviam proposto ao atleta de apenas 19 anos uma «oferta irrecusável». Ao estilo (ou não) do Padrinho, assim adjetivaram ingenuamente os dirigentes do Santos quanto às condições apresentadas ao jogador. O Santos estava, então, disposto a ceder 20% ao jogador do seu próprio passe (detestável palavra que deve ser entendida como direitos económicos), outros 20% ao seu empresário enquanto que o Santos ficaria com 60%. Ao mesmo tempo, o salário do jogador também aumentaria substancialmente mas perante a necessária contrapartida de uma cláusula de rescisão para o Santos transferi-lo pelo valor mínimo de €15 milhões. O jogador não aceitou e o Santos ameaçou com a ativação da renovação automática bilateral que existia, aparentemente, no contrato entre as partes. Este tipo de renovação, diga-se, nem sempre é válido e deve analisar-se caso a caso mediante a prova, entre outros aspetos, de que Kaio sairia claramente beneficiado. É curioso notar que, desde 2015, o artigo 18 do regulamento da FIFA sobre o Estatuto e Transferência dos Jogadores proíbe os clubes e jogadores de celebrar acordos com quaisquer terceiros que permitam a estes ter direito, quer por inteiro quer parcialmente, a qualquer compensação no âmbito de futura transferência do jogador. Só no futebol é que os cães ladram e a caravana passa!