Não repararam? O futebol está a mudar!
Jogadores, treinadores, árbitros, comentadores, ninguém se livra de responsabilidades num futebol viciado em telenovelas dramáticas
Ofutebol português está nos últimos lugares do ranking dos campeonatos com menos tempo de jogo. Não surpreende. A maioria dos jogos são um tédio, com mais tempo de faltas e faltinhas, interrupções desesperantes, demoras injustificadas, teatralizações de lesões que parecem obrigar a transporte imediato para as urgências dos hospitais e que terminam com o jogador fresquinho e sem um arranhão. Todos nós vimos, ouvimos e lemos e, por isso, não podemos ignorar. O futebol português está viciado em telenovelas dramáticas. Os jogos vivem num constante pára-arranca como se fossem jogados na entrada das grandes cidades à hora de ponta. E isso tira ritmo, rouba intensidade, diminui o tempo de jogo para números que envergonham.
Poder-se-ia dizer que essa é a maneira dos pequenos se defenderem dos grandes. Não é verdade. O problema é mais profundo, é cultural e tem de ser, urgentemente, atacado. Na verdade este é mesmo um vício que nos apanhou a todos. Jogadores, treinadores, árbitros, comentadores de futebol. Vamos por partes:
JOGADORES - Voltámos à teatralização dos lances. Um toque no peito leva a maioria dos jogadores a contorcer-se com dores agarrados à cara na tentativa, por vezes patética, de tirar proveito de uma pretensa agressão. Voltaram as quedas na área, à procura da ajuda do VAR que vê contactos, mas não mede intensidades. Regressaram as faltas estúpidas, aquelas que são cometidas pelos defesas quando os avançados estão de costas para a baliza, entradas sobre as pernas sem qualquer intenção de jogar a bola, demoras escandalosas quando o resultado é conveniente. A ideia generalizada nos jogadores do campeonato português é que o crime compensa e que o melhor ator consegue as melhores vantagens.
TREINADORES - «Deixa-te ficar no chão» - exigem, alto e bom som, alguns treinadores quando querem que a sua equipa tenha tempo para respirar. Muitos deles são incentivadores do penáltis cavados, de mudança de personalidade em função do resultado. Estar a ganhar ou a perder faz mudar conceitos, arrasar princípios, desmoronar uma ética profissional e, não menos importante, dar um sinal errado do que deve ser um verdadeiro líder.
ÁRBITROS - São o elo mais fraco e defendem-se. Sabem que podem contar com uma estrutura de classe que é muda e cega a críticas e a uma avaliação honesta, protegendo os piores e nivelando a qualidade da arbitragem por baixo. Os árbitros dançam, pois, conforme a música. Dirigem os jogos com um cartão amarelo numa mão e o apito sempre na boca. Parar o jogo é uma forma de correrem menos, cansarem-se menos e por isso errarem menos por fadiga. O cartão é a sua maneira de mostrar uma autoridade não conquistada em campo e, não raras vezes, uma maneira de agradar ao estimável público da casa ou dos grandes. O árbitro, à semelhança do jogador, tornou-se num ator. Alguns, mesmo, nuns artistas. A mudança na cultura de arbitragem em Portugal é essencial à melhoria do jogo.
COMENTADORES DESPORTIVOS - Há comentadores de toda a espécie. Desde aqueles que conhecem o jogo aos que dele nem têm uma leve ideia. Não importa. A ignorância é amiga do ruído e o ruído é amigo das audiências. A verdade é que há demasiados comentadores comprometidos com a preocupação de não desagradarem a quem os poderá proteger. Por isso muitos dos comentários feitos por alguns (não todos) os comentadores entram no domínio da propaganda e das fake news. Poderia ser irrelevante se não contribuíssem, de facto, para ajudar a viciar o jogo em Portugal.
MUITO BEM SC BRAGA
A recente vitória do SC Braga para a Liga Europa contrastou, pela positiva, com o medíocre resultado do FC Porto, até porque ambos tiveram adversários franceses. Pode dizer-se que a equipa de Carlos Carvalhal teve a sorte do jogo, mas a verdade é que, sem grande exposição mediática, o SC Braga prossegue de forma firme e personalizada o seu trabalho de renovação da equipa profissional de futebol, assente num critério rigoroso de aproveitamento da formação. Dá trabalho, pede tempo e paciência, mas começa a dar bons resultados.
NÃO HÁ GUERRA SEM SOFRIMENTO
E, de repente, todos os setores da vida empresarial portuguesa levantam o braço e exigem medidas especiais de apoio e de proteção. A pecuária, a agricultura, o setor dos transportes, das pescas, da indústria, enfim, o País descobriu que, pior do que uma pandemia, é uma guerra na Europa. O problema das guerras é que causam danos diretos e danos colaterais. Não há guerra sem sofrimento, sem esforço, sem crise. Preparemo-nos, pois, para o que ainda haverá de vir e, aqueles que são crentes, rezem para que a guerra acabe depressa.