Mulher de César
O Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol publicou o Código de Conduta, documento que compila algumas das regras pelas quais se deve reger o setor da arbitragem.
A medida visa impor a todos os seus elementos um comportamento adequado nos campos ético e moral.
A função desempenhada pelos árbitros pode ter influência nos resultados das competições que dirigem. A força dessa evidência e o impacto crescente que o futebol tem na sociedade, deve exigir dos seus atores uma conduta irrepreensível, definida através de uma linha de orientação que defina as boas práticas que devem adotar.
Dos vários pontos que compõem o documento, alguns merecem destaque pela força positiva da sua mensagem:
- Os árbitros devem evitar incorrer em situações de conflito de interesses e ter uma conduta credível em campo, atuando com seriedade. Devem ser imparciais, educados e leais à sua estrutura. Devem ainda tratar, com respeito e elevação, todos os intervenientes no jogo, ainda que estes não respondam de igual modo.
A outro nível, devem recusar prendas ou benefícios que excedam o «valor razoável» daqueles que são os hábitos culturais locais e devem também denunciar qualquer tipo de fraude ou tentativa de manipulação de resultados.
Por último, devem na sua vida pessoal ser um exemplo público, de modelo ético para todos.
Este último ponto parece-me extremamente importante.
Um árbitro de futebol profissional ou dos escalões inferiores tem que ter noção que representa a classe. Tem que entender que muita da sua credibilidade assenta na imagem que os outros têm de si. Essa imagem resulta, quase sempre, da forma como se posiciona perante todos.
Não basta que sejam competentes em campo. É também fundamental que saibam adotar comportamento elogiável fora dele.
Há quem desconheça ou escolha ignorar essa premissa importante.
As redes sociais estão inundadas de árbitros que acham que lhes fica bem usar, na foto de perfil, a camisola do clube da sua preferência. Há outros que não se abstêm de insultar colegas de profissão, devido a arbitragens que entendem lesar a equipa do seu coração.
Há também os que tiram selfies na vistoria ao terreno de jogo ou, pior, levam o telemóvel para o campo, para poderem enviarem SMS sempre que a partida estiver paradita. Há poucos dias, um árbitro assistente mais jovem passou o jogo nisso, embora tivesse o cuidado de só o fazer quando a bola estava no meio campo contrário. Sensatez no meio de profunda estupidez.
Não é mau. É inaceitável.
Para exigimos dos outros, temos que dar o maior dos exemplos e estes são a pior propaganda que a arbitragem podia ter.
É importante que os responsáveis do setor estejam atentos a estes fenómenos emergentes. É também a sua imagem e competência que estão em causa.
O recrutamento é difícil mas para ter qualidade deste calibre, mais vale contar com os que cá estão.
Dá muito trabalho construir um edifício, mas para destrui-lo basta um abanãozito qualquer.
A arbitragem é como a mulher de César...