‘Muchas gracias’!

OPINIÃO09.09.202206:30

A propósito, mas não só, da estreia a ganhar do Benfica na presente Liga dos Campeões

A PESAR da polémica em que se envolveu - e se viu envolvido - no final da última época, Grimaldo tem todo o ar de não ser, realmente, mau rapaz, no sentido em que parece dar sempre tudo (ou quase tudo) o que tem pela equipa, pelo compromisso que sempre (ou quase sempre) pareceu mostrar, pelo modo como parece continuar a envolver-se com companheiros, a camisola, clube e adeptos.
Julgo que ainda não saberemos (pelo menos, nós, que observamos de longe) todos os detalhes (os mais e os menos importantes) do que na verdade aconteceu com Grimaldo naquele muito infeliz episódio do final da época passada (por alturas do nascimento da filha) - último jogo do campeonato, para ser exato - antes do qual o defesa terá manifestado, pelos vistos da pior maneira, decisão de não jogar. Se foi exatamente assim ou não, creio, sublinho, que a verdade não estará toda contada ainda, e talvez demore a ser plenamente revelada, se é que alguma vez acabe por ser plenamente revelada.
Seja como for, terá o Benfica decidido apenas multar Grimaldo (no pouco que foi tornado público) sem, porém, terem os responsáveis encarnados criado qualquer cenário de conflito que pudesse conduzir a um irreversível divórcio com o futebolista. Se o Benfica multou duramente ou não Álex Grimaldo, na realidade não se sabe; mas sabe-se que fez tudo para continuar a contar com um jogador, a dias de completar 27 anos (nasceu a 20 de setembro de 1995), que cumpre imagine-se, a oitava (!!!) época na Luz, recrutado que foi ainda muito jovem, em 2015, na equipa B do Barcelona.
Mas se o que sucedeu antes do último jogo do campeonato passado (Benfica jogou sem Grimaldo em Paços de Ferreira) foi mesmo o que se disse que aconteceu, não deixa, por outro lado, de ser um bocadinho estranho, vindo de um jogador que jogou quase sempre mais (muito mais, nalgumas temporadas) de 40 jogos nas últimas quatro épocas, e que raramente se constipou, apesar de algumas lesões  - problemas mais graves, recordo, rotura de ligamentos num dos joelhos antes de chegar ao Benfica, que o afastou quase um ano do jogo, e a maldita pubalgia, já nas águias, que o fez estar em apenas 21 partidas na época 2016/2017. Além disso, trata-se na verdade de um jogador que sempre pareceu esforçar-se para compensar com arte algumas das insuficiências que, ao longo deste tempo na Luz, foi revelando a defender.
Seja o que for que tenha sucedido, tenha ou não sido muito, pouco ou simplesmente nada grave o que envolveu Grimaldo no adeus do último triste campeonato para o Benfica, hoje ele parece um Grimaldo renovado, mas envolvido como sempre, determinado como sempre, comprometido com a equipa como sempre pareceu estar, apesar das fragilidades que se possam apontar-se ao jogo de Grimaldo, seja por se entender que é muito mais forte a atacar do que a defender, seja por se considerar que nunca defenderá tão bem como ataca.

E SSE Grimaldo chegou esta semana ao 20.º golo pela águia, fixando-se agora no 6.º lugar entre os defesas que mais golos fizeram pelo Benfica, com Humberto Coelho na liderança, graças aos notáveis quase 80 golos, seguido de Luisão (47), Ricardo Gomes (26), Pietra (25) e Maxi Pereira (21), segundo estatísticas do próprio Benfica.
E não podia Grimaldo ter chegado a esse lugar com um golo melhor do que o extraordinário golo que marcou, na Luz, na última terça-feira, na estreia do Benfica na fase de grupos da presente Liga dos Campeões. O golo de Grimaldo, daqueles de levantar plateias e para recordar, é um grande golo aqui ou em qualquer parte do mundo, e bem mereceu ficar ligado à vitória sobre os israelitas do Maccabi Haifa, uma equipa, apesar da derrota, bem melhor do que aquilo que normalmente aceitamos que seja, pela modéstia do currículo, da dimensão e do estatuto, como se apenas isso fosse suficiente para ganhar jogos, num tempo em que há cada vez menos equipas fracas e cada vez mais equipas capazes de jogar o suficiente para surpreender os que se julgam mais fortes, como acaba de fazer, por exemplo, o Dínamo Zagreb ao poderoso Chelsea, campeão europeu só há menos de ano e meio!
O fantástico golo de Grimaldo serviu também para a tradicional mensagem  dedicada ao nascimento da filha - bola por baixo da camisola, junto à barriga, e um dos polegares na boca, a imitar a chucha, é sempre celebração evidente… -, e esse é o lado bom da coisa, mas serviu ainda, e esse é o lado, infelizmente, mau, para Grimaldo mostrar (ao falar como homem do jogo) como não se esforça (e nunca se esforçou) para, ao cabo de mais de sete anos a viver em Portugal, ser capaz de soletrar uma palavrinha que fosse em bom português, ao contrário do que fizeram outros estrangeiros na Luz, é justo reconhecê-lo, que se esforçaram por conseguir falar qualquer coisa na nossa língua, como, por exemplo, com muitíssimo menos tempo de Benfica, dois jogadores que acabam de deixar Lisboa, como Weigl e Vertonghen.
Não devemos deixar igualmente de lamentar (para não dizer outra coisa) que, no Benfica, nos mesmos sete anos, ninguém, pelos vistos, se tenha esforçado (santo Deus, que insensibilidade!!!) por impor a Grimaldo, ou, no mínimo, fazê-lo entender, que deveria conseguir com que todos compreendessem claramente o que diz. A culpa é, pois, dele, Grimaldo, mas não é só dele.  Na verdade, Grimaldo - como todos os outros jogadores - fala tão pouco para os adeptos (e essa responsabilidade é, exclusivamente, do clube) que nem se dá ao trabalho, sequer, de conseguir dizer um modesto, e verdadeiramente simples, obrigado. E se calhar até sabe. O que é ainda pior. Parece impossível!

C ONSEGUINDO, ou não, expressar-se na língua de Camões, dentro do campo este Benfica expressa-se, porém, para os adeptos, numa linguagem de algumas boas sensações, associadas, evidentemente, às dez vitórias em dez jogos oficiais, e à tremenda dose de confiança, ânimo e alegria.
Claro que é, ainda, muito discutível a solidez e a qualidade exibicional da equipa do alemão Roger Schmidt. Há os que apontam deficiências no equilíbrio da equipa, sobretudo nos chamados momentos de transição - quando perde e quando recupera a bola - e há os que a veem numa fase ainda muito inicial de consolidação do modelo de jogo. Entre as diferentes qualidades e os diversos defeitos, registo talvez a maior das diferenças: o novo ar que parece respirar-se no balneário da Luz e o evidente respeito que parece ter ganho a liderança de El Comandante Otamendi. Não é coisa pouca!

NÃO tenho o hábito de aqui escrever sobre assuntos não desportivos, mas não resisto a comentar este, pelo que mexe, e de que maneira, com a vida das pessoas. Lembrou-se a autarquia de Lisboa de tornar gratuitos os transportes públicos para os estudantes menores de 23 anos residentes na capital. Em si mesma, é, naturalmente, medida que se aplaude, fosse qual fosse a circunstância, mais ainda quando a circunstância é a que é, com este cenário de tremenda dificuldade que vem assolando a vida dos portugueses. Mas pergunto: a maioria dos estudantes que precisaria de transportes gratuitos reside em Lisboa ou vem de fora de Lisboa estudar para Lisboa? Pelo menos em tese, podemos, com toda a legitimidade, questionar quem vive com mais dificuldades, se os pais de estudantes que vivem em Lisboa (onde se tornou caríssima a habitação, por exemplo) ou os pais de estudantes que são obrigados a viver nos concelhos à volta de Lisboa e são obrigados a ter os filhos a estudar em Lisboa, muito em particular nas universidades que só existem em Lisboa?
Se a ideia será, realmente, ajudar as famílias num momento tão difícil como o que vivemos hoje, que tal pensar em toda a área metropolitana de Lisboa (a léguas, a mais populosa do País) e definir transportes gratuitos, já não digo para todos, mas pelo menos para os estudantes com menos de 23 anos que, para estudar, se vejam forçados a sair do concelho onde residem para estudar em Lisboa? Isso, sim, faria sentido. Muito mais sentido. Ou estarei a ver mal o filme?!

PS: Por razões de força maior, o texto principal desta minha regular página de opinião foi escrito antes dos jogos de FC Porto e Sporting, da última quarta-feira, naturalmente também em estreia na presente edição da Liga dos Campeões. Tive, pois, de deixar apenas estas últimas linhas (que me perdoe o leitor) para o que esperava (e desejava) que fossem mais duas vitórias portuguesas na Champions. Fantástico, gigante e surpreendente, o Sporting deu um valente murro no estômago do detentor da Liga Europa e levou-o ao tapete por KO. Injustamente - mas o futebol é isto mesmo... - o FC Porto saiu de Madrid com derrota muito difícil de digerir e mais indigesta ainda pela inaceitável atitude de Taremi. Queixa-se o FCP do árbitro. Mas sem razão. O jogo só termina quando o árbitro apita, é máxima incontornável. E que tal lamentar o Dragão que, no mesmo pontapé de canto, dois adversários tenham conseguido cabecear à vontade e dado a  machadada final? Custa muito, claro que custa. Grande voltou a ser, ontem, na Liga Europa, o ‘grande Braga’!