Fábio Veríssimo mostra o cartão vermelho a Diomande no AVES SAD-Sporting do último domingo, 23 de fevereiro, jogo da 23.ª jornada da Liga que terminou com um empate a dois golos
Arbitragem, aqui com Fábio Veríssimo a expulsr Diomande, do Sporting, volta a estar na ordem do dia (GRAFISLAB)

Dos dias tristes e dos dias agitados

OPINIÃO25.02.202509:00

O poder da palavra é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, ex-árbitro e atual comentador de arbitragem

1 — A primeira mensagem desta crónica é dedicada a Manuel Sérgio e Jorge Pombo, referências nas respetivas áreas e que infelizmente deixaram-nos nos últimos dias. Tive o enorme prazer de privar com ambos, bebendo de um e de outro saberes que jamais esquecerei. Manuel Sérgio era um homem completo, à frente do seu tempo, com uma inteligência e sensibilidade fora do comum. O Prof. Pombo foi para muitos a maior referência em matéria de leis de jogo. Tinha uma capacidade única em explicar as regras, transmitindo melhor do que ninguém o seu alcance teórico e prático. Estes dois rapazes de noventa e muitos anos tinham mais em comum do que possamos pensar. Para além de sabedoria para dar e vender, eram elegantes no trato, humildes na forma de ser e estar e apaixonados na partilha de histórias de outros tempos. A lucidez de ambos fazia corar de inveja qualquer garoto de cinquenta ou sessenta. Que descansem em paz e que as suas imensuráveis lições de vida perdurem para sempre nas nossas mentes e nos nossos corações.

2.— As decisões de arbitragem continuam a gerar discussões acesas, comentários crispados e agora posições públicas mais apimentadas, transportando-nos para tempos a que não devemos nem podemos voltar. Independentemente da justiça ou injustiça de cada opinião ou da forma como é explanadas,.cabe à arbitragem a sensatez e inteligência de filtrar essencial de acessório, aproveitando tudo o que lhe acrescenta. Tudo o que lhe puder servir de ensinamento. A crítica pode ser muito útil, se convertida em oportunidade de melhoria. E a verdade é que, por muito difícil que seja a missão (e é!!), há situações que não podem acontecer em alta competição. Há decisões que não são aceitáveis quando hoje há meios que permitem evitá-las. É fundamental que os árbitros se consciencializem que o futebol profissional exige compromisso, foco e entrega totais, a cada minuto, a cada momento de jogo. Os treinos diários, os cursos regulares, os estágios constantes, tudo aquele trabalho quotidiano, são apenas meios para chegar a um fim:  acertar o mais possível. Para isso é necessário, claro está, que a estrutura providencie aos seus principais agentes condições de excelência para desempenharem o seu trabalho com qualidade. Tem que ser cada vez mais assim assim, porque só quem dá tudo tem o que pode tem o direito de exigir o máximo em troca.

3 — O último Aves SAD-Sporting foi pródigo nesses momentos, os tais que podem potenciar falatório durante semanas. E, de facto, foi o que aconteceu. Desde câmaras fixas instaladas em postes de eletricidade que não pertencem ao operador a imagens revistas em campo que tiveram como decisão expulsão por acumulação de amarelos, sem esquecer a chapada que só valeu uma advertência, aconteceu de tudo um pouco em Vila das Aves.Independentemente do acerto ou erro na avaliação desses lances — algo irrelevante para o ponto agora em apreço —, o que dali sobressai como evidente é a certeza de que há coisas que devem ser muito melhoradas em termos de comunicação.

Depois do famigerado episódio do telemóvel no Estádio do Dragão (o tal recurso de backup que só se ouviu falar depois de ser utilizado para decidir lance relevante no jogo), houve no passado domingo momentos que as pessoas não perceberam porque simplesmente não sabiam que eram possíveis. Sim, as tais câmaras IP são válidas e oficiais, existem em alguns estádios (não em todos) e o VAR tem legítimo acesso às imagens que transmitem. Já aconteceu mais vezes, noutras ocasiões. E sim, o árbitro pode efetuar uma segunda advertência após rever as imagens se a recomendação do VAR teve como base possível vermelho direto.

Se todas estas situações fossem claras, se todos estes processos fossem comunicados com frequência para o exterior, de cada vez que o homem mordesse o cão, todos saberiam que o cão poderia ser mordido pelo homem. Parece difícil até ser feito. Depois é fácil. Não raras vezes a arbitragem e os árbitros são vítimas de condutas censuráveis, que nos fazem crer que civilização e civilizado são conceitos muito diferentes. Mas temos que ter a capacidade de reconhecer que, num bom par de vezes, é a arbitragem quem involuntariamente lança o fósforo para a própria fogueira. É aí que perde moral para se queixar da força que o fogo tem.