Mick Schumacher
Em 2001, Dale Earnhardt, histórico piloto da NASCAR, morreu na última volta de Daytona, aos 49 anos. Foi contra o muro. Nessa corrida seguia o filho, Dale Earnhardt Jr., que nem com a desgraçada proximidade se atemorizou e continuou a vida em provas, até 2017, tendo então recapitulado: «Quando o meu pai morreu eu tinha duas opções: passava a ter medo das corridas ou tentava honrar o nome dele, o meu.»
Em 1982, Gilles Villeneuve, sagaz piloto canadiano de Fórmula 1, faleceu numa qualificação na Bélgica, aos 32 anos. Bateu noutro carro, capotou. O filho Jacques Villeneuve era criança e haveria de tornar-se campeão do mundo. «A minha mãe atendeu o telefone e percebi logo. O lado bom da morte do meu pai, o lado bom do medo, foi ter feito de mim o homem, o pai, que sou», diria mais tarde Jacques.
Na terça-feira, Mick Shumacher, 20 anos, fez testes num F1 da Ferrari, seis anos depois do acidente do pai, Michael, que esquiava durante umas férias e bateu com a cabeça numa pedra.
Ainda que Dale Earnhardt Jr. e Jacques Villeneuve também tenham seguido as pisadas dos pais vitimados, Mick parece caso distinto, até intrigante. Os dois primeiros terão descoberto força no medo, foi o medo que lhes deu sentido para a vida. Mick, em todo o caso, encontrará força diferente, arrisco: a garantia de que os perigos são sarcasticamente aleatórios, pois o pai venceu sete mundiais de F1, passou a vida a 250 km/h, e afinal ficou tetraplégico a esquiar, já retirado.
Vou acentuar a diferença a que me refiro: uns tiveram medo daquilo, souberam bem o que era aquilo, o que recear, e só tinham efetivamente duas saídas: ou tinham medo de correr ou não tinham medo de correr. Já Mick, pela destruidora ironia que acidentou o pai, lidará com outras opções mas que, no limite, talvez possam até levar a uma decisão mais simples: ou se tem medo da vida ou não se tem medo da vida.