Massamá, Coimbra, Cascais e Tomar

OPINIÃO15.01.201903:00

NOS últimos dias, alguns jogos voltaram a ficar manchados por momentos de inesperada violência. Desta vez, o alvo preferencial não foram árbitros ou treinadores, mas sim adeptos. Adeptos que, entre si, deram um espetáculo evitável e deprimente. Além das cenas que ocorreram no Académica-UD Leiria (em juniores), no Cascais-Algés (em infantis) e no Escola Tomar-Ferreira Zêzere (em juvenis), o caso mais mediatizado - o do Real Massamá-D. Beja (iniciados) - mostrou-nos imagens que não deixaram ninguém indiferente. Às vezes, é preciso ver para crer. Para sentir e perceber. Tudo aconteceu à frente de miúdos de 12/13 anos que, por momentos, pararam de fazer o que mais gostavam para assistirem, angustiados, à figura que meia dúzia de pais andava a fazer nas bancadas. Que rico exemplo receberam dos seus progenitores.


Na falta de melhor solução, a divulgação deste tipo de situações e respetiva exposição mediática têm, acreditem, forte efeito profilático. A denúncia pública consciencializa a sociedade para aquele que é, por esta altura, o mais preocupante problema do desporto português; expõe ao embaraço todos os que participam ativamente nessas figuras; inibe, pelo receio ou pela vergonha, potenciais arruaceiros de fazerem o mesmo, num futuro próximo; e sensibiliza clubes, associações de futebol, autarquias e forças de segurança para, em conjunto, atuarem no sentido de prevenir e erradicar este tipo de fenómenos. Vergonha não é mostrar. Vergonha é agir como um animal e achar que isso não tem consequências.
Um exemplo de coragem que merece a minha vénia é o que nos dá o município de Almeirim: a Câmara Municipal iniciou um projeto designado Pais desportistas são pais responsáveis. A ideia é, claramente, atuar ao nível da sensibilização (houve reuniões e existem regras, flyers, bandeiras de fair play nos recintos, etc). No entanto, se houver algum incidente grave - e até agora não houve - a autarquia pode tomar uma de três medidas: se o clube aceitar impedir o adepto em questão de assistir aos treinos/jogos do filho(a), assunto encerrado; se tentar fazê-lo e o adepto não cumprir, o filho(a) deixa de poder jogar na equipa; se nada fizer, o respetivo subsídio camarário é cortado. Prevenir com garra, reagir com determinação. Parece-me boa estratégia.


Algumas forças policiais do distrito de Santarém têm também dado exemplo fácil e aparentemente eficaz: depois de um ou dois avisos firmes, levantam autos de contraordenação a adeptos que, na sua opinião, tenham sido autores de evidente incitamento à violência. Os 500 euros de multa costumam ser suficientes para evitar gracinhas do género nos jogos que se seguem.


Há, de facto, um caminho a ser feito a vários níveis. As medidas-paracetamol são generosas e pontualmente suficientes, mas não resolvem a questão de fundo, que é mais global, estrutural: esta tendência só começará a inverter-se quando houver um investimento claro e sério na prevenção, educação e formação das pessoas. Para além disso (a mais importante opção), é igualmente fundamental ser mais célere e duro à posterior: o agravamento de sanções desportivas e de molduras penais têm de ser uma realidade ainda mais evidente do que já vão sendo, porque as coisas, tal como estão, não podem nem devem continuar.