Lutar, acreditar… ousar!

OPINIÃO24.11.202106:00

Jesus foi competente em Camp Nou, Amorim tenta proeza perante ‘tanques’ alemães e Sérgio sabe que o FCP tem de marcar em Anfield…

JORGE JESUS foi sólido e pragmático na forma como abordou o jogo de Camp Nou e saiu premiado com um ponto que pode valer a qualificação para os oitavos, muito embora o Barcelona continue a depender de si próprio - tem é de ganhar em Munique, o que não é nada fácil. O Benfica sabia que, acima de tudo, era imperioso não perder e apresentou-se à altura das circunstâncias perante um Barça generoso e carregado de juventude mas, naturalmente, sem a qualidade, experiência e acutilância dos últimos anos. Houve dois golos anulados pelo VAR (Otamendi e Ronald Araújo) e  20 minutos finais de grande inquietação por causa da velocidade do fantasista-individualista Ousmane Dembelé. Mas não foi o único que arrancou ooohs à bancada. Seferovic também deu nas vistas ao falhar de baliza aberta um golo cantado nos descontos que impediu Jesus (ajoelhou, incrédulo) de festejar o apuramento. Do ponto de vista defensivo o Benfica fez um belo jogo: coeso, organizado e extremamente solidário. Otamendi foi gigantesco até no desarme crucial a Dembelé em cima do minuto 90, Grimaldo muito bem até entrar Dembelé e Vlachodimos, de longe a grande figura encarnada nesta Champions, juntou mais uma parada estratosférica à coleção (67’, desviando forte cabeçada de De Jong). Agora falta vencer o Dínamo Kiev na Luz e esperar que o Bayern não se distraia com o Barcelona. 
 

Jorge Jesus ajoelhou-se em Camp Nou depois do incrível falhanço de Seferovic aos 90+4’. Podia ter saído de Barcelona bem melhor a águia


Já o FC Porto em Anfield precisa de marcar pelo menos um golo para poder ser feliz, isto é, sair com um resultado positivo perante um Liverpool já apurado que, muito provavelmente, não vai apresentar-se na máxima força (Klopp costuma fazer rotações nestas circunstâncias). Ainda assim, Sérgio Conceição sabe que precisa de marcar porque é praticamente certo que o Liverpool, mesmo sem os craques todos, não vai ficar em branco. Em 18 partidas nesta época os reds marcaram 53 golos (à incrível média de três por jogo!) e só numa ocasião se ficaram pelo golo solitário (1-1 com o Chelsea em casa). De resto, a equipa inglesa fez sempre dois ou mais golos, o que significa problemas terríveis para a defesa portista, tal a facilidade, velocidade e linearidade (bastam três ou quatro toques) com que a máquina rock n’roll de Klopp chega à baliza contrária. Quem viu os lances do 3-0 (Salah) e 4-0 (Minamino) ao Arsenal no último domingo percebe o que quero dizer. O FCP, que nunca venceu o Liverpool (vão nove jogos) e nunca venceu em Inglaterra, precisa, a meu ver, de superar as atuações personalizadas e corajosas de Madrid e Milão para poder ter alguma chance de sobreviver a Anfield. É difícil, sim; mas se há equipa portuguesa talhada para as missões impossíveis da Champions é precisamente esta.  

Rúben Amorim vai hoje a jogo com uma certeza agradável: se o Sporting não conseguir ganhar ao Dortmund [e falhar a qualificação para os oitavos] ninguém o arrasará por isso. Tem tudo a ver com as expectativas. Vejamos. Do Sporting, clube sem expressão na Champions, ninguém esperava ao fim de quatro anos de ausência que conseguisse, na época de regresso, com Ajax e Dortmund no grupo, o que só tinha conseguido uma vez (Paulo Bento, 2009) em oito participações. Em boa verdade, quantos adeptos sportinguistas imaginavam que o campeão nacional, depois de se estrear com um doloroso 1-5 em casa com o Ajax, chegaria à 5.ª jornada da Champions com possibilidades reais de seguir para a fase eliminatória - tão reais que basta (entre aspas, claro) uma vitória de 2-0 sobre a equipa que vem de apanhar 7-1 do Ajax em dois jogos? Dito assim, parece uma tarefa mais ou menos acessível aos leões, para mais estando o Dortmund desfalcado do goleador Halaand, do central Hummels e do extremo belga Thorgan Hazard, o tal que nos lixou no último Europeu. Mas Rúben Amorim é inteligente e sabe o que representam estes alemães (distam apenas um ponto do super Bayern). Representam frieza. Força. Calculismo. E a maldita eficiência que tantas e vezes tem desvatado as esperanças do futebol português. Precisa o Sporting de ter organização e coesão defensiva exemplares (regresso de Coates é importante), paciência, foco e uma eficácia assassina - à alemã - no aproveitamento das oportunidades que conseguir criar. E sorte, claro. Ainda assim, pensem que tudo isto pode não chegar…
 

Leonardo Jardim fez a festa no Al Hilal


JARDIM CAMPEÃO, FALTA ABEL 

LEONARDO JARDIM juntou-se ontem à elite de treinadores portugueses que foram campeões continentais ao vencer a Champions asiática à frente do saudita Al Hilal, antigo clube de Jesus. A jogar em casa (Riade), o Al Hilal bateu na final o sul-coreano Pohang Steelers por 2-0, com um golo do ex-portista Marega e com o ex-leão Matheus Pereira no onze titular (Carrillo e Vietto não foram a jogo). Os treinadores portugueses têm agora vitórias nas quatro Champions de referência: além de Jardim na Ásia, temos José Mourinho (FC Porto e Inter), e Artur Jorge (FC Porto) na Europa; Manuel José (Al Ahly) quatro vezes em África; e Jesus (Flamengo) e Abel Ferreira (Palmeiras) na América do Sul (Libertadores). Só falta a Champions da Concacaf (Pedro Caixinha foi finalista vencido com o Santos Laguna).
… e atenção que há outro português a caminho da glória continental! Basta que o Palmeiras vença o Flamengo de Renato Gaúcho na final da Taça dos Libertadores, sábado que vem no velho e majestoso Estádio Centenário em Montevideu, onde uma vez (há muitos anos) vi o Uruguai de Francescoli ganhar uma final da Copa América ao Brasil de Zagallo. Se isso acontecer - todos esperamos que sim! - Abel Ferreira torna-se bicampeão sul-americano e faz história ao ganhar a sua segunda Liberta no mesmo ano (!), já que a 30 janeiro passado venceu a final da edição de 2020 noutro monumento do futebol mundial, o estádio Maracanã no Rio de Janeiro, perante 5 mil espectadores (a pandemia estava no auge). Então, a vitima foi o Santos de Alexi Stivali ‘Cuca’, batido com um golo do avançado Breno Lopes (entrado aos 85’) ao minuto 90+9’ (!). Espero que Renato Gaúcho, brutalmente goleado pelo Flamengo de Jesus no Maracanã (0-5, 23 de outubro de 2019) na meia-final da Libertadores de 2019 (Renato era então treinador do Grémio), volte a sentir na pele a sagacidade tática dos treinadores portugueses, já que no papel o Flamengo parece melhor apetrechado. Para o treinador do Palmeiras seria a coroação de um percurso fenomenal na Libertadores. O meu desejo é que Renato, no domingo, engrosse a lista das vítimas do Abel na Champions sul-americana - Miguel Angel Zahzu (Delfin), Gustavo Vasquez (Libertad), Marcelo Gallardo (River), ‘Cuca’ (Santos), Gustavo Poyet (Univ. Católica), Hernan Crespo (São Paulo) e novamente ‘Cuca’ (Atl. Mineiro).