Liga Portuguesa de Futebol Profissional - a minha visão…
Temos de ter a noção de que para conseguirmos potencializar as receitas da nossa liga é obrigatório criarmos um produto atrativo
A LPFP foi inicialmente criada com o objetivo de organizar as competições profissionais de futebol. Com o passar dos anos, e com a evolução cavalgante desta indústria, foi entregue à LPFP um papel mais ativo. Assim, a missão da LPFP passa por criar um produto apelativo e com valor. Como ex-jogador profissional de futebol, economista e alguém que trabalha na área de gestão de ativos, tenho um olhar diferente sobre a forma como a Liga deve influenciar e definir o caminho a seguir.
CONDICIONANTE
A dimensão económica portuguesa não é comparável com nenhuma dos países que constituem as ligas Big 5. Portugal tem uma população menor e consequentemente um mercado interno muito mais reduzido, com um tecido empresarial composto maioritariamente por pequenas e médias empresas, o que cria desde logo, menor capacidade de obter receitas internamente. Por esse motivo, dizemos com frequência que se as empresas portuguesas querem crescer terão de se tornar exportadoras. Esta é uma realidade que está bem presente na estratégia dos clubes portugueses, que têm necessidade de vender ativos para suportar a sua atividade. A LPFP não será uma exceção. Numa altura em que se debate a centralização dos direitos de TV e se o bolo, em conjunto, é maior do que a soma que os clubes apresentam, de forma individual, torna-se fundamental perceber que só iremos conseguir crescer em receitas pelo exterior, embora o mercado interno seja fundamental para tornar o produto mais apelativo.
BASE PARA POTENCIAR
O futebol português é reconhecidamente valorizado no exterior. Temos uma enorme base de sucesso composta por jogadores (portugueses e estrangeiros) e treinadores, que saem de Portugal e se impõe de uma forma natural nos melhores campeonatos e nas melhores equipas do mundo. O reconhecimento do trabalho e da capacidade dos protagonistas é bem visível nos valores pelos quais os clubes portugueses efetuam as vendas dos seus ativos, sendo este um fator de credibilidade e um selo de qualidade, que poucos países têm.
LIGA NÃO É UM PRODUTO
ANALISANDO a evolução da principal Liga portuguesa, percebemos que o desenvolvimento, reconhecimento e o interesse não acompanharam a explosão de jogadores e treinadores portugueses. Para podermos evoluir, esta é a primeira questão que devemos colocar: porque é que isto acontece? Existem vários motivos que justificam este facto. O motivo principal, e que influencia tudo o resto, é que nós não temos uma liga unida, mas sim um conjunto de equipas que jogam entre si. Numa liga organizada e com um pensamento conjunto, todos contribuem para o seu crescimento, através de um conjunto de regras predefinido e, sobretudo, de uma preocupação em defender um produto, que acabam por tirar benefício. Poucos são os clubes que conseguem chamar, de uma forma consistente, público aos seus estádios (Benfica, FC Porto, Sporting, Vitoria e SC Braga). Muitos preferem cobrar bilhetes elevados a baixar o preço e ter uma massa humana maior e mais assídua, que lhes permita potenciar as receitas de outra forma (publicidade).
Outro ponto fundamental é que não temos o controlo do rumo que seguimos. Quem transmite os jogos é que define as regras, porque paga. Mas será que isto faz sentido? Ter jogos às 21 h ou às 20 h, no inverno ou em dias de semana, em estádios que por si só não têm grandes condições, é uma forma de valorizar o nosso produto? Tendo em conta os horários tardios, em que se realizam muitos dos jogos e aos quais a maioria dos mais jovens não consegue assistir, como é que os clubes conseguem promover uma aproximação à sua região? Aqui surge outra questão à qual não temos estado atentos. Não foi só o futebol que evoluiu. A sociedade também o fez. Para podermos atingir os nossos objetivos e atrairmos o máximo de público possível, temos de ter a noção que os mais novos alteraram os seus comportamentos e hábitos de consumo. É muito importante perceber este fenómeno e ir ao encontro da evolução do consumidor. Alguns clubes em Portugal já têm esta perceção e têm criado todo um espetáculo em torno do jogo de futebol. Com isto, originam uma maior fidelização dos espectadores e valorizam a sua marca. Estes são os exemplos que devem ser seguidos por todos, inclusivamente pela LPFP.
PRINCIPAL CATALISADOR DA LPFP
T ER estádios cheios ou com molduras humanas consideráveis deveria ser o objetivo de todos os clubes e do organizador das competições. Cada clube tem a sua particularidade, mas deveria ser elaborado um plano conjunto para que fosse possível atingir o fim pretendido: criar no público o hábito de ir ao futebol e rotinas que permitam ter os estádios cheios. Assim, o espetáculo passaria a ser muito mais atrativo, muito mais intenso e motivador para todos. Acredito, inclusivamente, que a qualidade do futebol praticado iria ser superior devido a toda essa envolvência.
Se juntarmos a credibilidade que o nosso futebol tem no exterior, com jogos de futebol com bancadas cheias e emoção, o nosso produto ganhará valor a todos os níveis: na captação de investidores, de parceiros e até no incremento de argumentos para atrair talentos que tão bem sabemos trabalhar.
ALTERAÇÃO DE PARADIGMA
A O longo dos últimos anos, verifico a falta de muitas mudanças estruturais na forma de trabalhar da LPFP. Vejo sim, maior preocupação com a sua imagem, com a forma como comunica e como pretende valorizar-se. É verdade que a LPFP tem tido uma boa capacidade de organização de eventos, como por exemplo a Final Four da Taça da Liga ou o evento Thinking Football. Ainda assim, muito mais do que um organizador de eventos, a LPFP deverá ter um papel mais ativo e prático na construção de um futebol diferente. Em vez de se preocupar em criar pós-graduações (deixando esses papeis para as universidades), deveria alertar e realçar a importância do desenvolvimento de certas áreas fundamentais nos clubes que são seus associados. Deveria também preocupar-se, de uma forma independente, em zelar pela transparência, respeito, fair play, rigor e disciplina financeira, permitindo que o futebol possa ser um exemplo para a restante sociedade. Para se ter sucesso no futebol (ao contrário de muitas outras áreas), não basta parecer, é preciso ser. Esta deveria ser a máxima a ser seguida pela LPFP. A indústria do futebol tem crescido e evoluído muito nos últimos anos, exigindo novas competências e skills a todos e, sobretudo, aos que têm menos capacidade financeira. Não podemos e não devemos continuar a perder tempo. Temos de ter a noção de que para conseguirmos potencializar as receitas da nossa Liga, é obrigatório criarmos um produto atrativo. Utilizando e adaptando uma frase muito usual no mundo futebolístico, o único sítio onde dinheiro e sucesso está à frente de trabalho é no dicionário…
A VALORIZAR
Gonçalo Ramos — Numa semana voltou a deixar a sua marca com mais 3 golos, 2 no dérbi e um nos Açores. Para aqueles que ainda questionam a sua capacidade, aqui fica mais uma resposta. Ao longo da época já leva 22 golos (Benfica + Seleção) em 32 jogos e sem marcar penáltis!
A DESVALORIZAR
Juventus — Em função de irregularidades financeiras nas transferências de jogadores, a Juventus foi penalizada com a perda de 15 pontos e os dirigentes foram suspensos entre 8 meses e dois anos e meio. A evolução do futebol necessita de melhores práticas e, em Itália, as autoridades dão o exemplo.