Lei da rolha

OPINIÃO02.09.202206:30

A resposta não pode ser dada só do prisma dos jornalistas enquanto potenciais arguidos

MAIS valia à jornalista Rita Latas ter perguntado a Amorim no flash interview algo como: «Em vez de avançar Coates para a frente e com a ausência de Paulinho, não teria sido útil manter Slimani? Já agora, o que diz sobre os recentes comentários do argelino?» Teria cumprido assim o requisito da alínea a) do n.º 1 do artigo 91.º do Regulamento de Competições da Liga. Este caso levanta questões que merecem ser escrutinadas. Mas, respeitosamente, houve exagero em alguns comentários por parte de vários quadrantes e criou-se avalanche perigosa que extravasou aquilo que devia ser a essencialidade do tópico: faz ou não sentido os jornalistas desportivos serem considerados agentes desportivos (alínea b) do n.º 1 do artigo 4.º) para efeitos do Regulamento Disciplinar (RD) da Liga? A resposta não pode ser dada só do prisma dos jornalistas enquanto potenciais arguidos (pela prática de eventual irregularidade disciplinar) mas, também, do plano em que os mesmos constituem potenciais ofendidos (por poderem ser alvo de eventuais irregularidades). Se não estiverem ao abrigo do RD, não seria possível punir disciplinarmente jogadores, treinadores, dirigentes, clubes e adeptos que pratiquem atos contra os jornalistas. A agressão do empresário Pedro Pinho a um jornalista só seria alvo de queixa-crime (perante o MP) e não haveria suspensão desportiva. Por outro lado, é relevante o facto dos jornalistas desportivos executarem o seu serviço de forma exclusiva dentro e fora do «recinto desportivo» e diretamente com os agentes mais relevantes (jogadores, treinadores e dirigentes). Já quanto ao processo disciplinar contra Rita Latas, persiste absurdo que aqui se critica há muito e que o Governo e a Lei assim permitem: os clubes redigem os regulamentos na Liga e deviam ser proibidos de o fazer. É ridículo pensar-se sequer em punir a Rita com multa através da norma genérica do 141.º do RD («inobservância de outros deveres») só porque não podia fazer a pergunta ali mas só na sala de conferências!