Judas há vários; Elsa há só uma!

OPINIÃO16.06.201802:11

Hoje escrevo esta crónica nos Caminhos de Santiago de Compostela. Ainda o ano passado havia decidido fazer esta caminhada perante a possibilidade que me foi oferecida pela Orden de Peregrinos del Camino de Santiago. Uma caminhada que eu sabia ser por caminhos difíceis, muitos de pedras, que sabia ser entre 11 e 21 de Junho de 2018, mas que não me passava pela cabeça ir coincidir com a maior e mais grave crise da história do Sporting Clube de Portugal. Quase 112 anos de história que não mereciam esta página negra - um ambiente de terror desencadeado por um acto de terrorismo!


Mas antes das pedras do caminho e da caminhada, até uma pedra num rim me provocou uma cólica renal, cujas dores incomensuráveis me conseguiram fazer esquecer as dores de alma que me provocaram as rescisões da véspera !


Na verdade, quando chegava a Madrid, e , designadamente, fazia o check-up no hotel, recebi chamadas da TVI e da SIC que me pediam uma reacção às rescisões que acabavam de ocorrer e de que eu não tinha ainda conhecimento porque vinha no avião!


Eu, como a esmagadora maioria dos sportinguistas, sabíamos que elas podiam acontecer, com ou sem razão. Mas todos tínhamos uma esperança interior que houvesse um rebate de consciência por parte dos membros do Conselho Directivo que os conduzisse à única solução que poderia evitar a catástrofe que está a ocorrer na SAD. Por isso, reagi com estrondo, perante a estupefação das pessoas que se encontravam no hall do hotel: criminosos. Referia-me obviamente aos membros do Conselho Directivo que se agarram «às cadeiras do poder» - agora já não consigo encontrar outra explicação - e, por omissão da única atitude digna desse nome, levam o clube para uma catástrofe sem precedentes. «Orgulhosamente sós», como tantas vezes afirmou o ditador Salazar!


Não consigo perceber como certas pessoas, contra as quais nada tinha, antes pelo contrário, respeitava e confiava, são capazes de assistir impávidos e serenos à destruição  de uma SAD, construída para honrar o futebol do Sporting. E se podia admitir que era convicção deles a obrigação de permanecer no mandato para que foram eleitos pela esmagadora maioria dos sócios votantes, a constituição de uma Comissão Transitória da Mesa da Assembleia Geral e uma Comissão de Fiscalização veio demonstrar não haver boa fé por parte deles, antes se querendo manter no poder a todo o custo, com violação dos estatutos, criando órgãos como quem cria galinhas num aviário!


Na verdade, criaram essa Comissão Transitória da Mesa da Assembleia Geral, cujo o único mérito foi a escolha de Judas para a ela presidir. Nunca um nome terá sido tão apropriado ao lugar que   passou a desempenhar na história do Sporting. Elsa Judas, de cognome a intrusa, porque outra coisa não fez pelo Sporting que não fosse ter-se intrometido, apenas por uns minutos de fama na televisão! Dir-lhe-ei, para além do que já lhe disse, e que foi mais do que merecia, de que o preto lhe fica bem, aliás a condizer com este tempo negro que se vive no Sporting! A sua imagem condiz com este tempo de terror!...


Tive ocasião de acompanhar no meu Ipad a conferência de imprensa da Elsa e do Trindade, mantendo-se oculto o terceiro membro, já que um quarto não fará parte da mesa, embora indispensável porque a bisca ou a sueca se jogam a quatro. Durante essa conferência de imprensa, aliás assim chamada generosamente pela mesma imprensa, não percebi se me apetecia chorar ou rir. Chorar pelo mal que estão, em cumplicidade com o Conselho Directivo e a denominada comissão de fiscalização, a fazer ao Sporting!


Rir, porque, na realidade, parecia estar a assistir a um quadro de revista, não com dois actores, mas com dois artistas, designadamente dois fadistas, cuja desgarrada foi mal ensaiada e desafinada. O tempo, porém, não é de rir!...


Judas - o outro  e mais conhecido - escolheu a figueira para se redimir da traição a Jesus. Quanto a Elsa, o verde das folhas da figueira não se ajustam à sua figura sinistra de transitoriedade. Antes ficará na história entre papoilas saltitantes, com ou sem a voz de fundo de Luís Piçarra .
Quanto ao presidente da comissão de fiscalização designado pelo Presidente do Conselho Directivo, se o seu passado merecia alguma condescendência, o seu presente não merece mais que do! Todos eles, ao fim e ao cabo, são cúmplices da mesma causa: destruir a SAD do Sporting Clube de Portugal. Como se tivessem sido eleitos para esta missão de que parecem orgulhar-se!


Na caminhada de que hoje vos dou conta, as pedras do caminho pouco importam ou causam dores. São as pedras que me vão na alma, ou melhor, os remorsos que pesam na alma por ter confiado!...


Quinta e sexta foram dias de esperança porque todos assistimos a legalidade a impor-se.


É tempo de Bruno Carvalho e seus companheiros porem, de uma vez por todas, a mão na consciência. O Sporting precisa de futuro e tem de por termo ao presente rapidamente!


Gostaria aqui de fazer um apelo aos jogadores que rescindiram com o Sporting, invocando justa causa. Do ponto de vista jurídico não estou seguro da sua razão, mas isso pouco me importa, porque uma sentença poderá dar muito dinheiro, mas não me devolverá os jogadores de que gostamos. É do ponto de vista moral que os questiono: será justo punir a massa associativa do clube que os formou ou bem os recebeu? Espero que ponderem bem, seja no período legal para o fazerem, seja depois, porque a gratidão ou ingratidão não tem prazos!


Aqui em Espanha, incluindo os meus companheiros de Caminho, comenta-se muito o caso, e, inclusivamente, condenam quem se quer aproveitar da situação. Acham que nenhum clube deve ter a indignidade de o fazer, a não ser que, apesar de tudo, os sócios quisessem manter este Conselho Directivo. Porque então sim, seria a instituição a culpada, seríamos nós que  teríamos de nos sentir culpados de todas as tragédias! Mas precisamos de um tempo de compreensão e justiça, que nem sempre coincidem!


A Justiça deu os primeiros sinais. Haja compreensão! E espero que compreendam também a minha revolta durante um caminho que deveria ser apenas de paz e amor!


«Lopete...gada»

Como disse, o caso do Sporting comenta-se em Espanha. Agora interrompido pelo caso do despedimento de Lopetegui. Se calhar sem justa causa, mas por uma causa justa: a dignidade.


Ainda não falei com nenhum espanhol, inclusivamente apaixonados do Real Madrid, que não condenassem Florentino Pérez pelo seu comportamento inqualificável. Foi de uma arrogância e de um desrespeito pelo povo espanhol que ama a sua selecção. E também um dono disto tudo, à semelhança de outros que temos no nosso país, seja no mundo dos negócios, seja no desporto. Sabemos os nomes e hão de pagar! E julgo que Florentino irá provar do fel que a sua decisão provocou.


Lopetegui, na minha opinião, vai sair mal disto tudo, porque não creio que dure muito tempo no Real Madrid. Se calhar a ele também pouco importa, porque para ele o ser treinador é apenas uma fonte de rendimento, independentemente de ele resultar de um contrato de trabalho ou da sua rescisão.


Finalmente, os espanhóis acham - e eu também - que a única pessoa que se portou bem nesta situação foi o Presidente da Real Federação Espanhola de de Futebol. O despedimento imediato de Lopetegui mostra uma grande coragem e uma grande honra e dignidade. Porque o futebol é assim: se a Espanha tiver maus resultados, todos, ou quase todos, cairão em cima dele. Pelo seu gesto, se Portugal não ganhar o Mundial, que seja a Espanha, pois será a vitória da moral e da dignidade!

Meia bola de ouro...

‘Hat trick’ de Ronaldo, num Portugal-Espanha para um Mundial não é para todos, mas apenas para o melhor do mundo. Portugal não jogou muito; a Espanha, em minha opinião, jogou melhor, mas Ronaldo e português. Vi o jogo com um amigo português, no meio de mais de meia centena de espanhóis e espanholas. Só queria que vissem a cara de terror e o silêncio que se fez quando Ronaldo se preparava para o terceiro da salvação. Eu quando vejo aquele respirar e olhar de Ronaldo não tenho dúvidas de que ele vai marcar. E Ronaldo marcou e deu um passo para nova bola de ouro. Para já, metade!