Jorge Jesus entre a Gávea e o Seixal

OPINIÃO13.07.202004:00

Na semana em que o FC Porto deve festejar o 29.º título nacional da sua história, o Benfica, para evitar a depressão, precisa de dar sinais, a sócios e adeptos, de que está a trabalhar de olhos postos no futuro, concluindo a magna questão do novo treinador.

A novela brasileira vai longa (até a Globo já noticiou uma reunião entre Jorge Jesus e o presidente do Flamengo que não aconteceu…) e a cada dia que passa aumentam as dúvidas sobre a capacidade de Luís Filipe Vieira convencer Jesus a trocar a Gávea pelo Seixal, e sobre qual a vontade que Jorge Jesus realmente tem de voltar à Luz.

Tentemos ser absolutamente claros: no Flamengo, Jesus goza de um prestígio incomensurável e tem o clube a dançar de acordo com a música que ele toca. O que diz é lei, tem plantel para garantir-lhe pelo menos a liderança interna, mantendo boas perspetivas na Libertadores e vive como gosta, idolatrado. Se vier para o Benfica, as coisas não serão exatamente assim. Em primeiro lugar, vai ter de reconquistar uma boa parte dos adeptos do Benfica, que não lhe perdoaram ainda algumas coisas que disse, no calor da luta, nos primeiros tempos de leão ao peito, e que caíram mal no universo encarnado. Depois, precisa de garantias de Vieira de que disporá de um plantel que lhe permita sonhar com uma presença europeia prestigiante. Para JJ, que já venceu três campeonatos no Benfica, não será apenas a conquista de uma Liga de escassa visibilidade externa que vai motivá-lo, nesta fase da carreira. Já sonhar com a possibilidade de poder lutar de igual para igual com os melhores clubes da Europa, é coisa diferente. E para isso, mais do que de promessas, precisa de garantias.

O que devolve a bola ao campo de Luís Filipe Vieira.

E Vieira? Do ponto de vista do presidente, que tem eleições um mês depois de saber-se se o Benfica ingressou na fase de grupo da Liga dos Campeões, trazer de volta Jorge Jesus representa um salto de fé enorme. Porque os riscos inerentes à contratação de Jesus são maiores do que aqueles associados a qualquer outro treinador de prestígio, Unai Emery, Marco Silva ou Leonardo Jardim, por exemplo. Luís Filipe Vieira, que nunca é imediatista nas decisões, tem em mãos um problema que só existe porque no passado recente o Benfica colocou o projeto desportivo atrás do projeto financeiro...