Jesus e o orgulho
Orgulho, o mais poderoso dos estados emocionais. Pelo orgulho se mata, orgulho se tem de quem nasce, porque se parece connosco. Leva-nos a extremos de pecado e redenção. É tão vital que o projetamos em grupos que nos identificam, bairro, clube, país, diluindo-nos. Orgulhamo-nos dos outros. Também assim somos conduzidos a limites, violência, festa.
O futebol é catalisador perfeito desse estado, porque nele a violência e a festa se confundem. Festejamos violentamente. Festejamos contra.
Jesus, um treinador a influir de forma rara neste espaço. Na discussão de um regresso ao Benfica, o clube, o grupo no qual os indivíduos se projetam, surge ele próprio numa capacidade individual, agitando-se com o que de primário traz a referida emoção: pecado ou redenção, vício ou virtude. É difícil perceber a que corresponde esse eventual regresso, se a um, se a outro lado.
Jesus configura um pecado de orgulho no Benfica, pela forma como Filipe Vieira violentará o que indiciou antes, que o mérito das coisas não era do treinador, que aquele recusara beber da poção da juventude do Benfica europeu. No pesar da derrota, o clube esquece isto, envergonha-se, pede a Jesus que volte.
Há ainda, pelo outro ângulo, o básico orgulho do regresso, de ter um treinador ainda mais celebrado agora. O lado bom, esse, a redenção, o nascimento, a capacidade de nascer, ou renascer.
Será o contrário? Será no tal passo atrás, na vergonha, na humildade, que está a virtude? Será no desejo ávido de garantir resultados que fica a vaidade?
Neste diagnóstico moral, nunca compreendemos onde começam e acabam os lados, o quanto se sobrepõem.
Filósofos e escritores relacionam outro conceito, identidade. Essa, num Benfica com Jesus, será perturbada, pois uns benfiquistas sentem o orgulho bom, outros sofrem o mau. Dilema: se orgulhos se multiplicam, a identidade divide-se.