Jamor das despedidas
FOI muito feio o final do clássico no Dragão, decidido com um golo lindo mas possivelmente irregular do mexicano Herrera. Antes, o lateral Borja fora possivelmente mal expulso, assim como houve entradas de Militão e Felipe possivelmente merecedoras de castigos mais severos. O sururu de que resultou a expulsão de Corona (e não de Acuña, possivelmente o alvo marcado) era possivelmente merecedor de mais cartões vermelhos, mas o árbitro possivelmente achou que era demasiado insistir na cor que, por essa altura, já tomava conta das ruas do país. Enfim. Espero muito sinceramente que a final do Jamor decorra noutros moldes e que o árbitro e o VAR designados estejam à altura do acontecimento. Chateia-me escrever isto porque nunca vejo o futebol de olho nas nomeações e nos perfis (digamos assim) arbitrais, mas depois do que se viu nesta época temos muitas e boas razões para presumir que o futebol que se joga e cozinha nos bastidores continua a ter um peso muito assinalável na competição.
Pelos sinais emitidos nos últimos tempos percebe-se que o FCP chega ao Jamor muito mais nervoso que o SCP, e não somente pelo facto de serem os leões, de há uns anos para cá, habituais verdugos dos portistas em jogos decisivos: ganharam as últimas cinco finais e as duas meias-finais da época passada. Mas creio que, mais do que esse astral negativo com o Sporting, é a perda do campeonato para o Benfica aquilo que mais mossa está a causar no orgulho portista e até a escamotear aquilo que me parece uma evidência: a época portista esteve muito longe de ser uma desgraça. O FC Porto fez 85 pontos no campeonato (há um ano ganhou com 88), chegou às finais das duas taças, ganhou a Supertaça e fez uma carreira esplêndida na Champions demonstrando, en passant, que continua a ser única equipa portuguesa com verdadeira dimensão internacional. Qual é o drama então? O drama é que Sérgio não contava com aquela impressionante 2.ª volta do Benfica de Lage. Da mesma maneira, sejamos honestos, que Rui Vitória (na Luz) não contava com aquele impressionante míssil de Hector Herrera no último minuto… e muito menos Jorge Jesus (no Dragão) com aquele pontapé-bambúrrio de Kelvin caído do céu ao minuto 90+2. O futebol não é coisa de ciência certa. Também é feito de coisas inesperadas, por vezes muito inesperadas - certo, Barcelona?
O holandês Marcel Keizer, muito mais tranquilo que Conceição, pode sair do Jamor com um segundo título no bolso no ano em que era suposto o Sporting tentar apenas reerguer-se depois do caos que viveu no pós-Academia. O último treinador leonino a terminar a época com duas conquistas (2002) chamava-se Laszlo Boloni e tinha na equipa Jardel, João V. Pinto, Pedro Barbosa, Sá Pinto, Quaresma, Paulo Bento, André Cruz, Hugo Viana, Beto, Rodrigo Tello, até Ronaldo… parece-me claro que este Sporting não está tão bem apetrechado, mas nunca se deve descurar o fator emocional numa final de Taça. A determinação dos leões, liderados pelo melhor futebolista português a jogar em Portugal - Bruno Fernandes -, de exorcizarem o trauma da final perdida (da maneira que se sabe) para o Aves há um ano pode causar um final de época terrivelmente amargo a Sérgio Conceição. Se assim for, espero que o FCP saiba encaixar a derrota e não vire as costas ao vencedor como fez em Braga. O mesmo se espera dos sportinguistas se forem os portistas a festejar numa final onde, possivelmente, veremos pela última vez em Portugal duas mãos cheias de belíssimos profissionais: Bruno Fernandes, Acuña, Bast Dost, Mathieu, Maxi, Herrera, Militão, Felipe, Brahimi, Alex Telles, Marega.