Impressionante (r)evolução!

OPINIÃO22.12.202105:30

O Sporting tem crescido de forma fulminante e sustentada com Rúben Amorim, homem do ano: passou de ‘eterno’ terceiro a campeão

A PARENTEMENTE não há, a nível doméstico, quem consiga levar o campeão ao tapete. Em Barcelos, apesar de algumas e inesperadas contrariedades (todas fazendo parte do sortilégio do jogo, atenção), como a inesperada auto expulsão de Neto e um novo penálti desperdiçado por Pedro Gonçalves, o Sporting acabou por abafar o combativo e organizado Gil Vicente com uma inequívoca demonstração de força e poderio na segunda parte. Mais uma. A vitória, já de si expressiva, podia ter sido bem mais dilatada não fosse a incrível falta de pontaria de Pote. Exatamente como acontecera na noite do sabonete na Luz, (como este jornal titulou em primeira página), o Sporting fez das (aparentes) fraquezas, forças, e não se deixou intimidar por prognósticos sombrios. Como se recordam, entrou no relvado do Benfica sem dois dos seus jogadores mais influentes (capitão Coates e Palhinha) e cedo perdeu outro jogador titularíssimo (Feddal), ainda por cima na defesa. Nunca se deu por isso. Os leões, cheios de vontade e sem pinga de temor, subjugaram os velhos rivais com um show de organização, estampa atlética e eficiência germânica, mostrando estarem muito melhor organizados e mentalmente mais preparados que o rival para as exigências do jogo.
Em Barcelos, outro cenário de contrariedades ultrapassado com autoridade de campeão. Numa noite marcada por expulsões e pela necessidade de corrigir rapidamente linhas e estratégias, a equipa do Sporting e o seu treinador, Rúben Amorim (lesto a sacrificar o craque Sarabia em nome de um equilíbrio defensivo que para ele é inegociável) voltaram a responder positivo ao teste. Num jogo em que o campeão terá ganho mais um jovem jogador para a causa - o miúdo (17 anos) Gonçalo Esteves fez uma jogatana na segunda parte e parecia ter vindo diretamente da seleção Argentina de 1978 (os mais velhos percebem o que quero dizer). Na Luz tinha sido o miúdo Manuel Ugarte (20 anos, substituto de Palhinha) a passar o teste com distinção, ridicularizando o que vaticinei n’A BOLA TV: que o impetuoso médio uruguaio seria expulso (segundo amarelo) por volta dos 25 minutos. Como estava enganado! Foi dos melhores…
Ainda em Barcelos, o Sporting fixou a sua melhor sequência de vitórias seguidas em competições domésticas neste século. O máximo era de Jorge Jesus, com 13 triunfos consecutivos entre o final da época de 2015/2016 (9) e o inicio de 2016/2017 (4). Rúben Amorim ultrapassou-o. Já vai em 14 e hoje pode somar a 15.ª seguida (!) perante o Casa Pia, em jogo da Taça de Portugal. É óbvio que a estrutura dirigente do Sporting tem gente que sabe o que faz - caso contrário o clube não estaria a recuperar como está -, mas a evolução impressionante do futebol tem a cara de Rúben Amorim, a meu ver a personalidade desportiva do ano - sem rival. Com ele os leões passaram, num ai, de eternos terceiros a campeões personalizados e autoritários, queimando etapas que normalmente levam algum tempo a ultrapassar. Além dos três troféus conquistados em 2021 (Campeonato, Taça da Liga e Supertaça), Amorim apresenta números estratosféricos como treinador dos leões: 45 vitórias e apenas três derrotas em 60 jogos de campeonato (percentagem de êxito: 75%). 59 vitórias e oito derrotas em 79 jogos oficiais com o Sporting (percentagem de êxito: 74,6%). E uma invencibilidade doméstica impressionante em Alvalade, com 35 jogos sem derrota e 23 clean sheet pelo meio (apenas Linz e Ajax venceram ali jogos europeus).
Ninguém sabe qual é o limite de Amorim. O que vejo cada vez mais, e isso é muito significativo, é o desejo expresso por benfiquistas e portistas de verem Rúben pelas costas, quer dizer, numa liga big five. Percebo a inquietação, mas permitam-me que discorde. Era muito bom para o macrocéfalo e desequilibrado futebol português que Amorim e Varandas completassem o projeto que têm em mãos e que visa transformar os leões numa potência capaz de disputar o título todos os anos, desfazendo de vez o entediante duopólio dos clubes do sistema, FC Porto e Benfica, habituados há muitos anos a repartirem títulos, receitas e protagonismo em traficâncias várias. Só tenho pena que não haja mais Amorins em Braga, Guimarães, Funchal, Coimbra, Faro. Competitividade é o santo e senha de qualquer competição que pretenda ser atraente para adeptos e investidores. O regresso de um Sporting forte, competitivo e autoritário é uma bênção para os que não veem o futebol com as lentes (sempre pequenitas) da clubite.
 

 


UM PELO CAMINHO

F C PORTO-BENFICA no Dragão, oitavos de final da Taça. Ponto assente: haja o que houver um dos dois fica pelo caminho. Um clássico inevitavelmente marcado pelo mais recente dos muitos psicodramas que têm abalado a vida do Benfica. Falo do interesse do Flamengo em Jorge Jesus e do circo surrealista que tem vindo a ser montado em torno dessa putativa démarche com enredo de novela bera. Mete egos despeitados, contas antigas por acertar e muitos cálculos. Veremos se esta novela de mau gosto não fragiliza a equipa de futebol em véspera de dois jogos tão importantes com o FCP. E veremos se não fragiliza de forma irreversível a posição de Jesus para o resto da temporada.  
O duelo tem uma originalidade - adjuntos Vítor Bruno e João de Deus no banco - e a promessa de muitos golos, dada a eficácia de ambos na última jornada. O que perder amanhã fica a lamber feridas até ao clássico de 29 para o campeonato. O vencedor ganha embalagem para esse importante jogo que, não sendo decisivo, é mais importante para Jorge Jesus do que para Sérgio Conceição: é que em caso de derrota, o Benfica fica a sete pontos do rival nortenho, uma distância considerável embora não irrecuperável (como Sérgio bem sabe).