Hegemonia no futebol português: há um Porto por restaurar
Parece só haver espaço para duas grandes potências no futebol português, sobretudo a nível de Champions. O FC Porto corre, nesta altura, riscos de perder um dos lugares para o Sporting
Quanto mais o tempo passa e Portugal perde peso na Europa, mais cresce a noção de que só há lugar para duas grandes potências de cada vez no futebol nacional. São as que chegam (ou podem chegar) à UEFA Champions League, e assim cavar fosso ainda maior sobre todos os outros.
Claro que, por cá, haverá sempre lugar para as três grandes e históricas potências. Convenhamos também que SC Braga e Vitória de Guimarães se aproximam delas, mas isso, no fundo, é apenas para consumo interno (e ainda bem que esta intromissão existe).
O futebol português viveu sempre ciclos mais ou menos hegemónicos de um dos grandes, e em cada um desses ciclos tem havido um grande rival a disputar essa hegemonia. O terceiro vai aparecendo, entra nas contas, ganha uma coisa aqui e outra ali. Vejamos: Sporting nos anos 40 e 50 (com Benfica a underdog); Benfica nos anos 60 e 70 (com Sporting atrás); FC Porto nos anos 80, 90 e início dos 2000 (praticamente só com Benfica a pisar verdadeiramente os calcanhares e uns títulos avulsos de Sporting e até Boavista).
Na entrada da terceira década do século 21, o Sporting conseguiu dois títulos e almeja o terceiro. Ninguém sabe, hoje, se o vai conquistar, mas se não conseguir ele vai cair para o Benfica, que em boa verdade foi sempre uma das duas grandes potências reinantes, e continuará a ser por maioria de razão: é o clube mais popular, logo mais rentável sob qualquer ponto de vista.
Depois dos jogos deste fim de semana, temos de aceitar que, qualquer que seja o campeão e o vencedor da Taça, os títulos ficarão bem entregues. E são disputados entre Benfica e Sporting. Esta é a grande diferença para os anos mais recentes do futebol português.
O FC Porto passa por período de grande transformação. Dificilmente ela não seria atribulada, após décadas de afirmação sob o comando de um homem que foi derrotado nas urnas e pouco tempo depois morreu. Mas o FC Porto está na verdadeira encruzilhada, e qualquer decisão errada pode custar a perda do comboio dos dois da frente.
Este ano e o anterior, em que a luta final do título foi entre Benfica e Sporting, podem ser conjunturais. Se começarem a repetir-se, isso significará um reacerto na geografia do futebol português, com os dois rivais da capital a disputarem a tal hegemonia. O FC Porto sabe o que lhe custou chegar aos anos 80. Mas o Sporting também não quer voltar atrás...