Golfe e Trump

OPINIÃO27.04.201904:00

Sempre achei o golfe um desporto elitista até porque objetivamente o é. Obriga a equipamento mais caro, implica mais tempo e espaço e não tem acesso fácil para as crianças. Há ainda a subjetividade de estar associado a um mundo empresarial abastado que o usa como palco de negócios, aproveitando o ambiente bucólico e a duração das partidas para acertar interesses comuns - li na revista Golf Operator que 90% dos CEO da lista Fortune 500 jogam golfe.


Eu nunca joguei e por isso me incomoda esta minha opinião que, aliás, constato já no segundo parágrafo ser simplista. Afinal, se há dezenas de milhões de pessoas que jogam golfe não são todas decerto CEO de empresas. Ademais o golfe pode transmitir emoções tão populares como qualquer outro desporto, como sobreveio há dias com o comemorado regresso de Tiger Woods às vitórias nas grandes provas, uma daquelas histórias que vale o mesmo no futebol ou no golfe. É, como qualquer desporto, o golfe igualmente revelador do caráter do praticante e nisso tem compreensão universal e, enfim, não tão elitista como possa aparentar num primeiro parágrafo.


Rick Reilly, premiado jornalista americano, escreveu este mês Commander in cheat, how golf explains Trump, título que alude ao commander-in-chief dos EUA, portanto o presidente e comandante-chefe das forças armadas.


«Dizer que Trump faz batota no golfe é como dizer que Phelps nada. Faz batota de alto nível, quando as pessoas não estão a ver e quando estão a ver, seja com um desconhecido ou com Tiger Woods. Se jogares com ele, ele fará batota!», acusa Reilly no referido livro, no qual conta histórias de jogos do presidente americano, procurando traçar ligações entre o estilo de jogo de Trump e o que dele o autor considera como pessoa. O golfe, veja-se mais uma vez, pode ser ainda mais pessoal e próximo quando se conhecem melhor os jogadores. O suposto elitismo é sempre um desconhecimento.