Gato por lebre e lebre por gato

OPINIÃO12.08.201805:01

Algo vai mal na comunicação do Benfica. Quando Luís Filipe Vieira sugere que os jornalistas falem com Jonas para saber qual a posição dele relativamente à sua eventual saída para a Arábia Saudita ou à proposta de renovação de contrato com os encarnados e o clube não deixa que a comunicação social fale com o brasileiro, está tudo explicado. Ou o presidente falou demasiado ou o departamento de comunicação manda mais do que o líder encarnado. Ambas as leituras parecem, porém, incorretas. A verdade é que, naquele momento, Vieira sabia que podia dizer tudo sem ser contrariado por Jonas. O que não deixa de ser uma (leve) ditadura. É tentar vender gato por lebre.

Algo vai mal no scouting do Everton. O Barcelona contratou, em janeiro, o colombiano Yerry Mina por 11,8 milhões de euros. O defesa realizou, de janeiro a maio, apenas seis jogos pelos catalães. Agora o Everton contratou Mina por 30 milhões de euros. Talvez os três golos apontados, todos de cabeça, pelo colombiano na fase final do Mundial-2018 tenham influenciado a sua compra pela equipa de Marco Silva. Mas há duas teses mais interessantes. Os olheiros do Everton andavam distraídos ou os financeiros do Barcelona são extraordinários. Talvez os blaugrana tenham comprado lebre por gato. Ou vendido gato por lebre.

Algo parece ir mal na análise a um jogo em que uma equipa marca cinco golos com o avançado a bisar e o melhor em campo até pode ser um dos médios mais recuados. Mas é essa a ideia que se pode retirar do FC Porto-Chaves. Aboubakar marcou dois golos oportuníssimos, Otávio, Brahimi e até os laterais Maxi Pereira e Alex Telles deram nas vistas. Porém, se olharmos ao pormenor o jogo do Dragão, encontramos alguém que brilhou bem alto e que se tornou, nos últimos meses, num pêndulo do FC Porto: Sérgio Oliveira. O camisola 27 do FC Porto já é, desde pelo menos o início de 2018, o melhor médio português na posição 6 ou 8. Não é William, não é (claramente) João Moutinho, nem sequer são Adrien, João Mário, André Gomes ou Manuel Fernandes. E Bruno Fernandes é mais do que 8. O futuro meiocampo da Seleção Nacional passará, decerto, por Sérgio Oliveira + Bruno Fernandes + dois. E não estamos a vender gatos por lebres.

Algo parece ir mal quando logo em agosto ficamos com a sensação de que falta algo no futebol português. E falta. O discurso de Jorge Jesus pode ser (e é) por vezes anacrónico e impercetível, mas faz falta. E, de novo, ninguém está a vender gato por lebre.