Fevereiro quente
1 - Fechou o mercado de Inverno. Bruno Fernandes foi, finalmente, transferido para o melhor campeonato do mundo e pode ajudar o seu novo clube Manchester United a sair da zona cinzenta em que se colocou depois da reforma de Sir Alex Ferguson. A grande novidade das transferências teve o seu epicentro no Minho. Sporting de Braga e Vitória Sport Clube derrubaram o muro dos pequenos e médios negócios e alcançaram valores de venda bem compensadores. No primeiro caso, com um jogador que muito promete, Trincão, que ainda cheguei a pensar que ingressaria no Benfica. Um montante de 31 milhões que o Barcelona vai pagar por ele, que, ao que li, vai ter no clube catalão uma cláusula de rescisão fantasiosa de … 500 milhões! Em Guimarães, e por 18 milhões, salta para o Bayer Leverkusen, o jovem de 20 anos Tapsoba, natural do Burkina Faso, ultrapassando largamente a então inesperadíssima transferência de Bebé, há 10 anos, para o Man United por 9 milhões, onde pouco jogou, passando ainda pelo Benfica e estando agora no Rayo Vallecano. Mas, as surpresas não ficam por aqui: o Leixões detentor de 25% do passe do burquinense (que jogou nos juniores da equipa de Matosinhos) receberá a sua quota-parte de 4,5 milhões, certamente o maior pecúlio da história do clube.
Quanto aos grandes, não houve surpresas na meta final. Ou talvez sim. Falava-se em saídas no FC Porto, mas nada se concretizou. No Sporting terá, aparentemente, falhado o recrutamento de um novo ponta-de-lança, depois da ausência forçada de Luiz Phellype. Regressa, pela enésima vez, um jovem promissor adiado, Francisco Geraldes. O esloveno Sporar traz currículo de muitos golos, ainda que em campeonatos pouco competitivos, que, pelos vistos, não atraíram equipas financeiras poderosas. Pode ser uma boa surpresa para a equipa leonina. Finalmente, o Benfica. Julien Weigl, em boa hora chegado à Luz, é um magnífico reforço que pegou de estaca. Tem todas as boas características de um jogador alemão já bem rodado: sereno, lúcido, disciplinado tacticamente, rigoroso, raramente cometendo erros. Pode não dar nas vistas pela exuberância, mas, como é habitual em jogadores germânicos, faz muito e bem, sem quase se dar por isso. Vai ser um caso sério no nosso campeonato. Ainda hoje me questiono, como jogando na Bundesliga e no Borussia Dortmund, decidiu aceitar vir para Portugal. Foi corajoso e percebeu que o Benfica tem todas as condições para valorizar os seus atletas. A vinda por um ano de Dyego Sousa é também uma boa notícia, porquanto importa salvaguardar eventuais lesões ou castigos dos dois actuais avançados e o Benfica fê-lo com um atleta que não precisa de se adaptar ao futebol português, onde jogou parte significativa da sua carreira, e que até traz ao plantel características que Vinícius e Seferovic não transportam.
Pena foi que, afinal, não tenha ingressado na equipa um guarda-redes com o estatuto de primeiro suplente do excelente Vlachodimos. Não creio que, quer Zlobin, quer Svilar, dêem, por agora, a segurança para poder defender a baliza em jogos a doer, por mais esforçados e bons profissionais que sejam. A propósito deste assunto e porque hoje se joga a primeira meia-final da Taça de Portugal contra o valoroso Famalicão, devo referir que discordo da regra de mudar de guarda-redes entre o campeonato e as taças, situação que se vem transformando numa quase obrigatória regra, por cá e no estrangeiro. Até a percebo quando a distância entre o titular e o primeiro suplente é ínfima, havendo, pois, a necessidade de dar tempo de jogo a qualquer um deles. Quando tal não acontece, o risco da mudança é maior, sem que daí advenham grandes benefícios futuros (por exemplo, no caso do Benfica, é por demais claro que nenhum dos suplentes irá um dia ser titular, até se falando, algumas vezes, na sua saída, ainda que por empréstimo). Além disso, quando se fazem mudanças destas, não é só o guardião que é diferente, é também o sector mais recuado que não tem, evidentemente, a melhor rotina de interligação com o guarda-redes.
Finalmente, e ainda quanto ao Benfica, duas palavras bem opostas: uma de gratidão, outra de repúdio. No primeiro caso, refiro-me ao sérvio Fejsa que foi emprestado ao Alavés da Liga espanhola, para poder continuar a jogar, situação que, no contexto actual do SLB, seria muito difícil. Fejsa foi um jogador decisivo em muitos jogos, um atleta que, sem regatear esforços, enchia o campo com a sua capacidade de previsão dos lances e a sabedoria da percepção do futebol como um desporto primacialmente associativo. Sendo um dos atletas mais titulados do plantel encarnado, sempre foi discreto, nunca fez ondas nem teve birras tão frequentes no futebol. Não me lembro de que tenha dado entrevistas e muito menos se tenha queixado do azar de lesões que o atormentaram ou de ter passado de titular seguríssimo para segunda, terceira ou quarta escolha. Como benfiquista, sinto o dever de lhe expressar uma enorme gratidão.
Já a segunda nota é de sinal contrário. Refiro-me a um jovem que veio dos Balcãs, com o rótulo de grande promessa, ainda que já, na altura, premonitória mente com problemas no seu anterior clube, o Partizan de Belgrado. Nos três anos e meio que leva no Benfica, percebe-se que é um jogador tecnicamente evoluído, ainda que, na minha opinião, lento, sobretudo para jogar nas alas. Teve um período de boa prestação com Rui Vitória quando este o transformou no substituto do lesionado Krovinovic. Gradualmente, foi perdendo protagonismo com Bruno Lage e hoje está desaparecido, nem sequer aproveitando algumas oportunidades que lhe foram dadas, entrando sempre com um estilo de diletante ou de quem está a fazer um frete. Ganha principescamente em regime de escada salarial directamente proporcional à estadia no clube e inversamente proporcional ao seu desempenho. Desconfio que, nos treinos, não seja muito diferente. Tem o pai como seu empresário, algo só possível no futebol, num tandem em que um diz mata e o outro diz esfola em termos do dinheirinho sem trabalho. O Benfica bem quer empurrá-lo para a porta de saída, mas qual quê, pensarão pai e filho. A cidade de Lisboa é bonita, tem boa comida e bons divertimentos, o trabalho é pouco, o dinheiro é muito. Suspeito que o Benfica vai ter de lhe pagar até ao último dia do contrato deste jogador-lapa de 23 (!) anos que, por esse mundo fora, já se sabe que não é de fiar. Esta saga constitui um ensinamento para situações à partida suspeitas, como, de início, foi já visível.
Enfim, dois sérvios. Um perto do fim da carreira, outro ainda no princípio da mesma. Fejsa categoricamente exemplar. Zivkovic lamentavelmente não exemplar. Talvez venha a pagar com juros o caminho ínvio que escolheu.
2 - Na frente do campeonato nada de novo. Benfica e Porto venceram, como seria normal. O Benfica numa das suas menos conseguidas exibições, diante de um Belenenses transfigurado desde que trocou um boy por Petit. Na Luz, os minutos finais foram enervantes, após uma invenção de penálti confirmada (!) pelo VAR Oliveira que conseguiu ver o que não existiu. Assim, se atingiu a melhor série de vitórias consecutivas depois do feito quase inigualável do Benfica de Jimmy Hagan.
O Porto cumpriu o bom fim sempre que joga em Setúbal (onde não perde há 37 anos!) diante de uma equipa que, subitamente, virou equipa medíocre depois de um par de jogos bem conseguidos. Os vitorianos continuam uns cordeirinhos sempre dispostos a ser imolados diante do FCP e até para a gestão do quinto amarelo de portistas foram generosos.
No sábado, entre o campeão e o vice-campeão, joga-se na amplitude pontual de distância classificativa entre 4 e 10 pontos, na mesma semana em que a amplitude da dificuldade dos jogos da Taça de Portugal vai entre o 4.º classificado da 1.ª Divisão (Famalicão) e o 9.º da 2.ª Divisão (Académico de Viseu). Uma partida mais decisiva para o FCP, a quem só a vitória interessa. Mesmo assim, espero que o Benfica não jogue para o empate porque, como é costume no futebol, arrisca-se a perder. Até sábado, serão produzidas e multiplicadas exponencialmente antevisões do clássico que servem para entreter o povo do futebol sem nada adiantarem, como é bom de ver. E teremos as habituais conferências de imprensa que também não nos ditarão o resultado. Bem como a panóplia estatística que se vai gerar na antevisão do jogo e do caminho para o fim do campeonato que também nada garante quanto ao desfecho. Eu, simplesmente, não faço prognósticos. Apenas sei dizer formular um desejo: que ganhe o meu Benfica.