FC Porto: o dragão bicéfalo

OPINIÃO16.02.202507:00

SAD do FC Porto tem a cabeça nos planos financeiro e desportivo, mas só o primeiro corre às mil maravilhas. A equipa tarda em responder à cultura de vitória do clube...

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Há um sentimento de descrença no universo azul e branco com os resultados confrangedores obtidos pela equipa principal do FC Porto, aliados a exibições medíocres, contexto irreal para um dragão habituado a estar sempre na mó de cima, com desempenhos meritórios, tanto no plano nacional como internacional. Já se perspetivava uma temporada difícil para os dragões na era pós-Pinto da Costa e André Villas-Boas sabia-o de antemão, procurando, dentro das possibilidades financeiras com que se deparou, formar um plantel competitivo, capaz de ombrear com os rivais Benfica e Sporting na luta pelo título nacional.

A época até começou com vitórias prometedoras, tanto na Supertaça Cândido de Oliveira como na própria liga portuguesa, mas com o passar do tempo foi possível constatar que o FC Porto não tem, nem de perto nem de longe, matéria-prima como outrora e ficou amplamente mais fraco com as saídas de Pepe, Taremi, Evanilson, Francisco Conceição e, mais recentemente, de Nico González e Galeno.

Se nos gabinetes da SAD tudo corre dentro do planeado, com o saneamento financeiro a ser feito de forma célere, no campo desportivo, vital para que as desassossegadas hostes azuis e brancas tenham novamente paz, sucede precisamente o contrário. A equipa de Martín Anselmi tarda em se reencontrar, a irregularidade dos resultados e das exibições persiste e a paciência dos adeptos começa a esgotar-se, pois no FC Porto a cultura de vitória padronizada por José Maria Pedroto e Pinto da Costa está enraizada há mais de quatro décadas.

O plantel não consegue, muito por falta de alguma qualidade dos seus executantes, acompanhar a retoma feita pelo homem que ousou destronar Pinto da Costa do cadeirão presidencial. Vítor Bruno, friamente, não foi uma aposta certeira do novo líder azul e branco, surgindo agora Martín Anselmi como homem capaz de levar o barco a bom porto.

O argentino tem carisma, nota-se que é um estudioso, mas se continuar sem ganhar perderá rapidamente a aura que criou junto dos portistas. E tem já pela frente duas autênticas finais, este domingo em Faro e na quinta-feira no Olímpico de Roma. Mas o tempo urge e o treinador é obrigado a vencer no imediato. É um dragão com duas cabeças, uma financeira, onde tudo corre bem, a desportiva nem por isso...