Eu vi ou então sonhei!...
É o antepenúltimo verso do Fado do Cacilheiro que eu ouvi cantar ao José Viana, a encerrar a rábula que este representou, e a que assisti, em 1966, no Teatro Variedades, na revista à portuguesa intitulada Zero, Zero, Zé - Ordem p’ra pagar!
Mas nestes dias de histórias da carochinha, rábulas sem graça ou cenas tristes eu vi, ou então sonhei, uma conversa no café entre dois homens, adeptos do Sporting, sobre rescisões, indemnizações, contratações e recontratações, reestruturações, confusões, comissões e lamentações, aldrabões e outros .... ões!
Dizia um, com ar indignado perante o semblante atónito do outro, em continuação de algo que vinha de trás e a que eu não assisti, pois acabara de me sentar: «Sim, meu caro, eu não tenho dúvidas sobre o sportinguismo do Podence ou do Rafael Leão. Foram-se embora e pronto. Esqueceram-se da sua formação e não se preocuparam com mais nada. Assim é que é, não chatearam e aguardam agora pelas últimas consequências, que ainda ninguém sabe quais são! Pena sim tenho do Rúben Ribeiro, um jogador extraordinário vindo das camadas veteranas do Rio Ave, com larga margem de progressão!...»
«Então e do Rui Patrício não tiveste pena?» - perguntou o de rosto atónito, ainda mais atónito que anteriormente.
«Sim, alguma. Mas vendo bem as coisas, não temos dinheiro para jogadores de Selecção Nacional e, ainda por cima, ainda arranjou algum. Aliás, como o William Carvalho e o Gelson Martins, que também ainda pagaram algum para não irem até às últimas consequências. E o Gelson Martins então é de realçar ainda mais, pois não satisfeito com a ida a custo zero para o Atlético Madrid foi para o Mónaco, dando possibilidade àquele de repartir o negócio generosamente com Sporting, e, não satisfeitos, ainda se livrou do Vietto!»
«Mas, o Vietto...», disse o simpatizante atónito.
«O Vietto sim, vais ver que vai marcar mais golos que os pontos que o Bas Dost levou na cabeça»!...
Menos atónito, perguntou então o que colocara a injusta adversativa ao Vietto: «Mas se estás tão satisfeito com as consequências desportivas e financeiras dos acontecimentos de Alcochete, porque andas com esse ar tão indignado e mesmo revoltado?»
Ainda mais indignado, e quase colérico, disse: «Desculpa que te diga, mas és burro! Então o melhor jogador português das últimas épocas e um dos melhores marcadores que passou pelo clube não se vão embora, e tu queres que eu ande bem-disposto?»
«Mas o Bruno Fernandes e o Bas Dost rescindiram e regressaram, e agora queres vê-los pela porta fora», retorquiu o outro, de novo estupefacto!
Quase perdendo as estribeiras, disse irritado: «Isso foram dois disparates do Sousa Cintra, que há que resolver de qualquer maneira. O outro - a contratação do Peseiro - ainda foi, felizmente, emendado, com o seu despedimento, o interlúdio do Tiago Fernandes e a contratação do conhecido treinador holandês Marcel Keizer. Julgavam que o Sporting não tinha dinheiro, mas para mostrar que quem não tem dinheiro, não tem vícios, despediram o Peseiro e pagaram, ou estão a pagar, a indemnização! Valentes!»
E acrescentou ainda: «Aliás, estive para não apoiar o agora presidente porque ele apregoava que com ele era mais fácil o regresso dos jogadores que haviam rescindido e dizia que o Peseiro era o seu treinador. Felizmente que mandou o Peseiro às malvas e agora quer não o regresso, mas o ingresso, de algum dinheiro para as despesas correntes.»
Perante o tom agressivo do seu interlocutor, abandonou o seu ar atónito, e perguntou receoso: «Mas se o Sporting não pode manter os seus melhores jogadores, como vamos competir nacional e internacionalmente com os nossos rivais?»
«Não sei nem me interessa», disse o outro, encostando o seu rosto ao do outro, numa atitude ameaçadora de que passaria à agressão física. «Há várias soluções, seu animal: negociar a dívida e o namimg!»
«Mas» - disse o outro, desviando a cara para evitar um possível murro, com a resposta - «se nos desvalorizamos desportivamente, como podemos rentabilizar os nossos activos e património, aumentando as receitas?»
«Seu ignorante, seu idiota, o que queres é destabilizar», ameaçando de novo o interlocutor com o punho cerrado! «O nome do Estádio passará a ser José das ... iscas!»
Nesta altura, tremendo de medo, o atónito fugiu enquanto o colérico espumava.
E eu?
Eu ouvi ou então sonhei
Que os braços do Cristo-Rei estavam a abraçar Lisboa
... e o Ronaldo ia chegar a Lisboa a... custo zero!...
Cristiano Ronaldo
FACTO importante a destacar esta semana foi a entrevista de Cristiano Ronaldo, em Turim, não em Lisboa, concedida ao jornalista Joaquim Sousa Martins, e que passou na televisão, no jornal da noite, da TVI.
Que diferença - são alguns anos - entre aquele miúdo tímido que chegou a Alvalade para fazer a sua formação e o homem feito e extrovertido que é o Cristiano Ronaldo depois de ter passado pelo Manchester United e pelo Real Madrid, e que agora está na Juventus - três dos maiores clubes do mundo.
Eu senti-me mais uma vez orgulhoso ao ver um homem e um atleta formado em Alvalade, discursando com sentimento e afectividade sobre a vida, a família e o futebol. Senti realmente a dimensão do meu clube, do tal clube que nasceu para ser um dos maiores da Europa e que sabe formar homens com carácter para além de grandes jogadores. Que contraste com os tempos que correm, onde a mesquinhez e o disparate vivem numa harmonia deprimente e ao mesmo tempo revoltante.
Espero estar vivo e assistir a uma entrevista de Cristiano Ronaldo como presidente do Sporting Clube de Portugal, o que espero, e desejo, venha um dia a acontecer!
Alexandre Soares dos Santos
SÁBADO passado já não fui a tempo de deixar aqui uma palavra de condolências pelo falecimento do conhecido empresário Alexandre Soares dos Santos. Sócio do Sporting Clube de Portugal que poderia ter sido, se assim o tivesse desejado, um bom presidente deste clube. Confesso que não tive grande, nem próximo, contacto com este prestigiado empresário, mas tinha uma grande admiração por ele. Homem de discurso fácil e fluído, que traduzia com clareza a sua enorme lucidez.
Como cidadão e sportinguista deixo aqui à sua família, e em particular aos seus filhos, os meus sentidos pêsames, votos de que que a sua alma descanse em paz e a certeza de que o País ficou mais pobre!